Prosperidade e Individualização

O Senhor Que Te Sara
22 min readMar 27, 2023

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Um dos erros mais comuns na abordagem das promessas de Deus contidas na sua aliança com Israel é assumir que Deus fez promessas “gerais” sobre o seu povo como um todo, mas que não necessariamente seriam cumpridas em cada indivíduo.

Isso é estranho, porque contraria toda a maneira como Deus define o “seu povo”. O argumento de Paulo em Romanos e em Gálatas é que o verdadeiro Israel, a verdadeira descendência de Abraão, é aquela descendência espiritual composta por todos os cristãos verdadeiros, não importando qual seja a sua ascendência natural. Então, quando Deus promete derramar as suas bênçãos pactuais sobre o seu povo, é a esses indivíduos que Deus está falando, e não à forma nacional de um povo definido por etnia. Por vezes demais, os teólogos falam sobre como Deus fez uma aliança com Israel como um Estado particular, como se houvesse uma entidade chamada Israel que fosse distinta dos indivíduos que a compõem. Isso não faz sentido nenhum. Na mente de Deus, o verdadeiro Israel é a soma dos indivíduos cristãos. Se um israelita ouvindo as palavras de Moisés fosse infiel a Deus, ele não seria contado como um israelita à vista de Deus e não estaria intitulado às bênçãos de Deus, mas apenas às maldições.

Além disso, como consequência da onisciência de Deus, Deus nunca pensa em um “povo” ou uma “nação” sem necessariamente pensar em todos os indivíduos que perfazem a soma. Na mente humana, coletivos aparecem como massas homogêneas; quando eu falo sobre “o povo brasileiro”, eu não consigo imaginar distintamente todos os mais de 200 milhões de brasileiros, porque o meu conhecimento é limitado ao conceito do coletivo e às poucas imagens mentais de brasileiros que tenho na memória. Mas Deus conhece todas as coisas. Nada aparece para ele como uma massa ou uma estatística. Ele possui conhecimento exaustivo sobre cada mínima partícula de toda a criação. Portanto, a promessa de Deus para o seu povo não pode ser uma promessa apenas para uma maioria nebulosa ou para uma generalidade, mas tem de ser para todo mundo que integra o seu povo.

No meu livro sobre cura, eu mencionei como esse erro é um dos mais basilares pressupostos dos intérpretes do livro de Provérbios. Quantas vezes você já leu comentários ou ouviu pregadores afirmando que os provérbios não são promessas, e sim constatações sobre o que geralmente acontece? Mas eles nunca oferecem uma justificativa bíblica para isso. Eles parecem aplicar o conceito de provérbio mundano, o “ditado popular”, para dentro do texto canônico. Mas a Bíblia é definida por si mesma, e não pelo mundo. Como Deus nunca mente e nunca erra, então tudo o que ele diz que deve acontecer necessariamente acontece. A posição oficial sobre os provérbios como “máximas gerais” é uma blasfêmia contra a inerrância e a infalibilidade da Escritura e, por consequência, contra a verdade de Deus. Aqueles que afirmam essa posição devem ser excomungados se não se arrependerem.

Imagine se eu aplicar o mesmo raciocínio para os mandamentos de Deus e começasse a dizer que, quando Deus diz “Não adulterarás”, é apenas um mandamento geral para a nação como um todo, mas que não precisa ser seguido por cada indivíduo. Se metade mais um dos cristãos não adulterar, o propósito do mandamento já estará satisfeito, e o restante deles pode adulterar tranquilamente. Parece loucura? Mas é isso que os teólogos mais fazem quando leem as promessas de Deus que estão além da dimensão microscópica da sua fé. Eles leem promessas sobre curas, milagres, prosperidade, vitória militar, família grande e dizem, “Mas isso não é para todos os cristãos, é apenas uma constatação do que pode acontecer com alguns cristãos”. É uma maneira muito conveniente de se eximir da responsabilidade por qualquer fracasso.

Observe novamente os textos que transcrevi da seção anterior. Deus pronuncia suas promessas usando termos que só podem se aplicar a indivíduos. Em Êxodo 23.26, ele diz “Na tua terra, não haverá mulher que aborte, nem estéril”. Ele não disse “A maioria”, “Quase todas”, ou “99% das mulheres serão férteis e saudáveis”. Se ele diz que “não haverá” quem aborte ou não seja fértil, então necessariamente todas as mulheres serão receptoras dessa bênção prometida. Se uma só mulher sofrer aborto espontâneo ou não conseguir gerar filhos, a promessa de “não haverá” será quebrada. Claro, a promessa de Deus é feita sob a condição de fé e obediência, de modo que as mulheres que não corresponderem às condições de Deus não terão direito à bênção. Mas dentro dos termos que Deus determinou, a promessa é infalível. Do mesmo modo, em Deuteronômio 28, Deus diz que benditos serão os frutos do nosso ventre, os nossos celeiros, os nossos instrumentos de cozinhar, a nossa entrada e a nossa saída. Quem vivencia essas coisas são indivíduos em suas vidas particulares. Não é como se Deus houvesse dito “Bendito será o PIB dessa nação teocrática”, ou “O índice de inflação médio será zero”, ou “Bendita será a taxa Selic”. Não, Deus diz coisas a respeito da nossa casa, da nossa cozinha, do nosso útero. Isso significa que a promessa é para você, não para uma estatística.

Deus promete prosperidade material e financeira na sua aliança, e essa promessa se cumpre nos indivíduos cristãos. Veremos agora alguns salmos que, por falarem a respeito de um “homem”, e não de um “povo”, reforçam essa perspectiva.

Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido (Sl 1.1–3).

O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam. Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre (Sl 23.1–6).

Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia; quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia (Sl 103.1–5).

Aleluia! Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor e se compraz nos seus mandamentos. A sua descendência será poderosa na terra; será abençoada a geração dos justos. Na sua casa há prosperidade e riqueza, e a sua justiça permanece para sempre. Ao justo, nasce luz nas trevas; ele é benigno, misericordioso e justo. Ditoso o homem que se compadece e empresta; ele defenderá a sua causa em juízo; não será jamais abalado; será tido em memória eterna. Não se atemoriza de más notícias; o seu coração é firme, confiante no Senhor. O seu coração, bem firmado, não teme, até ver cumprido, nos seus adversários, o seu desejo. Distribui, dá aos pobres; a sua justiça permanece para sempre, e o seu poder se exaltará em glória. O perverso vê isso e se enraivece; range os dentes e se consome; o desejo dos perversos perecerá (Sl 112.1–10).

Ele ergue do pó o desvalido e do monturo, o necessitado, para o assentar ao lado dos príncipes, sim, com os príncipes do seu povo. Faz que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe de filhos. Aleluia! (Sl 113.7–9).

Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios. Por amor dos meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti! Por amor da Casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o teu bem (Sl 122.6–9).

Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito por eles. Com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres. Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes (Sl 126.1–6).

Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem. Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão. Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta (Sl 127.1–5).

Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem. Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa. Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor! O Senhor te abençoe desde Sião, para que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel! (Sl 128–1–6).

A exposição de cada um desses salmos em particular iria tornar o capítulo muito extenso, por isso vou me limitar a descrever alguns padrões em comum.

Primeiro, é evidente que Deus promete prosperidade financeira e material nesses salmos. O Salmo 23 diz “nada me faltará”, e há aqueles que pensam que isso significa que o salmista não sentirá falta de nada, como se a bênção fosse apenas um ajuste psicológico à escassez. Isso é ridículo e denuncia o viés antiprosperidade do intérprete. Veja o versículo 5. O cálice do salmista transborda — ele tem muito mais do que pode conter. E ele banqueteia na presença dos seus inimigos. É claro que isso é prosperidade material. O Salmo 103 diz que Deus farta de bens a nossa velhice. Isso é muito mais do que uma aposentadoria pelo INSS. Deus nos torna realmente ricos quando somos velhos. O Salmo 112 diz que há prosperidade e riquezas na casa do homem que teme o Senhor. O Salmo 113 diz que Deus levanta o pobre e o faz assentar-se com príncipes — veja só que escalada na classe social. No Salmo 122, o autor afirma a prosperidade para todos os que amam Jerusalém. O Salmo 126 retrata a prosperidade nos termos da agricultura — ela pode demorar a vir, mas ela de fato virá na forma de uma abundância de alimentos. E no Salmo 128, o homem que teme o Senhor come do fruto do seu trabalho e se assenta na mesa com a sua família.

Não há como “espiritualizar” nada disso. Pense bem. Você sinceramente consegue confiar em um pregador que diz que a Bíblia não promete prosperidade, mas só promete “sofrimento” e “perseguição”? Não se deixe enganar. A maioria dos pregadores — com ou sem seminário — prova ser analfabeto de Bíblia quando faz declarações tão grosseiramente contrárias ao que a Bíblia ensina. É como se eles nunca houvessem lido.

Segundo, a bênção da prosperidade é atribuída à ação de Deus. O Salmo 1 termina dizendo “porque o Senhor recompensa o caminho dos justos” (Almeida 21). O Salmo 23 é inteiramente um retrato de Deus como um pastor, cuja “bondade e misericórdia certamente me seguirão”. O Salmo 103 é uma lista dos benefícios de Deus — “não te esqueças de nem um só”, razão pela qual o salmista começa declarando o louvor a Deus inclusive por fartar de bens a nossa velhice. O sujeito do Salmo 113 é Deus — ele é quem faz todas essas coisas, como tomar um pobre e elevá-lo à classe A. No Salmo 126, a transformação do choro em alegria é resultado de Deus haver restaurado a sorte do seu povo. No Salmo 127, Deus é quem dá aos seus enquanto eles dormem, e sem ele nenhuma ação humana tem qualquer eficácia. E o Salmo 128 termina com uma bênção do Senhor sobre esse homem justo.

Em vista de tudo isso, parece que Deus realmente quer ser associado com prosperidade. Ele está dizendo repetidamente e de várias formas diferentes que ele é o Deus que nos torna ricos. Ele quer ser lembrado, louvado e anunciado como o Deus da bênção material. Isso escandaliza você? Mas qual é a alternativa? Você diz “tudo para a glória de Deus” o tempo inteiro, mas se recusa a dar a Deus a glória de ser o único Poder no universo capaz de tornar alguém rico e o único Fiel a realmente executar isso conforme prometeu. Você quer circunscrever as bênçãos de Deus a efeitos espirituais e distanciá-lo do usufruto das bênçãos financeiras, mas isso só prova que você não acha realmente que Deus merece a glória por tudo. E qual é o problema, se Deus quer se revelar como o Deus que derrama prosperidade material e deseja ser buscado e louvado por isso? Você vai discordar dele? Você vai corrigi-lo? Vai dizer para ele ocultar esse assunto para não causar escândalos? Deus sempre soube que neopentecostais existiriam — ele mesmo decretou a existência deles desde antes da fundação do mundo — e mesmo assim ele julgou que seria sábio fazer essas promessas que estão na Escritura. Eu não sou louco de me escandalizar, mas a maioria dos reverendos é.

Terceiro, embora o aspecto financeiro esteja incluído, é patente que a bênção de prosperidade é extremamente abrangente. O Salmo 23 mostra que Deus nos leva à paz e à tranquilidade, não a depressões e angústias. Ele nos protege de todos os perigos quando andamos no vale da sombra da morte. Proteção física e psicológica são produtos do pastoreio de Deus, e isso não ocasionalmente ou geralmente, e sim “todos os dias da minha vida”. O Salmo 103 elenca entre os benefícios de Deus a cura de todas as enfermidades, o perdão dos pecados, uma vida coroada de glória e graça e uma velhice vigorosa como a mocidade. O Salmo 112 mostra que a bênção do poder está sobre esse homem — “o seu poder se exaltará em glória” — e na sua descendência, que será “poderosa na terra”. Ele tem poder suficiente para defender os mais fracos e para observar a destruição dos seus inimigos. Além disso, ele tem perfeita segurança psicológica — seu coração está bem firmado e ele não teme más notícias. (Hoje em dia, quantos cristãos são viciados em jornal porque não conseguem descansar se não souberem todas as notícias possíveis?) O Salmo 126 apresenta uma restauração completa de uma vida destruída para uma vida estruturada e abençoada, e os salmos 113 e 127 apresentam a fertilidade como uma bênção de Deus. O Salmo 128 indica uma família feliz, cheia de paz e harmonia, comendo juntos em uma mesa farta.

O Salmo 1 resume tudo isso em uma frase: “tudo o que ele fizer será bem-sucedido”, ou, como em outras versões, “tudo o que ele fizer prosperará”. A prosperidade vem em tudo. Ela envolve o ganho de riquezas, mas ela é muito mais ampla. O salmo diz que o homem justo tem sucesso em tudo o que se põe a fazer. Todas as suas atividades, todos os seus empreendimentos dão certo e rendem frutos. No seu trabalho, ele ganha proeminência e é bem pago. Ele educa os seus filhos e eles realmente se tornam fiéis a Deus. Ele cuida da sua esposa, e ela responde em crescimento espiritual, submissão e sabedoria na condução do lar. Qualquer atividade que ele tiver de fazer termina em sucesso.

Mas a ortodoxia oficial odeia isso. Tantos teólogos criticam como tendo “teologia rasa” as igrejas que proclamam “vitória” com frequência. A verdade é que nem a seita neopentecostal mais fanática fez mais do que arranhar a superfície do tom vitorioso que pervade as páginas da Escritura. A Bíblia grita vitória o tempo inteiro, e para todas as áreas da existência. Leia por si mesmo. É possível concluir outra coisa a partir desses salmos e de tantos outros que nem citei? Eles estão sempre declarando a vitória do homem justo na sua vida psicológica, espiritual, financeira e familiar. Dizem que isso é oferecer um “evangelho barato”. Mas é mais do que barato, é grátis, porque todo o preço das bênçãos pactuais de Deus foi pago pelo sacrifício expiatório de Jesus. Como Paulo disse, “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm 8.32). Como alguém pode achar que presta reverência a Deus retratando-o como se ele fosse relutante em entregar bênçãos materiais, depois de ele ter provado a sua extrema liberalidade ao nos dar o seu próprio Filho?

É frequente ouvirmos pregadores enfatizando o que Deus não prometeu. Mesmo antes de darem exemplos do que Deus não prometeu, apenas a ideia de que Deus não prometeu alguma coisa já parece estranha, porque ele mesmo disse “tudo o que ele fizer prosperará”, “tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei” (Jo 14.13), e muitas outras declarações semelhantes. Preste atenção na leitura da Bíblia. Em nenhum lugar a Escritura apresenta uma lista do que Deus não prometeu, como se os leitores precisassem dessa ênfase negativa. Antes, observamos incontáveis promessas que abarcam todas as áreas da vida, e nunca encontramos alguém que “esperou demais” de Deus e foi frustrado. O que vemos são condições nas quais as promessas de Deus se cumprem, razão pela qual, por exemplo, Deus nunca prometeu abençoar o ímpio, mas apenas amaldiçoá-lo. Porém, para aqueles que são fiéis e pedem com fé, não há nenhuma negação de Deus.8 Portanto, não existe sequer base bíblica para um pregador anunciar o que Deus não prometeu — se é que há algo.

O pior é que eles realmente dão exemplos do que Deus não prometeu. Então eles dizem que Deus nunca prometeu riquezas materiais. Muitos vão além e dizem que Deus nunca prometeu um casamento feliz, a fertilidade, filhos saudáveis e santos, ou mesmo a eliminação do sofrimento psicológico. No entanto, você acabou de ler nesses salmos, e pode conferir com muitas outras partes da Bíblia, que Deus prometeu sim todas essas coisas. Está explícito. Não cabe nenhuma divergência de interpretação. Tais teólogos estão MENTINDO para a igreja. E se eles mentem, logo são filhos do diabo, o pai da mentira.

Talvez você questione como então entender os salmos de sofrimento. É verdade que muitos salmos apresentam situações de angústia, doença e exílio. Mas preste atenção exatamente no que esses salmos dizem. Eles nunca fazem declarações universais do sofrimento. Eles nunca dizem algo como “O homem que teme ao Senhor sofrerá muito”. Nas raras vezes que o fazem, anexam uma promessa de livramento, como em:

Clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações. Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra (Sl 34.17–19).

Então, sim, o justo pode passar por muitas aflições, mas o Senhor irá livrá-lo de todas. Isso não é um convite à aceitação do sofrimento, e sim um encorajamento para vencê-lo. O mesmo salmo afirmou antes: “Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem. Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará” (v. 9–10). O salmo que admite que há sofrimento também declara o livramento e a prosperidade.

Além disso, os salmos de sofrimento apresentam a situação de dor como a experiência presente do salmista, e não como a decisão final de Deus para ele. Ele constata que está sofrendo, mas ele sempre pede por livramento. E quase todos esses salmos já encerram mudando o tom pesaroso do início para uma afirmação confiante na intervenção de Deus para mudar a situação. Isso é o oposto do que os defensores do “sofrimento” dizem. Eles romantizam o sofrimento até a medula, quase convencendo os ouvintes a gostarem de sofrer, porque de algum modo o sofrimento nos santifica. Eles pensam que é mais piedoso orar por forças para suportar o sofrimento do que para acabar com ele. Novamente, eles estão em conflito com o que a Bíblia ensina. A Escritura sempre apresenta o Deus que livra do sofrimento e concede graça e glória, nunca aquele que sempre faz você perder tudo para te ensinar a ser humilde ou algo assim.

Quarto, a promessa de prosperidade é condicionada à obediência a Deus. Isso já foi visto no capítulo anterior, mas os salmos reforçam isso para cada indivíduo. Deus promete “tudo o que ele fizer prosperará” ao homem que não se assenta na roda nos escarnecedores e tem o seu prazer na lei do Senhor, meditando dia e noite nela. O Salmo 23 diz que Deus “guia-me nas veredas da justiça”. O Salmo 103 menciona depois que Deus revelou os seus caminhos a Moisés, logo a recepção da lei de Deus é um benefício ao lado dos demais listados acima. O Salmo 112 e o 128 falam a respeito do homem que teme o Senhor e anda nos seus mandamentos, e há muitas qualificações morais principalmente no 112. Já o Salmo 127 anuncia a promessa de prosperidade ao homem que enche a sua casa de filhos.

Há uma razão pela qual tantos que se dizem cristãos e alardeiam as promessas de prosperidade não as alcançam. É porque eles não correspondem ao tipo de pessoa ao qual Deus fez a sua promessa. Se os teólogos tradicionais querem tanto fazer a sua apologética, deveriam mirar nisso. A questão não é se Deus fez promessas ou não, e sim para quem ele fez. Os carismáticos costumam ser dispensacionalistas e fazem da rejeição da lei de Deus um princípio hermenêutico. Os cessacionistas afirmam a continuidade da lei de Deus, mas também têm as suas maneiras de rejeitar muitos mandamentos, e ainda acrescentam uma tonelada de tradições humanas ao pacote. Ninguém que faz essas coisas pode ter esperança de receber as bênçãos de Deus.

A verdade é que os cristãos raramente são tão piedosos quanto querem se convencer de que são. É comum vermos cristãos dizendo, “Mas tal pessoa é um crente tão sério, e mesmo assim as coisas dão errado para ele”. Bem, como você sabe se essa pessoa é realmente tão “séria”? Foi apenas porque ela lhe disse? Apenas porque ela afirma algumas doutrinas bíblicas, porque ela faz orações fervorosas, porque ela se emociona no culto, porque ela conhece mil livros de teologia, porque ela mantém um exterior bem respeitável e humilde? Se ela é tão piedosa como você pensa, então realmente as bênçãos de Deus deveriam se cumprir na vida dela. Em quem você confia mais: no seu julgamento de como a pessoa realmente é, ou no que a Bíblia diz? Você não pode mudar o que a Bíblia diz apenas para preservar a opinião positiva que você tem sobre alguém. Claro, pessoas piedosas podem passar por muitos problemas, como o livro de Jó mostra, mas o Senhor as livra de todos. A convivência com os mesmos problemas crônicos por toda a vida denuncia que há algo errado sim com o indivíduo. Serei franco: uma coisa é ser perseguido por causa da justiça, mas eu ainda estou para ver um cristão que vive uma vida desgraçada — finanças ruins, casamento ruim, filhos ruins, saúde física e mental ruim — e que tenha feito tudo como Deus manda.

Veja o Salmo 127 de novo, apenas como um exemplo. Deus promete bem-aventurança ao homem que enche a sua casa de filhos. O texto diz que os filhos são herança do Senhor. Uma “herança” é um acréscimo, um bem patrimonial, um ativo em termos contábeis. Mas quase todos os cristãos desafiam a Escritura e retratam os filhos como gastos, despesas, dívidas. Assim, eles mostram que o seu pensamento está longe da Palavra de Deus e rejeitam para si mesmos a própria prosperidade que são os filhos, bem como aquela que vem com os filhos, que é a força diante dos adversários. Pais com muitos filhos são mais fortes do que aqueles com poucos filhos. É por isso que os cristãos hoje são patéticos e não têm impacto nenhum no mundo. Ao reduzir deliberadamente a quantidade de filhos, e por motivos que contrariam o que a própria Escritura diz sobre eles, é claro que eles não têm esperança alguma de receber bênçãos de Deus.

Quinto e último, esses salmos também apresentam a prosperidade do povo como um todo. O Salmo 122 diz “Sejam prósperos os que te amam” e depois “Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios”. O Salmo 126 apresenta atividades individuais, como semear, colher, chorar e rir, dentro do coletivo “Sião”. O Salmo 128 conclui com “Paz sobre Israel”. No Novo Testamento, temos a clareza de que Israel, Jerusalém e Sião referem-se não a povos étnicos ou locais geográficos específicos, e sim à verdadeira igreja redimida de Deus. Assim, a prosperidade da igreja é a prosperidade dos indivíduos cristãos — a “congregação dos justos”, conforme o Salmo 1. Isso significa que a perspectiva de Deus para a igreja como um todo é que ela seja próspera em todos os sentidos. Mais uma vez, a teologia derrotista dos teólogos mainstream é golpeada pela Escritura. A distinção entre “igreja militante” na terra e “igreja triunfante” no céu que tantos fazem, embora tenha algo de correto, está rotulada de modo errado, pois a igreja militante também é triunfante, já no presente.

Ainda sobre individualização, é importante verificar alguns exemplos históricos na Escritura. Os pregadores pró-sofrimento sempre aplicam para a nossa vida presente todas as instâncias de sofrimento dos personagens bíblicos. Mas quando precisam comentar as instâncias de prosperidade e vitória, eles espiritualizam, postergam para o céu ou dão uma interpretação apenas messiânica. Então, por exemplo, eles dizem que os apóstolos e os profetas foram perseguidos e mortos, ou que Davi fugiu de Saul, ou que Abraão foi um peregrino, ou que Jacó descreveu seus anos como poucos e sofridos. Tudo isso significa que a nossa vida tem de ser exatamente assim. Mas todos os contraexemplos não se aplicam! Genial.

Eu exporei posteriormente por que as perseguições não servem como argumento contra a prosperidade, e também o verdadeiro sentido da condição de peregrino de Abraão. Aqui, já chegando ao fim do espaço deste capítulo, vou pontuar brevemente as histórias de prosperidade material de indivíduos que são modelo para nós.

Abraão, após chegar em Canaã, tornou-se tão rico que o seu lote já não podia sustentar mais a riqueza dele e de seu sobrinho (Gn 13.1–7). Ele possuía 318 empregados, o suficiente para formar uma guerrilha (Gn 14.14). Depois que sua esposa morreu, ele comprou o espaço da sua sepultura (Gn 23), dando início à posse permanente daquela terra aos seus descendentes. Por algum motivo, aqueles que enfatizam tanto que Abraão era um peregrino não dão muita importância ao fato de que, mesmo tecnicamente estrangeiro, ele era muito rico e conseguiu comprar “ativos imobilizados” para o seu filho Isaque. Nota-se que, na parábola do rico e Lázaro que Jesus contou, quem repreendeu o rico foi Abraão — um homem muito mais rico — de modo que a parábola não pode ser usada para censurar a aquisição de riquezas.

Depois, Isaque multiplicou a sua riqueza na terra dos filisteus, de tal forma que estes se encheram de inveja e o expulsaram, e entulharam os poços que Abraão lhe deixou de herança. Ainda assim, Isaque reabriu os poços, restabeleceu sua moradia e continuou prosperando (Gn 26.12–25). Um exemplo compacto de como um cristão pode ser perseguido e ter prosperidade ao mesmo tempo. Quem lança uma coisa contra a outra é incompetente para ensinar as Escrituras.

Jacó, por ter sido eleito por Deus em detrimento de Esaú, tinha direito à maior parte da herança de Isaque. Mas, perseguido por Esaú, teve de fugir e andar errante, chegando a ter de usar uma pedra como travesseiro (Gn 28.11). Quando chegou à casa do seu tio e conseguiu trabalho, foi terrivelmente injustiçado. Primeiro, o tio prendeu Jacó por sete anos a mais do que haviam combinado, pois deu sua filha Lia, e não Raquel, como primeira esposa, de modo que Jacó precisou dobrar o tempo de serviço para casar-se com quem lhe fora prometida desde o início. Quando Jacó cumpriu o seu tempo, quis sair para cuidar da sua família como um homem livre. Seu tio, no entanto, não quis deixá-lo ir, por saber que Deus estava fazendo-o prosperar por causa de Jacó. Combinaram então um novo salário — e novamente, o tio Labão mudou o seu salário várias vezes para prejudicá-lo, sem sucesso. Apesar de todos esses truques de Labão, Deus abençoou Jacó e o tornou cada vez mais rico. No fim, ele ganhou apenas a inveja e o desfavor de seu tio e decidiu fugir (Gn 30.27–31.16). De volta à sua terra, como ele mesmo diz, “com apenas o meu cajado atravessei este Jordão; já agora sou dois bandos” (Gn 32.10). Deus fez Jacó prosperar mesmo sob condições de trabalho injustas e quase de escravidão. Perceba que mesmo um empregador mesquinho e aproveitador não pode impedir que Deus torne você rico.

José foi uma excelente ilustração do Salmo 1. Ele não tomava parte nas ações ímpias dos seus irmãos, antes os denunciava ao seu pai. Além disso, ele se manteve fiel à lei de Deus mesmo diante de tentações e pressões fortíssimas, fugindo da esposa do seu patrão. Ele foi vendido pelos seus irmãos, escravizado no Egito, lançado na prisão e depois esquecido pelo seu companheiro de prisão que saiu de lá. Mesmo assim, tudo o que ele fez prosperou: seu trabalho como escravo, seu trabalho como auxiliar do carcereiro e depois o seu trabalho como governante do Egito. Ele não apenas prosperou financeiramente e em poder, como também estendeu essa prosperidade com sabedoria para salvar o mundo da fome.

E quanto aos israelitas após o Êxodo? Eles despojaram os egípcios de tal forma que, mesmo após doarem todo o ouro e demais preciosidades para a construção do tabernáculo — sem falar do ouro que desperdiçaram quando fizeram o ídolo em forma de bezerro — ainda foram forçados a suspender as doações, porque havia muito mais do que o necessário (Ex 36.2–7). Além disso, Deus fez cair pão do céu diariamente por 40 anos, sem falhas, e providenciou para que as roupas e calçados permanecessem intactos por todo esse tempo. Isso é prosperidade milagrosa, especialmente para quem está no meio de um deserto.

Josué e Calebe foram os únicos que não se rebelaram contra Deus, por isso foram também os únicos da primeira geração que receberam herança na terra. Mesmo tendo de suportar mais 38 anos vagando no deserto, enfim foram recompensados por Deus. Josué liderou o povo, e Deus lhe disse o mesmo que aparece no Salmo 1 — tudo o que você fizer será bem-sucedido. E ele, mesmo idoso, teve a plena capacitação para governar o povo, levá-lo à vitória e enfim receber a sua parte na terra. Do mesmo modo, Calebe conquistou na força do braço a sua herança aos 85 anos, pois a sua mocidade se renovou como a da águia (Js 14.10–12; Sl 103.4–5; Is 40.29–31).

Davi era um pastor comum, caçula da família, mas foi chamado para servir ao rei e depois ele mesmo foi coroado rei. Deus, além da prosperidade que lhe deu, ainda afirma que lhe daria muito mais se ele pedisse. Quanto a Salomão, é necessário dizer algo? E Jabez, o homem cuja única informação que sabemos é da prosperidade que Deus lhe deu em resposta de oração? E quanto ao presbítero Gaio, a quem João saudou desejando “saúde e prosperidade” (3Jo 2)? Hoje em dia, se você saudar um cristão, especialmente se ele for cessacionista, fazendo votos de saúde e prosperidade para ele, é mais provável que ele responda “Arreda-te de mim, Satanás”.

Sim, Deus promete bem-aventurança, sucesso e prosperidade material, financeira, espiritual, psicológica, familiar e social aos cristãos que nele creem para isso e que cuidam do reino de Deus e da justiça em primeiro lugar. Esse testemunho da Escritura é inequívoco e nada explica o fracasso dos teólogos mais eruditos em perceber isso do que uma cegueira espiritual vinda das trevas.

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8 Se você está pensando no “espinho na carne”, já respondi a isso no meu livro sobre cura.

— Poder do Alto

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O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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