Tríade Cura
Gabriel Arauto
1. CURA: DEFINIÇÃO
A cura milagrosa é a restauração da saúde pelo poder de Deus mediante a fé. Ela pode se manifestar de outras maneiras, mas aqui vamos nos concentrar no caminho da fé. Por “saúde” quero dizer o funcionamento e a estrutura regulares de um organismo.
Se alguém tem olhos, mas não enxerga, seu organismo é completo, mas apresenta um mau funcionamento. Por outro lado, se uma pessoa sequer tem olhos, sua própria estrutura apresenta uma irregularidade. Ambos os casos necessitam de cura.
A cura é o poder de Deus se manifestando através da fé para consertar uma pessoa em seu corpo ou em sua mente. A cura torna o organismo operante e completo. Uma definição clara de cura nos tornará imunes às frases de efeito vazias dos falsos mestres, os quais se valem de trapaças semânticas
Um deles disse: “Sempre que orei para um cristão ser curado eu fui atendido, a maioria foi curada indo para o céu”. Note que essa definição de cura simplesmente não é bíblica. Cura não é quando sofrimento de um doente acaba de algum modo, é quando o sofrimento acaba porque Deus lhe deu saúde.
Não saúde do tipo “seu corpo foi destruído pela doença, tornou-se inabitável para a sua alma e ele foi empurrado para o céu à força na metade dos seus dias”. Não! Falo de uma saúde que faz o doente escapar da morte para cumprir os seus dias. Saúde que destrói os sintomas, não o enfermo.
Cura é fazer a pele de um leproso ficar limpa como a de um bebê. É dar a um cego a capacidade de enxergar perfeitamente. É colocar uma mulher encurvada na postura correta. É fazer um paralítico correr e saltar. É transformar a mulher estéril numa mãe de sete. É dar ao surdo ouvidos apurados e tornar o mudo eloquente. Quando oramos a Deus por cura, é isso que pedimos. Quando ele realmente nos responde, é isso que recebemos.
Segundo a definição bíblica de cura, o autor daquela fala é um grande fracasso. No entanto, em vez de reconhecer isso e tentar melhorar, ele brinca com a semântica, define a cura por conta própria e o resultado é que ele se torna um ministro de cura de sucesso, alguém que Deus sempre ouve.
Esse truque distorce a Bíblia e a realidade, enobrece os perdedores espirituais, obsta o aperfeiçoamento, ajuda a avançar heresias anticura e impede a clareza na oração e a manifestação da verdadeira cura. Podemos prevenir todos esses males apenas sustentando uma definição sólida de cura.
A cura é recebida pela fé. Não o tipo de fé que acredita que “tudo vai dar certo” sem qualquer fundamento, embora até isso possa ajudar o doente. O tipo de fé que força a cura a se manifestar na vida de alguém ou através de alguém é a fé no poder e na misericórdia de Deus. É crer que Deus pode e quer curar. A incredulidade é grave porque significa duvidar da capacidade e da misericórdia de Deus.
A revelação de Jesus Cristo como deus da cura fortaleceu a base para a fé. Quem é Jesus? Jesus é o Deus da cura em carne. O deus da cura governa a área da saúde, concedendo-a ou retendo-a segundo a sua vontade. O ministério de Jesus Cristo não encerrou as suas atividades. Ele continua vivo e ativo no mundo, curando os enfermos que recorrem a ele.
O sacrifício de Jesus Cristo dá uma nova dimensão à fé para cura. Por sua morte Jesus garantiu a cura para todo o seu povo. Ele redimiu os escolhidos da maldição da lei. Assim, a saúde é um direito cristão a ser recebido pela fé.
O necessitado pode receber cura apenas confiando no poder e na misericórdia de Deus. Se ele achar pouco, pode adicionar a isso a fé em Jesus como Deus da cura. E se quiser ser perfeito, pode combinar os três e crer também que o sacrifício de Jesus o redime de toda enfermidade.
BASE BÍBLICA: Mateus 8:1–17. 9:1–8. 9:18 a 10:8. Mateus 11:1–6. Isaías 53:4–5. Gálatas 3:13.
2. CURA: IMPEDIMENTOS
Os cristãos preferem pensar que já acreditam em cura, seu frequente fracasso nessa área e sua incapacidade de explicá-lo, no entanto, refutam tal suposição. Só porque as palavras “eu acredito em cura” saem voluntariamente da boca de alguém não significa que essa pessoa realmente acredita. Quando os resultados começam a aparecer e a cura é recebida e ministrada regularmente, aí é que podemos ter certeza.
Se uma pessoa pensa que acredita, mas as suas orações contra a doença não funcionam, ela está enganada. Ela confessa a cura da boca pra fora. Confessar sem fé a doutrina correta é melhor do que negá-la. É melhor porque embora a pessoa ainda não acredite, ela ao menos sabe em quê deve acreditar. Ela pelo menos deu um passo correto, enquanto aqueles que negam a doutrina nem começaram a acertar.
O próximo passo é adicionar fé a esse conhecimento. A doutrina já é conhecida, agora é preciso acreditar nela. Não devemos ficar satisfeitos com o entendimento correto, pois somente a verdadeira fé ajuda na hora da necessidade. Para crescer em fé é preciso aumentar a exposição à palavra de Deus, pois a fé vem pelo ouvir. Deve-se manter a mensagem sobre cura divina por perto, na nossa boca e no nosso coração, para confissão e meditação — é assim que a fé nasce e se desenvolve.
Mesmo alguém que geralmente experimenta sucesso pode cair em incredulidade e fracassar. Isso aconteceu com Ezequias, que depois de dois sucesso seguidos experimentou um fracasso. Aconteceu também com os apóstolos. Cada nova ameaça exige um novo exercício de fé. A fé para o problema de hoje não servirá para o problema de amanhã. Por isso precisamos desenvolver a medida de fé que recebemos na regeneração para que possamos ser socorridos em toda necessidade.
Algumas vezes a fé é impedida pela ignorância, mas no caso de um país cristão como o nosso, trata-se de um tipo muito específico de ignorância: Os cristãos não conhecem a doutrina da cura como ela é ensinada na Bíblia. Eles conhecem uma outra versão, criada pelo homem. Não uma doutrina que nos ajuda a experimentar mais cura, mas uma doutrina que explica porque é normal não estarmos experimentando tanta cura quanto os cristãos da Bíblia. Uma doutrina que transforma em hereges os homens e mulheres que foram bem-sucedidos em receber e ministrar cura.
Alguém que nunca foi apresentado a Jesus não tem um fundamento para sua incredulidade, mas uma pessoa que conheceu Jesus como aquele que quase nunca cura, essa pessoa tem uma base para a sua descrença. Ela foi teologicamente instruída contra a teologia da Bíblia. Ela foi blindada contra a verdade. O fundamento não é sólido, mas existe. Alguém nessa condição precisa se despojar de tudo o que aprendeu e conhecer a Jesus novamente, precisa reaprender a ler e a interpretar as Escrituras. Só depois dessa desintoxicação espiritual ela poderá crer e receber a cura.
Às vezes a cura demora a se manifestar, o que exige perseverança. Deus em pessoa prometeu dar um filho a Abraão, e mesmo Abraão tendo crido imediatamente, Isaque não foi concebido imediatamente. Só depois Abraão e sua esposa receberam saúde para conceber. Isaque teve que orar por sua esposa por quase vinte anos até que ela finalmente recebeu a cura. Somente a doutrina bíblica pode sustentar esse tipo de perseverança. Abraão e Isaque insistiram na expectativa e na oração porque sabiam que Deus faria um povo para si da descendência deles.
Nós sabemos muito mais. Sabemos que Deus sempre responde a oração da fé. Sabemos que Jesus é o Deus da cura. Sabemos que por sua morte o filho de Deus garantiu a cura milagrosa para todo o seu povo. Munidos desse tríplice fundamento podemos superar os patriarcas em perseverança. Temos muito mais razões para esperar em Deus e continuar orando se a cura não se manifestar imediatamente.
Alguns acham difícil acreditar que a cura milagrosa faça parte da experiência cristã regular, já que são tão poucos os cristãos que a experimentam. A isso respondo que há mais cristãos experimentando cura do que temos notícia. Se os jornais se preocupassem de noticiar cada alegação de cura na igreja, vocês veriam quantas vezes Deus visita o seu povo, mesmo na situação vergonhosa em que este se encontra. Além disso, quais das coisas divinas se manifestam frequentemente entre os cristãos da atualidade? A sabedoria é frequente? A justiça é? Nós temos “cristãos” que não conseguem nem ler a Bíblia diariamente! Há muitos impostores, essa é a explicação. Há muitos igrejados não convertidos.
Uma pessoa que vive em obediência a Deus tem menos chances de adoecer. Isso é o que eu chamo de cura prévia ou manutenção da saúde pela fé. As doenças nem sempre são causadas por um pecado específico, mas Deus muitas vezes castiga as pessoas com doenças por causa de algum pecado cometido por elas. Por isso todo doente deve fazer um autoexame para descobrir se contraíu a sua enfermidade por causa de algum pecado, para que possa confessá-lo e ser curado. Se a doença for causada por uma transgressão específica, toda fé do mundo não poderá livrar o doente até que o pecado seja perdoado.
BASE BÍBLICA: Romanos 10:14–17. Isaías 37–39. Mateus 17:14–21. Gênesis 15:6 e 21:1–5. Gênesis 25:19–26. João 9:1–3. Lucas 5:17–26. Deuteronômio 7:15. Tiago 5:14–16.
3. CURA: VANTAGENS
O desprezo pela cura se tornou intenso e frequente, especialmente entre os cristãos. Há pregadores que elogiam os supostos efeitos santificadores e reveladores das doenças mais horríveis. De acordo com eles, você se torna um crente mais maduro e aprende mais sobre Deus quando tem de suportar uma doença por toda a vida.
Esses pregadores também têm o costume de colocar a cura e o perdão dos pecados em oposição, para que a cura pareça uma benção ridícula em comparação. No entanto, Deus concede tanto a cura quanto o perdão, e o seu filho morreu para garantir tanto a cura quanto o perdão e como a justificação anula a base legal para a enfermidade, cura e perdão estão conectados.
Deus nos aperfeiçoa se revelando a nós, e ele se revela a nós por meio da sua palavra e dos seus atos salvadores. Ele também se revela por meio da disciplina, mas isso não precisa durar muito. Uma vez corrigidos somos novamente conduzidos à paz. O treinamento divino não é uma tortura vitalícia.
A cura é importante. Ela é crucial para tudo na vida. Não tenho espaço para abordar cada ponto de interesse, mas vou mencionar rapidamente como a cura divina afetaria positivamente as diversas áreas da vida.
A cura protege a felicidade no casamento. Quantas histórias de amor foram abortadas por uma doença que acamou um dos cônjuges e forçou o outro a se tornar um cuidador? É heróico manter os votos mesmo na doença, mas levantar a sua esposa do leito de enfermidade é cristão.
A cura serve para construção de uma descendência forte. É dever de todo casal produzir descendentes capazes de sujeitar a terra, e não se pode fazer isso sem saúde. Com a cura é possível tanto reverter a esterilidade dos pais quanto consertar as deficiências físicas e mentais dos filhos.
A cura serve para facilitar a prosperidade. Para escapar da pobreza é preciso trabalhar e não se pode trabalhar doente. Mesmo se o enfermo receber auxílios do governo, o dinheiro nunca será o bastante para compensar a enfermidade ou para enriquecê-lo como o trabalho o faria. Mesmo se estivermos falando de uma pessoa rica a prosperidade é afetada, pois dependendo da doença o tratamento pode ser uma fortuna.
A cura é importante para o ministério. Não se pode servir a Deus estando acamado, e mesmo se a doença em questão não é grave o bastante para interditar a pessoa, Deus seria melhor servido por um obreiro livre de sintomas. Se uma pessoa faz muito pra Deus com doença, faria ainda mais com saúde.
A cura é importante para a dignidade. A doença é uma aliada dos pregadores que adoram humilhar o homem, contudo, Deus não nos coroou de glória e de honra no princípio para permitirmos que satanás nos humilhe. Algumas doenças são especialmente degradantes, desfigurando o doente ou fazendo-o feder e se arrastar ou cair. A cura garante e restaura a dignidade preservando e restaurando a saúde.
A cura é importante para a longevidade com qualidade de vida. Uma pessoa pode viver muito mesmo sem cura, mas não viverá bem, e os seus últimos anos serão deprimentes e degradantes. A cura nos garante uma velhice boa e ativa.
BASE BÍBLICA: Ezequiel 37:13. Gênesis 21:1–6. Gênesis 25:21. Marcos 9:14–27. Marcos 5:25–34. Lucas 4:39. Lucas 1:24–25. Gênesis 18:14.
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O conceito de doença incurável faz sentido para os incrédulos porque quando eles pensam em cura pensam no que o homem pode fazer, e o homem não pode fazer muito.
A doença constitui um problema para a medicina, um problema tanto teórico quanto prático. Os médicos não sabem realmente como uma doença funciona ou como se livrar dela. Um exame atento dos sucessos e insucessos da medicina mostrará isso.
Mas Deus conhece cada caso de doença perfeitamente, e ele tem o poder para destruir qualquer enfermidade. De fato, nenhuma enfermidade pode existir e atormentar a parte de seu planejamento e poder. É Deus quem cria e envia cada doença.
A única doença realmente incurável é aquela que Deus não quer curar, e sabemos que Deus quer curar todos os que têm fé para serem curados, pois é em resposta à fé que ele cura.
— Gabriel Arauto, “Tríade Cura”. Disponível em: https://medium.com/@gabrielarauto/tríade-cura-7612b45474bd. Acesso em 08/07/2024.