Tiago 5 e a Oração da Fé
Na epístola de Tiago, encontramos um dos textos mais claros e detalhados sobre a obtenção de cura pela fé:
Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos (Tg 5.13–18).
Nos nossos dias, termos como “cosmovisão cristã” e “Coram Deo” viraram bordões na boca de muitos cristãos, mas eles não sabem o que isso significa quando o assunto é oração e cura. Tiago nos ensina nesse trecho o que é realmente uma mente voltada para correlacionar todas as circunstâncias a Deus. Primeiro, quem está sofrendo deve orar. Não murmurar, choramingar ou aliviar com gula e bebedice, mas sim orar. Segundo, quem está alegre deve cantar louvores. Não contar vantagem, falar frivolidades ou cair na gandaia, mas sim cantar louvores. Observe que, para cada condição emocional, há uma ação adequada que nos dirige a Deus. Pois bem, isso dá uma boa devocional de que poucas pessoas iriam discordar. Mas e quanto aos que ficam doentes?
A ação correta para quem fica doente é também completamente voltada para Deus. Tiago não menciona nada ligado a tomar remédio ou buscar um médico. Ele fala de como tratar da doença com Deus. E a relevância de Deus não é para dar mero conforto espiritual, mas para curar a enfermidade. Ele ordena que o doente chame os presbíteros para ir vê-lo. Os presbíteros deverão ungi-lo com óleo e orar em nome do Senhor. Essa oração, se feita com fé, irá curar o doente e, além disso, quaisquer pecados serão perdoados. Tiago então complementa dizendo que a confissão dos pecados e a oração uns pelos outros são ações que visam à cura. Vamos dissecar isso passo a passo.
Primeiro, chamar os presbíteros. Devemos perguntar por que chamar os presbíteros se o enfermo pode simplesmente orar sozinho em casa pela cura. Pode ser que ele não tenha conseguido. Pode ser que ele ainda não entenda muito bem como funciona a cura milagrosa. Pode ser que ele de fato tenha pecados não confessados, e precisa dos presbíteros para ajudá lo a discernir isso em si. Seja como for, se o enfermo não pôde se curar sozinho pela fé, então é evidente que ele precisa da sua liderança espiritual. Os presbíteros são os oficiais da igreja responsáveis pelo ensino da Palavra, pelo aconselhamento e pela disciplina. Presumivelmente, eles são homens maduros na fé e, por isso, devem ajudar o enfermo a confiar em Deus. Não seria exagerado dizer que os presbíteros muito provavelmente têm o dom de curar. Mas, mesmo que esse não seja o caso, eles devem orar com fé maior e mais madura do que os demais membros.
Segundo, a questão da unção com óleo. A menção do óleo é rara no Novo Testamento. Na parábola do Bom Samaritano, é certo que o óleo foi usado como remédio. Mas quem supõe que o óleo seja medicinal aqui em Tiago 5 está com certeza errado. Se o óleo fosse medicinal, não haveria por que chamar os presbíteros. Se os presbíteros são responsáveis por aplicar remédios, então o papel deles se confunde com o de médicos, em cujo caso você precisa hoje recorrer aos seus pastores da sua igreja para que eles prescrevam remédios e realizem cirurgias em você. Obviamente isso não faz sentido. Além disso, nem toda enfermidade pode ser aliviada ou mitigada com o óleo, e Tiago está falando de todas as doenças em geral. A interpretação correta é que o óleo é apenas simbólico. Desde o Antigo Testamento, o óleo simboliza a ação do Espírito Santo consagrando algo ou alguém para Deus. Quando Jesus enviou os discípulos pela primeira vez, eles usaram óleo nas suas curas e exorcismos (Mc 6.12).
Ainda sobre o óleo, é importante destacar que nenhum resultado é atribuído a ele. Tiago diz que é a oração com fé que efetua a cura, não o óleo. E quase todas as menções de curas na Bíblia não envolvem unção com óleo. Por isso, ninguém deve ver no óleo uma importância ou um poder que a Bíblia não lhe atribui. O óleo é apenas um símbolo, nada mais, e é apenas um dos muitos gestos incluídos na cura que são biblicamente defensáveis. Carismáticos erram quando pensam que o óleo tem um poder superior ao da oração, como se fosse um garantidor, um “bônus”. Cessacionistas erram quando excluem de todo a unção com óleo das atividades dos operadores de cura. O fato é que a unção com óleo não é necessária para a cura, mas certamente não podemos criticar quem se utiliza dela, uma vez que é Tiago quem prescreve.
Terceiro, é a oração com fé que levanta o enfermo. Não é algum suposto dom de curar, e nem é o fato de que são oficiais da igreja que estão orando. A cura é atribuída à oração com fé. Sempre é a fé que importa. O ato de orar é até comum quando cristãos caem de cama, e as visitas pastorais geralmente incluem o momento da oração. Mas não basta só orar como uma formalidade. A oração precisa ser com fé. Se houver hesitações, abstrações e uma expectativa incerta, então a oração é desperdiçada. É por isso que as orações que dizem “se for da tua vontade” são inúteis. Isso parece uma reverência pela soberania de Deus, mas é apenas uma hesitação em aceitar aquilo que Deus já prometeu. Como o próprio Tiago diz no capítulo 1, “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1.5–8). A oscilação da expectativa entre um “talvez sim, talvez não” nulifica totalmente a oração.
Quarto, o perdão de pecados está incluído no ato da cura. É claro que o texto diz “se houver pecados”. Pode ser que não haja de fato nada a ser confessado para a cura, e os presbíteros não devem insistir nisso se não houver evidências. Mas mesmo assim, para que alguém desvende esse “se”, alguma conversa deve acontecer. Os presbíteros devem sim ensinar o enfermo que muitas enfermidades são consequência de pecados, e devem ajudá-lo a perceber em si qual pecado está sendo ocultado, a fim de que ele experimente aquilo que Davi descreveu no Salmo 32. A enfermidade é uma ocasião para se reavaliar a vida espiritual, e é muito adequado que a cura dela venha acompanhada do perdão de pecados, como aconteceu ao paralítico que Jesus curou no quarto.
Quinto, esse tipo de interação que envolve confissão de pecados e oração pela cura não está restrito a visitas pastorais. Os membros da igreja podem e devem fazer essas coisas uns pelos outros — claro, com inteligência, resguardando-se de abrir a vida a crentes que não têm sabedoria para lidar com isso.
Após detalhar esse procedimento, Tiago cita Elias como exemplo. Estudamos anteriormente os milagres de Elias, e um deles foi ferir a terra com a praga da seca. Tiago diz que nós podemos orar com tanto poder e eficácia quanto Elias. Isso significa que nós também podemos fechar e abrir o céu para que venham estiagem ou chuvas. Se uma mudança climática, que envolve tantos elementos grandiosos da natureza, é atendida pela fé, quanto mais uma simples cura localizada. Ao contrário do que muitos dizem, Elias não tinha um poder superior ao dos cristãos comuns. Tiago diz que ele era “homem como nós”, e diz que a oração “do justo” é eficaz e poderosa. Veja, é “do justo”, não do profeta ou apóstolo. Para que um cristão opere milagres magnânimos como os de Elias, basta que ele seja “justo”, justificado pela fé, convertido a Cristo. Assim como todo cristão pode curar doenças, todo cristão pode comandar os elementos da natureza. Esse é o ensino consistente de toda a Escritura.
Você conhece algum cristão que seguiu à risca todos esses versículos? Eu não. Primeiro, porque os cristãos nem mesmo tentam curar a si mesmos pela fé. Eles já vão direto para a busca por remédios e médicos, e não chamam os presbíteros. Quando chamam, os presbíteros fazem orações pífias para que Deus “use os médicos”, assim já excluindo a fé no sobrenatural, e para que Deus cure só se for da vontade dele, provando assim que não creem no que ele prometeu que faria. E eles não tratam de possíveis pecados, porque isso pareceria ofensivo. O resultado não poderia ser outro: uma multidão de crentes cheios de enfermidades crônicas, recorrentes ou resilientes nas igrejas.
E quanto a Elias, os cristãos gostam muito mais de se parecerem com ele na sua suposta “depressão” do que nas suas orações milagrosas! Percebe quão longe os cristãos estão de qualquer coisa que se pareça com “fé” segundo a Escritura? Eu já vi muitos crentes dizendo que é normal o crente ter depressão porque Elias teve depressão, mas nunca vi um crente dizendo que pode comandar os elementos mais grandiosos da criação, ou vencer a pé uma corrida contra um carro, ou ressuscitar mortos ou multiplicar azeite porque Elias fez todas essas coisas. A mentalidade cristã está voltada para a derrota, para o fracasso, para a miséria e o sofrimento. Eles não conhecem nem a Escritura nem o poder de Deus.
— Oliver Amorim