Soberania de Deus Para Quebrar Promessas?

O Senhor Que Te Sara
8 min readMar 31, 2023

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A soberania de Deus é a doutrina da qual os reformados mais gostam, aquela que eles sentem mais orgulho de defender. Eles pensam que somente eles entendem a soberania de Deus e o quanto ela é importante. Mas é justamente aqui que eles fazem sua maior afronta contra Deus.

Quando o assunto é cura de doenças ou qualquer outro milagre — na verdade, qualquer resposta de oração — eles alegam que Deus pode fazer o que quiser porque ele é soberano. Assim, Deus pode atender a nossa oração ou não, porque ele é soberano. Ele pode nos curar ou não, porque ele é soberano. Talvez seja da vontade dele que fiquemos doentes mesmo. Nosso dever não é convencer Deus a nos atender, não é sujeitar as ações de Deus à nossa pequena visão humana, mas é sujeitar-nos a qualquer que seja a vontade de Deus para nós e contentar-nos com isso.

Parece tão belo, no entanto esse definitivamente não é o Deus da Bíblia. Ele não se parece em absolutamente nada com o Deus da Bíblia. Ele é um ídolo.

Veja que curioso: os reformados acham que são muito esclarecidos porque eles sabem distinguir entre a vontade decretiva e a vontade preceptiva de Deus — ou a vontade oculta e a vontade revelada. Eles sabem explicar que a vontade decretiva diz respeito à predestinação e à providência de Deus, a qual não nos compete sondar, enquanto que a vontade preceptiva é a declaração do que Deus exige de nós em fé e prática, e isso sim pertence a nós (Dt 29.29). Mas eles se esquecem de tudo isso quando abordam a questão da resposta a orações, e principalmente no ponto da cura.

Deus fez promessas na Bíblia. Ele fez uma aliança conosco e impôs a si mesmo diversos termos. Ele ratificou esse pacto com o sangue do seu próprio Filho. Portanto, o cumprimento das promessas dele está fora de questionamento: ele sempre irá cumprir. Então, a pergunta é: Deus é soberano para fazer o contrário do que ele prometeu que faria? Ele é soberano para mentir? Os reformados respondem que sim. Deus prometeu que iria sarar todas as nossas enfermidades, que praga nenhuma chegaria à nossa tenda, que a sua Palavra nos daria saúde, que tudo o que pedíssemos em seu nome ele faria. Ele é soberano então para não fazer essas coisas? Ele é soberano para não sarar todas as enfermidades, para deixar que algumas pragas atinjam a nossa tenda, para dar uma Palavra que apenas conforta sem restaurar a saúde e para dizer “não” às orações que fizéssemos em seu nome? Os reformados respondem que sim.

Os reformados pensam que prestam um grande respeito à soberania de Deus quando deixam o futuro em aberto, quando lançam tudo para a esfera das possibilidades e não das certezas. Eles pensam que inserir a frase “se for da tua vontade” nas orações é uma mostra de grande reverência e admirável abnegação. Mas esse é o grande insulto que destrói a eficácia dessas petições. Se Deus prometeu que faria uma coisa, então pedir que ele faça essa coisa “só se for da tua vontade” é lançar dúvida sobre o que ele disse. É declarar que está aberta a possibilidade para que ele minta, para que ele seja infiel à sua aliança. É retroceder da aplicação dos termos da aliança para a dúvida sobre se os termos da aliança estão valendo mesmo. Duvidar das intenções e do bom caráter do Deus que é supremamente benevolente e verdadeiro é uma ofensa grave.

Quando os reformados tentam encontrar textos bíblicos para se justificar, eles cometem sempre o mesmo erro de confundir a vontade decretiva (oculta) com a vontade preceptiva (revelada). Então, na Oração Dominicial, eles leem “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”. Que vontade é essa? A vontade revelada na Escritura, é claro. Deus já disse na Escritura uma porção de coisas que são da sua vontade — inclusive curar as doenças do seu povo. Então, orar para Deus fazer a sua vontade é necessariamente orar para que ele faça a cura. O mesmo se aplica quando João diz, na sua primeira epístola, que, se pedirmos alguma coisa “segundo a sua vontade”, ele nos ouve. Essa é a vontade revelada, não a oculta. É totalmente trivial dizer que Deus irá nos ouvir quando a nossa oração coincidir com o que ele deseja. É óbvio que ele só irá fazer o que ele quer. A pergunta relevante é: o que ele quer? Isso não está escondido, não é imprevisível. Está patente em toda a Escritura. A cura de enfermidades faz parte das suas promessas, portanto coincide com a sua vontade. Quando oramos por cura, em fé e obediência, então oramos segundo a sua vontade e ele nos ouve.

O mesmo raciocínio se aplica à oração de Jesus no Getsêmani. Ele disse para o Pai “se possível” afastar o cálice dele, mas acrescentou que “faça-se a tua vontade, e não a minha”. Disso, os reformados extraem que, quando desejamos uma coisa, devemos acrescentar que tudo bem se Deus quiser fazer outra coisa. Mas veja só o que Jesus está pedindo: que Deus afaste dele algo que era da vontade revelada de Deus dar a ele. Jesus sabia que ele tinha de ir pra cruz. Ele sabia que era isso que o Pai queria que acontecesse. A sua petição é a expressão de alguém em extrema e inimaginável agonia, e com certeza suscetível à tentação de desistir da sua missão. Por isso, depois de fazer essa petição, Jesus acrescenta “contudo, faça-se a tua vontade”. Que oração maravilhosamente humana e santa! Jesus foi sincero em expressar o seu desejo de evitar aquele caminho horrível, mas, em perfeita reverência, submeteu-se a vontade do Pai que ele já sabia que iria se realizar no fim das contas. É a abnegação de alguém que se sente tentado a almejar algo diferente da vontade revelada de Deus e, mesmo assim, pede pelo cumprimento dessa mesma vontade divina. Agora, Deus revelou que sua vontade é nos curar. Logo, a única maneira de um cristão imitar Jesus nessa oração é expressando que ele gostaria muito de ficar doente, mas mesmo assim submete-se à cura que Deus prometeu.

De onde eles tiraram que Deus pode não querer nos curar? Todo o testemunho bíblico diz o contrário. Quando foi que Jesus negou cura a alguém? O tempo todo havia multidões trazendo enfermos, e ele curava todos. A única vez em que um leproso disse “Se quiseres, podes purificar-me”, Jesus respondeu “Sim, quero. Fica limpo”. Ele nunca recusou curar ninguém. E, quando ele parecia recusar, como no caso na mulher cananeia, ele não só atendeu à insistência dela, como também elogiou essa atitude. Hoje, os reformados querem nos fazer pensar que insistir com Deus é um insulto à soberania dele, mas a verdade é que Deus ama essa fé perseverante. Deus não é um padrasto que se irrita com qualquer coisa do seu afilhado, mas é um Pai que se deleita em atender ao que lhe pedimos.

Além disso, Jesus nunca atribuiu nenhuma cura à vontade de Deus, e sim à fé das pessoas. Ele disse “A tua fé te curou”, “Grande é a tua fé” e “Faça-se conforme a tua fé” várias vezes, e nunca “A vontade secreta de Deus foi que você ficasse curado desta vez”. Outra frase que ele dizia com frequência é “O que queres que eu te faça?”. É Deus quem pergunta qual é a nossa vontade, e não nós que perguntamos a ele. Essa é a disposição de Deus em curar. Ele é ávido por curar doenças. Ele ama fazer isso. Lançar de volta a bola pra ele dizendo “Não, Deus, o que eu quero não importa, pode fazer o que quiser” é o mesmo que duvidar dele e insultar o seu caráter benigno.

A concepção reformada sobre a soberania de Deus torna completamente inútil qualquer conversa sobre a fé na cura. Por mais que essa fé seja enfatizada nos evangelhos, em Atos e em Tiago 5, eles tornam impossível acusar alguém de falta de fé. É uma falha que não existe mais. Todo mundo é inocente de falta de fé. Para eles, fé é afirmar que Deus tem poder para curar se ele quiser. Logo, a falta de fé se traduz em achar que Deus não tem poder para curar mesmo que ele quisesse. Formidável! A fé cristã foi reduzida a uma asserção que até filósofos vagamente teístas podem fazer.

É óbvio que Deus é soberano. Ele foi soberano quando fez a promessa — ninguém o coagiu a isso. Ele foi soberano para estabelecer a fé como a condição para conseguirmos a cura com ele — ninguém o forçou a isso. Ele soberanamente impôs todos os termos a ele mesmo e a nós. Quem ousa questioná-lo? Quem pode oferecer a ele uma ideia melhor de como exercer a sua soberania? Quem instruiu o Espírito do Senhor? Você não pode inventar uma ideia abstrata de “soberania” e obrigar Deus a aprová-la. Ele é soberano para estabelecer os parâmetros segundo os quais ele exerce a sua soberania. Ou por acaso você pensa que Jesus pode não retornar, já que ele é soberano? Ou que Deus não irá justificar todo o que crer nele, já que ele é soberano e faz o que quer? Ou que Deus irá mandar todos os cristãos para o inferno no dia do juízo, afinal, se ele é soberano, ele pode fazer qualquer coisa, certo? Se você disser “Eu sei que Deus dá a salvação a todo o que crer em Cristo, mas ele pode não me dar essa salvação, porque ele é soberano”, acaso pode semelhante fé salvá-lo?

Se você quiser fazer orações eficazes para a cura, pare de dizer “se for da tua vontade, cura-me”, e sim “Porque estou certo de que queres me curar e de que farás tudo o que prometeste, declaro que já recebo essa cura em nome de Jesus”. Não pense em hipóteses, e sim em certezas — afinal, “a fé é a certeza das coisas que se esperam e a prova de fatos que se não veem” (Hb 11.1). Pela fé, você antecipa um fato consumado, não uma possibilidade. Deus soberanamente quis que esse fosse o instrumento da recepção das suas promessas. É assim, aliás, que as crianças recebem as promessas que os adultos fazem: elas confiam tanto que nem lhes passa pela mente que um adulto pode mentir ou falhar. Elas falam do que vão ganhar já como um fato certo. E Jesus foi claro: quem quiser entrar no reino do céu precisa recebê-lo como uma criança.

Da próxima vez que você vir alguém dizendo, cheio de piedade, “Graças a Deus por não atender às minhas orações”, saiba que isso só acontece porque o sujeito não sabe ler na Bíblia as coisas pelas quais ele deve orar. Não existe isso de orar por cura, não recebê-la e depois dar a desculpa de que “Deus age de formas misteriosas”. O único mistério é por que um cristão pensa que não há nada de errado com ele quando ele não recebe o que Deus prometeu. O erro não está em Deus. O erro não está na Bíblia. Jogar tudo para a esfera dos “mistérios ocultos da vontade soberana de Deus” é esquivar-se de toda a responsabilidade por relacionar-se com Deus da maneira certa.

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O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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