Quando a Cura Não Acontece

O Senhor Que Te Sara
12 min readJan 25, 2023

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Todo cristão provavelmente já passou pela experiência de orar pela cura de alguém e a cura não acontecer. É nesse momento que eles inventam teorias que justificam o fracasso deles e mudam o sentido do que a Bíblia diz. Quando eles são confrontados com uma doutrina de cura que afirma a fé e o poder total, logo eles começam a questionar: então por que tal dia em que eu orei não deu certo? Por que às vezes não funciona?

Vou dizer por quê: muito provavelmente é porque você fez essa pergunta em primeiro lugar. Quando você toma uma declaração bíblica de que algo acontece por meio da fé, e você já começa inserindo qualificações para justificar por que não acontece, a dúvida já se instalou no seu coração por meio da antecipação imaginária de uma falha. Por isso, a pergunta precisa ser feita somente depois que você fez um compromisso muito firme de crer no poder da fé e na realidade presente e milagrosa das promessas de Deus. Dependendo do quanto a sua mente foi sabotada por discursos cessacionistas ou cientificistas, você precisará exercer uma grande força para irromper por sobre essa carapaça de incredulidade e reestruturar radicalmente a sua cosmovisão.

De qualquer modo, o fato é que às vezes as curas não acontecem, e a Bíblia diz exatamente por quê. Nós já vimos basicamente todos os motivos nos textos anteriores, mas é didaticamente relevante rememorá-los aqui.

Primeiro, porque não houve fé suficiente. Lembre- se de que Jesus promete que uma fé como um grão de mostarda pode mover montanhas. Nesse caso, somente uma fé de extrema pequenez poderia ser ineficaz. Jesus repreendeu frequentemente os discípulos por sua dúvida e por terem fé tão minúscula.

Os cessacionistas adoram denunciar os pastores carismáticos porque estes prometem mil coisas impossíveis e, quando elas não acontecem, podem apenas dizer aos seus ouvintes “porque você não teve fé suficiente” e tirar o corpo fora. Eles fazem essa proclamação com ares de heroicos caça-vampiros, prontos a destruir esses monstros insensíveis dos carismáticos e libertar as pessoas do seu ciclo de fracassos e da sua opressão sob esses conspiradores maléficos. Eles só não percebem que não foram os carismáticos que inventaram essa frase “porque você não teve fé suficiente” mas foi o próprio Jesus. Jesus atribuiu o fracasso dos discípulos à falta de fé inúmeras vezes. Os discípulos depois atribuíram o próprio sucesso à “fé em o nome de Jesus”. Na carta de Tiago, ele diz claramente que, se você duvidar e oscilar na mente, você não irá receber nada de Deus. Portanto, essa causa do fracasso é totalmente bíblica.

E lembre-se de que devemos ter fé de que nós já recebemos, não apenas em que Deus tem poder para talvez, quem sabe, se não for muito incômodo, operar a cura. Se você crê em uma possibilidade, você so receberá a obscuridade de uma possibilidade. Se você crê em um fato, é esse fato que você receberá.

Nós vimos também que a incredulidade do enfermo é um obstáculo até para o mais poderoso operador de curas. A fé do enfermo é a mais importante. Sem ao menos a disposição para crer na cura, não há nada que você possa fazer por ele.

Segundo, porque há desobediências não confessadas. Uma fé que transgride a lei de Deus é apenas presunção e é altamente ofensiva a ele. Como afirmei acima, um cristão que rejeita parte da lei de Deus ou que tem um compromisso relapso não pode esperar a recepção de milagres. A santidade pessoal é fundamental. E isso passa longe da massa da cristandade hoje.

Qual é a vida transgressora do “cristão piedoso” que ele tenta fazer de conta que não existe ou que não tem problema nenhum? O cristão médio de hoje é muito “espiritual”, mas como é a casa dele? As mulheres não obedecem nem respeitam os maridos e buscam satisfação pessoal no exercício de uma carreira de sucesso. Os homens não fazem sacrifícios pelas suas esposas, não as lideram sob Deus e se mostram ou grosseiros ou molengas. Os pais e mães deixam os filhos na frente da TV e dos videogames o dia inteiro, não exigindo deles mais do que notas boas na escola e não os disciplinando para amarem as coisas de Deus. Eles resolvem os seus problemas comprando coisas, buscando conselhos em psicólogos e tomando remédios psiquiátricos. Eles não se deram ao trabalho de aprender o básico da teologia para resolver as crises existenciais dos seus filhos adolescentes. Eles insistem em frequentar igrejas ruins só por conta de alguma preferência estética ou de tradição. Eles dão pouca importância às influências dos professores e amigos ímpios que as filhos recebem na escola. Eles até deixam seus filhos namorarem por recreação. A boca dos pais transborda de futilidades e de piadas sujas, supostamente inofensivas. Eles tomam o nome de Deus em vão frequentemente fazendo piadas e brincadeiras com as coisas da Bíblia. Eles vivem faltando cultos por causa de eventos supérfluos, como aniversários, e fazem do domingo um dia de tédio, e não de descanso em Deus. Além disso, eles repetem premissas mundanas vindas do relativismo moral, do existencialismo e do comunismo. Eles falam contra as penas de morte que a Bíblia ordena e votam em candidatos do Foro de São Paulo. Eles esperam do Estado as coisas que Deus promete lhes dar. Eles murmuram. Eles não fazem investimentos no reino de Deus para o longo prazo. Eles se dedicam à religião no mínimo possível e passam quase o tempo todo buscando objetivos pessoais. Eles são coniventes com cultos heréticos. Eles são a favor da ordenação feminina. Eles não gostam de estudar teologia e negligenciam sua própria competência intelectual para discernir as doutrinas bíblicas. Eles se endividam e vivem fazendo empréstimos. Eles acham que o amor cristão precisa fazer concessões morais. Eles condenam a pornografia nominal, mas acham que tudo bem ver programas e filmes “eróticos” na TV, como certas séries de Netflix. Enfim, eles não professam nem vivem uma cosmovisão cristã, antes conduzem seus pensamentos, palavras e ações a um hibridismo de cristianismo, relativismo, anarquia e comunismo.

Há muito mais que poderíamos listar. Como alguém pode achar estranho que um “cristão” como esse seja afligido com enfermidades e não receba a cura? Quero ser muito incisivo aqui. Se você não se encarrega pessoalmente da educação dos seus filhos, mas passa a vida a delegá-los a babás, empregadas, professores e amigos ímpios, ou até mesmo a tiozões da igreja, tirando o corpo fora e ficando na retaguarda, minha previsão será a de que você estará gastando milhares de reais com psicólogos e remédios e passando noites em claro aflito pelo destino da alma do seu filho moralmente deformado. Se você não disciplina o seu filho para os deveres e para a formação de caráter firme na lei de Deus, mas o mima deixando que ele se entupa de lixo pop e de games por várias horas todos os dias, afirmo pra você que essa é a semeadura de uma gravidez indesejada e de uma aflição mental tendente ao suicídio. Se você e o seu cônjuge não cumprem os seus deveres e papéis bíblicos um pelo outro, vocês perderão a influência positiva sobre os seus filhos. Se o ensino bíblico que vocês administram é um de ensinar as “historinhas bíblicas” e dizer uns poucos versículos, não deixando que a plena extensão da verdade bíblica confronte as mensagens humanistas, feministas, pluralistas e evolucionistas que os seus filhos ouvem na escola e na TV todos os dias, o seu lar irá adoecer.

Você precisa entender que a lei de Deus exige compromisso total. Exige que você seja “chato” muitas vezes. Exige que você seja intransigente com o que a Bíblia revela. Você não pode ter o melhor de dois mundos. Você não pode querer as bênçãos de Deus e pensar, falar, trabalhar, educar e administrar como um filisteu durante seis dias da semana. Você irá perder. Você irá adoecer. E quando você clamar a Deus, ele dirá para você ir implorar para os seus ídolos para ver se eles prestam mesmo, como ele fez certas vezes a Israel.

E quando você se der conta do fundo do poço em que você e sua família se meteram, você precisa se humilhar veementemente, sem reservas, sem atenuantes. Você precisa admitir a totalidade da sua culpa. Não invente desculpas. Se você diz “Mas meu marido é assim”, “mas minha esposa é assim”: culpa sua, casou errado porque quis. Se você diz “Mas meus. filhos são isso e aquilo”: culpa sua, foi você quem os criou mal. Se você diz “Mas eu sempre cresci aprendendo outra coisa”: problema seu, agora aprenda o certo e se arrependa das suas opiniões. erradas. Se você diz “Mas como eu ia saber, se todos ao meu redor eram assim e assado?”: problema seu; como Jesus disse na parábola do rico e Lázaro: “Eles tém Moisés e os profetas, então que os ouçam”. Se você diz “Mas meu pastor não dá conta de me ajudar”: culpa sua, foi você quem o escolheu para ser seu pastor. Se fosse um psicólogo ruim, você não percorreria céus e terra para achar um bom? Pare com isso. Pare com as desculpas. Pare com a hipocrisia. A sua vida e a vida do seu lar são marcadas por doenças e caos por sua culpa. Você pecou. Você fez as escolhas erradas. Você passou anos abusando da longanimidade do Senhor enquanto as coisas estavam aparentemente sob controle. Você não quis admitir que todos os seus empenhos históricos foram um correr atrás do vento, uma piedade “pra inglês ver”. Você pode orar por cura e restauração o quanto quiser, não vai acontecer. Sua única saída será praticar o Salmo 32: pare de esconder, de camuflar, de racionalizar, de psicologizar o seu pecado: confesse-o abertamente, abandone-o, conserte tudo o que está de errado seguindo a Palavra de Deus, doa o quanto doer. Aí sim isso que você chama de fé começará a ter algum valor. Aí sim você poderá dizer aos seus remédios psiquiátricos e seus a psicólogos para se atirarem ao mar, e eles obedecerão, e você será curado diretamente por Deus.

Para além do seu lar, tenha cuidado também com a sua postura para com as coisas da igreja:

Examine se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo (1Co 11.28–32).

Deus estava afligindo os coríntios com enfermidades, algumas até mortais, devido ao desrespeito deles contra a instituição da ceia. Eles não faziam “em memória de Cristo”, mas tratavam como coisa banal, pecando por gula e por destratar os demais irmãos. É um estudo de caso de como a cura de Deus deve ser precedida pelo arrependimento e pela correção de postura.

Terceiro, porque você não pediu. Tiago 4.2 diz: “Nada tendes, porque não pedis”. Há cristãos que dependem tanto de remédios que nem se dão ao trabalho de orar por cura. Muitos pensam que é indigno orar pela cura de doenças “fraquinhas”, como resfriado e dor de cabeça. Pra que incomodar Deus com isso, se basta tomar um remédio? Outros só pedem pela cura em último caso, como um plano B ou C, caso tudo o mais falhe. Há também aqueles que não oram pela cura, mas apenas por “conforto”. Todas essas posturas são desonrosas contra Deus e manifestam incredulidade e tendências ateístas. Nunca é demais orar por cura.

Quarto, porque você não perseverou. Algumas pessoas oram pela cura, e até creem de início, mas depois desistem quando não se realiza imediatamente. Nós vimos alguns exemplos de homens santos que tiveram de orar várias vezes para serem atendidos: Elias e Eliseu clamaram várias vezes a Deus para ressuscitar os meninos. Elias também teve de orar sete vezes até que a chuva voltasse. A mulher cananeia recebeu três negativas de Jesus, mas continuou insistindo, até que recebeu tanto o milagre como um elogio à sua fé. Bartimeu gritou várias vezes até que Jesus se voltasse e o curasse. E Jesus ensina por meio de parábolas, como a do juiz iníquo, que os discípulos devem perseverar em oração e nunca desanimar.

Há um episódio de cura muito peculiar registrado em Marcos:

Então, chegaram a Betsaida; e lhe trouxeram um cego, rogando-lhe que o tocasse. Jesus, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia e, aplicando-lhe saliva aos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa? Este, recobrando a vista, respondeu: Vejo os homens, porque como árvores os vejo, andando. Então, novamente lhe pôs as mãos nos olhos, e ele, passando a ver claramente, ficou restabelecido; e tudo distinguia de modo perfeito. E mandou-o Jesus embora para casa, recomendando-lhe: Não entres na aldeia (Mc 8.22–26).

De todos os episódios de cura registrados na Bíblia, esse é o único que se realizou por partes. O cego primeiro recebeu uma visão defeituosa, e depois recebeu visão perfeita. Essa história mostra que, às vezes, a cura vem em gradações. Por isso, é necessário orar mais de uma vez.

Observe ainda estas coisas: primeiro, Jesus não parou até que a cura estivesse completa. Desistir no meio e contentar-se com um resultado menos que perfeito é uma atitude que não tem base bíblica. Se você orar pela cura de um paralítico, não basta que ele ande com uma bengala. Se você orar por um deficiente mental, não basta que ele fique apenas um pouco mais lúcido e entendido. Sempre só pare quando a saúde estiver totalmente estabelecida. Segunda coisa: Jesus teve de averiguar para saber o quanto a cura havia funcionado. É totalmente recomendável que um cristão, após orar pela cura (ou comandar a cura, não importa) verifique se deu certo mesmo e não desista até que a cura tenha acontecido. É bom que ele pergunte ao enfermo como ele se sente. Se for uma enfermidade imperceptível, como um princípio de tumor que ainda não dói, é bom que ele peça um exame. Inclusive, é excelente para o testemunho cristão apresentar provas públicas — provas de acordo com os próprios padrões dos cientistas — de que a cura realmente aconteceu e não é só encenação. Um cristão não deveria apenas ordenar a cura e depois sair de cena. Talvez seja necessário orar mais.

É nesses momentos que os curiosos ficam questionando “Mas por quê? Por que nós temos de insistir na cura? E a soberania de Deus? Se Deus quisesse curar, ele poderia curar de uma vez só!”. Pronto, eles falharam no teste. Entenda isto: Deus prometeu, com um pacto de sangue, o sangue precioso do seu próprio Filho, que ele sempre irá curar aqueles que pela fé pedirem e que crerem na expiação de Cristo para isso. Mas ele demonstrou na Escritura que pode às vezes, uma minoria de vezes, delongar um pouco a cura, de modo que precisamos insistir. Ele faz isso para provar a nossa fé. Se você desiste no meio do processo, você jogou na cara de Deus que você não crê nele, que ele é mentiroso. E, se você não crê nele, então não espere mesmo que ele faça a cura que você pediu em primeiro lugar. A desistência e o desânimo trazem automaticamente a derrota. Imagine se Eliseu houvesse chegado à casa do menino e dissesse “Bem, eu já mandei o meu servo tocar nele com o meu cajado. Se Deus quisesse ressuscitar, ele já teria ressuscitado, Então, melhor deixar pra lá”. Esse tipo de petição desistente não procede da fé, e sim de uma concepção mecânica e formalística do que é a oração. Você não ora só pra dizer que fez a sua parte e agora a bola está com Deus. Você ora para que Deus atenda, alegando que ele mesmo prometeu que atenderia e que ele não é homem pra mentir.

Quinto, porque há erros teológicos graves. A doutrina da cura não existe independente das demais doutrinas. Ela depende de uma série de premissas metafísicas e soteriológicas sobre Deus. Se você acalenta uma visão errada sobre Deus, esse erro pode ser grave ao ponto de que você haver concebido um falso deus, mesmo sem perceber. E um falso deus não pode curar.

Exemplo: o arminianismo. A visão arminiana sobre a soberania de Deus, a salvação e o poder remanescente do livre-arbítrio humano acaba por sabotar a legítima fé na cura. Isso porque o arminianismo faz com que a expiação de Cristo seja insuficiente para nos salvar e nos curar, de modo que, para produzir os seus efeitos, dependa de uma decisão de fé autogerada a partir de nós. Essa é uma fé deformada desde a raiz. A fé que não encontra sua origem metafísica no poder e na eleição graciosa de Deus, e sim em nossa própria resolução, em nossa própria força natural, é apenas presunção, e não fé verdadeira. O arminianismo atenta contra a soberania de Deus e exalta a capacidade humana. Não se pode esperar que a cura proceda desse tipo de expectativa.

Com isso, não estou afirmando que todo mundo que se diz arminiano acredita assim. Estou descrevendo o que o arminianismo em si implica e o perigo que ele representa a todos os que o abraçam. Também não estou afirmando que os calvinistas são necessariamente melhores que os arminianos em suas concepções teológicas sobre esse assunto. Eles também passam vexame quando tentam explicar e defender a soberania de Deus de um modo que não é o que a Bíblia ensina. Falarei mais sobre isso depois. O ponto é que a fé em Deus é indivisível: você precisa crer em Deus conforme os termos que ele mesmo revelou na Escritura. Do contrário, você pode estar esperando que um ídolo da sua imaginação conceda cura, o que não vai acontecer.

— André de Mattos Duarte. O Senhor Que Te Sara: A exposição completa da doutrina da cura bíblica. Editora Bibliomundi, 2021, pp. 160–171.

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O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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