Prosperidade, Idolatria e Contentamento

O Senhor Que Te Sara
21 min readMar 29, 2023

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Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores… Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida (1Tm 6.3–10, 17–19).

O que torna a promessa de prosperidade material um pouco mais complexa do que outras promessas da Escritura é que existem invectivas graves da Escritura contra uma relação pervertida com o dinheiro. A prosperidade bíblica é real e valiosa, mas ela é harmônica com outras virtudes que de certo modo nos afastam do desejo por dinheiro. Por essa razão, é importante enfatizar que a verdadeira proclamação da prosperidade precisa ser acompanhada de um zelo por genuína piedade.

Alertas contra a idolatria do dinheiro e a favor do contentamento com uma vida simples aparecem em toda a Escritura, e são marcantes especialmente no livro de Eclesiastes. Mas aqui em 1Timóteo 6, há uma grande densidade de informações que nos permite lidar com o assunto satisfatoriamente. Vamos percorrer essa seção ponto por ponto.

Primeiro, Paulo introduz a reflexão sobre as riquezas ao descrever o tipo de ministro que não adere à verdadeira doutrina. Por toda a epístola, o autor se exorta Timóteo à integridade doutrinal, delineando que tipo de comportamento nefasto é característico dos falsos mestres. Uma de suas ênfases é que os falsos mestres são fascinados com discussões vazias e contendas que não conduzem a nada (ex: 1Tm 1.3–7). Claro, isso não significa que toda discussão teológica é inútil, como os anti-intelectuais gostariam. Mas há altercações que ou não têm base na Escritura ou utilizam a Escritura em um sentido distorcido, como a fascinação por códigos escondidos na Bíblia, por encontrar referências a alienígenas, por validações da astrologia ou da teoria da evolução. Eu já conheci um homem que era obcecado por discutir todas as possíveis explicações científicas para todos os milagres da Bíblia (como as pragas no Egito ou Jonas ter passado três dias no ventre do peixe), e não se dava por satisfeito até provar que a “ciência” poderia tornar plausível o texto bíblico. Não é difícil entender: se um homem não crê na doutrina correta da Escritura, mas mesmo assim quer se passar por mestre, então ele precisará inventar alguma coisa para lecionar. Como o conteúdo da sua invenção não tem base na verdade, então as discussões provocadas pela sua especulação são infinitas, assim como os pecados resultantes correm desimpedidos. Esses mestres desperdiçam o tempo de todo mundo e não aproximam ninguém da verdade bíblica.

Por que alguém dedicaria os seus esforços a essa ocupação? A resposta é que tais homens “supõem que a piedade é fonte de lucro”. Eles querem um emprego. Muito simples. A Bíblia comanda que os cristãos sustentem os seus pastores com seus dízimos e ofertas, logo é esperado que apareçam falsos mestres querendo ocupar esse posto, recebendo o seu salário em troca de algumas horas de discursos artificiais. Na Europa, não é raro encontrar pastores ateus que fazem as suas homilias de rotina em igrejas liberais. É um emprego conveniente.

Pastores neopentecostais são caricaturas fáceis para aplicações dessa descrição em nossos dias. Mas os tradicionais erram com frequência a acusação, porque eles supõem que qualquer pastor que pregue prosperidade é falso e herege. Isso porque eles pensam que a promessa de prosperidade financeira é uma heresia. Ao agirem assim, eles condenam a si mesmos por difamarem um dos termos da aliança de Deus. Prosperidade material é promessa bíblica, logo os verdadeiros hereges são aqueles que pregam contra isso. Ocorre com frequência que os pregadores de prosperidade são realmente falsos mestres, mas isso por outros erros, e não por pregarem prosperidade. Além disso, nem todo pregador da prosperidade é motivado pelo lucro pessoal — muitos deles sinceramente creem nessa promessa para as suas ovelhas e continuariam pregando mesmo que ficassem pobres. E, obviamente, dentro de igrejas tradicionais e cessacionistas também abundam pastores que veem no ofício uma conveniente fonte de renda enquanto pregam heresias. Qualquer igreja precisa estar atenta a isso.

A mania por contendas também é um problema de igrejas tradicionais. Há pastores que desenvolvem toda a sua carreira em ministérios de apologética, e são fascinados por denunciarem erros. Agora, é claro que a apologética é um mandato bíblico e que a denúncia de erros faz parte do ministério pastoral. O problema acontece quando as agendas dos ministros são dominadas por esse engajamento. O ministério deles apresenta pouquíssimo ensino teológico positivo, porque todas as suas aparições são em debates públicos. Há um “pastor” de linha tradicional muito popular nas redes sociais que já se tornou conhecido como um encrenqueiro, porque uma parte significativa do seu tempo é gasto convocando oponentes para debates e produzindo vídeos de confrontação, muito embora esses “inimigos” não estejam nem aí para ele. Não raro ele insere mentiras e insultos pessoais nas suas polêmicas. Ele pode se considerar um grande paladino em favor da teologia verdadeira, mas sua obsessão por confrontos e brigas — sempre públicas e nem sempre honestas — prova que ele é apenas um pós-adolescente tentando chamar atenção. Sem qualquer brilhantismo especial, ele ganha a sua renda.

Segundo, Paulo expressa que, de fato, a piedade é uma grande fonte de lucro. Para transmitir o efeito retórico que ele deseja, ele utiliza a mesma premissa dos falsos mestres — “piedade é fonte de lucro” — mas alterando o sentido das palavras “piedade” e “lucro”.

É fácil perceber a mudança no sentido do “lucro”, mas poucas pessoas veem que a palavra “piedade” também recebeu uma nova nuance. Como consequência, deduzem que Paulo está afirmando que a piedade não é fonte de lucro no primeiro sentido — o sentido material e financeiro — e assim pensam ter encontrado uma evidência contra a promessa de prosperidade. No entanto, quando Paulo diz que os falsos mestres “supõem que a piedade é fonte de lucro”, é óbvio que ele não está se referindo à piedade verdadeira, que é o segundo sentido. Isso é nítido: pois, se os falsos mestres quisessem ganhar dinheiro por meio da piedade verdadeira, então eles deveriam apresentar piedade verdadeira, e não “inveja, provocação, suspeitas malignas” e tudo o mais. Antes, eles julgam que a piedade que traz lucro é apenas uma forma superficial de piedade, uma simulação de piedade diante dos incautos. Paulo está dizendo que essa piedade não é fonte de lucro, e sim que a piedade que é fonte de lucro é aquela “com o contentamento”. Logo, não há nenhuma evidência contra a ideia de que a obediência a Deus — a verdadeira piedade — traz recompensas materiais. Paulo não contradiz o ensino consistente das Escrituras aqui.

Mas ele está nitidamente falando de outro lucro, um lucro muito maior do que o financeiro. Em outro lugar, ele afirma que “morrer é lucro”, porque na morte ele estaria finalmente com Cristo. Assim, Paulo está guiando a nossa visão para além das ambições terrenas, para as riquezas incomensuráveis da vida eterna com Deus. É para esse ganho que a verdadeira piedade nos leva. Em comparação com uma vida eterna com o nosso Amado, em perfeita paz e felicidade, lucros monetários não são nada. Os homens que pensam somente no que podem ganhar com o seu emprego são estúpidos e têm vidas vazias. Um bilionário mundano é um miserável diante de um pobre que herda o reino do céu.

Terceiro, o vínculo que sustenta todo o argumento é o “contentamento”. A verdadeira piedade que traz o verdadeiro lucro só pode existir se acompanhada do contentamento. Essa virtude significa satisfação, tranquilidade e felicidade que independem de circunstâncias materiais. Ela é o oposto da inveja, da cobiça, da ansiedade e da murmuração. O contentamento provê uma fortaleza contra a volubilidade diante das alterações na vida exterior. Um homem contente não será manipulado por ofertas escusas, não ocupará a sua mente com pensamentos de insegurança ou com devaneios inalcançáveis, não irá reclamar nem se sentir frágil. Há um aspecto de indiferença com relação à vida material. Como Paulo descreve em outro lugar:

Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4.11–13).

Esses versículos mostram que o contentamento não é uma virtude essencialmente negativa, não é apenas a ausência de sentimentos problemáticos: ele é positivamente ancorado em uma confiança “naquele que me fortalece”. Quando nossos pensamentos estão “nas coisas do alto” (Cl 3.1–3), ocupados com o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33), recebemos uma sólida segurança, uma fortaleza interna muito além dos sonhos dos descrentes. Quando depositamos a nossa vida no poder e na promessa de Deus, nada no mundo pode nos manipular ou confundir. O Salmo 73 apresenta essa serenidade belamente:

Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são infiéis para contigo. Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos (Sl 73.23–28).

É Deus, e somente Deus, o nosso verdadeiro prazer. E é somente ele quem fortalece o nosso coração. Ele é a nossa herança. “Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente… Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.2,11). Como são miseráveis e bestiais aqueles que movem a sua vida em torno das riquezas materiais!

Os teólogos antiprosperidade amam citar esses versículos, porque pensam que podem atacar a fé nas promessas de prosperidade com eles. Isso chega a ser assustador, porque revela que eles não conseguem conceber outra motivação para amar as promessas de bênçãos materiais de Deus que não a inveja, a murmuração e a cobiça. Passa longe da mente deles a ideia de que uma pessoa pode alegrar-se e esperar ousadamente em Deus para o enriquecimento simplesmente porque ela ama Deus e ama todos os benefícios que Deus nos promete como demonstrações da sua benevolência imerecida. Todos esses versículos que citei são o pressuposto para a recepção da bênção da prosperidade — ninguém pode esperar receber nada de Deus enquanto suas atitudes interiores estiverem desarranjadas. Mas os teólogos os usam como arma de combate contra essa bênção. Será apenas defeito de leitura, ou eles estão projetando sua própria iniquidade sobre o texto bíblico e sobre os seus ouvintes? Se eles não conseguem pensar em prosperidade financeira bíblica sem com isso trazer a paixão pelo dinheiro, isso é um defeito deles. A Bíblia diz o exato oposto: somente quem está ocupado com a busca pelo reino de Deus está apto para receber prosperidade.

Quarto, voltando para o nosso texto em 1Timóteo, Paulo fica mais específico quando diz que devemos estar contentes “tendo sustento e com o que nos vestir”. Se temos alimento na mesa e roupas para nos aquecer, então estamos bem. Isso não significa que a falta de comida ou a falta de roupas nos dá desculpas para murmurarmos, pois o texto de Filipenses acima diz que Paulo já passou até por fome, e mesmo assim permaneceu contente e confiante na força do Senhor. O que intensifica o alerta contra a murmuração: se nem passando fome estaríamos justificados por murmurar, então muito menos na falta de coisas supérfluas!

É importante salientar esse problema da murmuração. Com frequência, os cristãos pensam que têm uma licença para reclamar com Deus quando, por qualquer razão, sentem-se angustiados e irados com a vida. Eles supõem que Deus será compreensivo com suas exclamações impacientes, seus “desabafos”. Então eles se dirigem a Deus sem reverência, dando vazão aos seus sentimentos amargos. Para citar um exemplo recorrente ridículo, eu e minha esposa sempre nos impressionamos com a mania que as mães “cristãs” modernas têm por reclamar das suas obrigações maternais, principalmente em redes sociais. Elas fazem toda a maternidade, que é uma bênção e um dever sagrado diante de Deus, parecer um suplício. Claro, muito piedosamente, elas concluem seus textos de reclamação com alguma menção formal à força de Deus. Mas o disfarce mal feito só engana os tolos. A tônica de suas publicações é essencialmente o quanto é horrível gastar energia cuidando de bebês. Elas acham mesmo que Deus será simpático ao vê-las tratando a sua missão de mães dessa maneira?

Quando o autor do Salmo 73 se angustiou com a prosperidade dos ímpios, ele reconheceu que só agiu assim porque foi BURRO (v. 22). Quando Jeremias fez a mesma reclamação, Deus lhe respondeu “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo?” (Jr 12.5), isto é: “Só por isso você está angustiado? O que vai fazer quando as coisas piorarem?”. O verdadeiro Deus não é tão “compreensivo” quanto os cristãos imaginam quando começam a reclamar. Contentamento é uma ordem.

Salomão retrata várias vezes o deleite que é desfrutar das coisas simples que Deus nos dá:

Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se? (Ec 2.24–25).

Sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e levar vida regalada; e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho (Ec 3.12–13).

Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção. Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus. Porque não se lembrará muito dos dias da sua vida, porquanto Deus lhe enche o coração de alegria (Ec 5.18–20).

Então, exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol (Ec 8.15).

Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras. Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol (Ec 9.7–9).

O contentamento não depende da quantidade de dinheiro. Um homem pode receber apenas o suficiente para comer, beber e se vestir, mas ele pode se alegrar genuinamente com essa vida simples. Ou ele pode receber riquezas maiores, e mesmo assim continuará tendo prazer nessa mesma simplicidade. Há tantos ricos que só conseguem se alegrar quando pagam caro por algum luxo, e logo estarão descontentes e desejando mais luxo. E há tantos pobres envenenados com inveja e que amaldiçoam o arroz com feijão do seu prato. O verdadeiro cristão está sempre feliz, e sempre recebe com ações de graças tudo o que vem da mão de Deus.

Quinto, Paulo nos dá uma das grandes razões para o contentamento: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele”. A primeira parte implica que tudo o que ganhamos nesta vida é dádiva de Deus e deve ser recebido com gratidão e humildade. A segunda parte nos mostra que as nossas riquezas materiais não irão nos acompanhar para a vida após a morte. Logo, nenhuma quantidade de dinheiro pode comprar a imortalidade no paraíso. E, caso o destino de um homem seja o fogo do inferno, de que adianta tanto esforço para ficar rico? “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem em troca de sua alma?” (Mc 8.36–37).

Então, lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus (Lc 12.15–21).

As riquezas podem ter vários proveitos, mas elas são inteiramente inúteis para garantir a alma. Todos os homens deveriam assegurar o seu destino eterno antes de pensar no conforto da vida presente. Um segundo no inferno basta para fazer qualquer bilionário se esquecer dos prazeres fugazes que sua vida luxuosa lhe proporcionou. Os ricos se acostumam tanto com as facilidades do dinheiro, mas pensam eles que irão impressionar Deus no dia no julgamento? O juiz do universo, o verdadeiro titular de todas as riquezas do mundo, irá aceitar suborno? “Os tesouros da impiedade de nada aproveitam, mas a justiça livra da morte” (Pv 10.2).

O contentamento é a atitude inteligente. Somente os estúpidos colocam as riquezas em primeiro lugar. Mesmo nesta vida o dinheiro é instável:

Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência. Porventura, fitarás os olhos naquilo que não é nada? Pois, certamente, a riqueza fará para si asas, como a águia que voa pelos céus (Pv 23.4–5).

Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso. Pois o homem não sabe a sua hora. Como os peixes que se apanham com a rede traiçoeira e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enredam também os filhos dos homens no tempo da calamidade, quando cai de repente sobre eles (Ec 9.11–12).

Após a morte, o que nos acompanha são as nossas obras (Ap 14.13), não nosso dinheiro. Os mundanos pensam que é precisamente isso que justifica o hedonismo e o enriquecimento: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Is 22.13). Se esta é a única vida em que podemos aproveitar as riquezas, então é isso que devemos fazer! O problema é que eles erram quando pensam que “morrerão amanhã”. Para eles, a morte é a última esperança de escapar da ira de Deus (Ap 9.6), por isso eles romantizam tanto a morte como um mero término das opressões da vida — “ele está em um lugar melhor”, dizem nos velórios. Que terrível é pensar assim, apenas para ver-se diante do tribunal do Leão de Judá e receber a sentença da tortura no inferno para sempre. A morte não é o fim, é apenas o início das dores. Vale a pena viver para as riquezas e não entesourar para o destino perpétuo da alma?

Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi (Is 55.1–3).

Sexto, Paulo descreve que tipo de vida fracassada levam aqueles que querem ficar ricos. Tenha em mente que ele descreveu falsos mestres que colocam o desejo pelo lucro financeiro acima de qualquer compromisso com a verdade de Deus. Paulo não está falando de um desejo sadio e submisso a Deus de melhorar as condições de vida, e sim de um espírito que coloca a busca pelo enriquecimento como o definidor das suas demais metas e compromissos. Esses homens “caem em ciladas e tentações”, precisamente porque não possuem a fortaleza do contentamento. Eles estão prontos para sacrificar valores morais e responsabilidades familiares e sociais para ganharem dinheiro. O resultado é que eles se atormentam com muitos sofrimentos e com uma completa ruína espiritual. Ebenezer Scrooge pergunta: “Que direito você tem de estar feliz? Que razão você tem para estar feliz? Você é um pobretão”. Ao que o seu sobrinho responde sagaz: “Que direito tem o senhor de estar triste? Que razão tem para estar deprimido? O senhor é um homem rico”.¹² A ganância e a avareza — que é idolatria (Cl 3.5) — distorcem a alma de um homem, tornando-o miserável por dentro. Devido ao seu pecado, será perseguido por Deus.

Sétimo, isso nos leva à máxima “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”, o que requer esclarecimento. Os mundanos já distorceram essa frase de diversas maneiras. Não é raro encontrar a frase “o dinheiro é a raiz de todos os males”, como se o problema fosse o dinheiro em si, e não o amor ao dinheiro. Já vi descrentes usando essa frase dessa maneira, como se fosse bíblica, para inquirir por que então a igreja pede dinheiro aos membros. Há também uma versão ulterior que diz “o dinheiro é a raiz de todos os problemas”. Qual não foi minha surpresa ao encontrar um artigo publicado no Instituto Mises respondendo a essa versão da frase, explicando como o dinheiro é na verdade a solução para muitos problemas. Tornou-se uma bola de neve, telefone sem fio. Tudo isso porque os descrentes não sabem ler.

“O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Já ficou claro o que significa o amor ao dinheiro pelas explicações que dei acima. Ressalto agora que esse amor ao dinheiro não é característica exclusiva de quem tem dinheiro. Ricos e pobres podem amar o dinheiro ou podem amar Deus acima de todas as coisas. A única diferença é que o pobre ama o dinheiro que gostaria de ter, o que o enche de inveja e ódio contra os que têm. Quase todas as revoluções sangrentas desde a Revolução Francesa foram nutridas pelo amor ao dinheiro, pela inveja dos pobres contra os ricos. Até hoje, o Estado de bem-estar social é dirigido por esse sentimento. É isso que está por trás de todo o clamor por políticas públicas de “justiça social”. Claro, aqueles que chegam ao poder ficam bastante ricos e continuam destruindo vidas pelo amor ao dinheiro que conquistaram. Não é exagero dizer que a democracia moderna é o resultado do conluio entre ricos e pobres que têm em comum o amor ao dinheiro.

Quanto a isso ser a raiz de todos os males, é importante esclarecer que “todos os males” seria melhor traduzido como “todos os tipos de males”, como aparece em outras versões da Bíblia. Nem toda instância de mal é resultado do amor ao dinheiro. Mas o amor ao dinheiro resulta em males de toda sorte. Ele traz sofrimentos, angústias e derrotas em todas as áreas da vida. Observe bem a vida de um ganancioso — rico ou pobre — e veja além das aparências, além das fotos sorridentes que ele publica. Veja, por exemplo, as celebridades de Hollywood: ricos até a medula, mas com famílias destruídas, desordens mentais, drogas, abusos, desorientação de valores. Joseph Jackson amou o dinheiro como ninguém, e aproveitou o talento musical de seus filhos para sair da miséria para o mundo milionário. Mas esmagou o coração da sua esposa Katherine com seus adultérios. Seus filhos, imitando a cobiça do pai, corroeram o afeto que tinham uns pelos outros. O próprio Michael, observando do alto da roda-gigante de sua Neverland, disse: “Eu tenho tudo… mas não tenho nada”.¹³

Empreendi grandes obras; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz jardins e pomares para mim e nestes plantei árvores frutíferas de toda espécie. Fiz para mim açudes, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Comprei servos e servas e tive servos nascidos em casa; também possuí bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os que antes de mim viveram em Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro e tesouros de reis e de províncias; provi-me de cantores e cantoras e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres. Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que viveram antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria. Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol (Ec 2.4–11).

Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano (Ec 5.10–13).

Todo trabalho do homem é para a sua boca; e, contudo, nunca se satisfaz o seu apetite. Pois que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Ou o pobre que sabe andar perante os vivos? Melhor é a vista dos olhos do que o andar ocioso da cobiça; também isto é vaidade e correr atrás do vento (Ec 6.7–9).

Quem ama o dinheiro nunca está satisfeito. Quem coloca a estabilidade da sua vida sobre as riquezas só encontrará frustração. E a justa retribuição pela sua arrogância será a condenação ao inferno.

Oitavo, por fim, Paulo nos diz como os ricos devem se portar como verdadeiros cristãos. Ele não diz para deixarem de ser ricos. Com relação ao dinheiro, eles devem ser generosos. Eles devem ser desprendidos e usar as suas riquezas para o socorro dos seus irmãos. O dinheiro é uma bênção nas mãos de um cristão rico que tenha aprendido essa lição. Mas principalmente, eles devem cuidar do seu caráter: não podem ser orgulhosos, não podem confiar nas riquezas, que são instáveis, e precisam acumular tesouros no céu, como Jesus ensinou no sermão do monte. Isso é simplesmente o buscar o reino de Deus em primeiro lugar, e agir para com o próximo de acordo com essa lealdade primária a Deus.

A base para esse caráter é a confiança em Deus, “que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento”. Muito ao contrário dos teólogos antiprosperidade, Paulo reitera a promessa de prosperidade financeira, e a utiliza como base para uma fé sólida. Os ricos devem estar plenamente seguros de que é Deus quem nos concede riquezas, e isso os libertará da confiança nas riquezas em si. Isso é magnífico e está muito além da capacidade dos pregadores enraivecidos contra qualquer “teologia da prosperidade”. Veja bem, Paulo não diz que Deus provê somente o necessário para sobreviver, e sim que ele provê “tudo” e “ricamente”. E ele não diz que o dinheiro é unicamente para ações de caridade ou ofertas na igreja, mas também “para o nosso aprazimento”. Sim, Deus nos dá riquezas também para o nosso próprio deleite. E sim, devemos realmente crer que Deus fará isso — não é algo fortuito. Desfrutar das riquezas que Deus nos deu, em gratidão a ele e em submissão aos mandamentos dele, é bíblico, bom e belo. As referências que transcrevi de Eclesiastes mostram exatamente isso.

Os teólogos do “mandato cultural” concordam com esse uso das riquezas, mas eles odeiam a ideia de que isso vem como promessa de Deus, como termo da aliança de Deus e como resultado da expiação. Mas, se não é em Deus que eles depositam sua confiança, então só pode ser neles mesmos, ou nas riquezas em si. Se eles alegarem que são contentes em Deus e dispostos a perder tudo caso a providência de Deus assim decida, então eles não afirmaram nada que seja incompatível com a promessa de prosperidade bíblica. Paulo explicou perfeitamente, em um capítulo só, como a confiança no fato de que Deus nos enriquece é precisamente aquilo que previne um rico de confiar nas riquezas em si, e que isso resulta em contentamento, generosidade e em um caráter piedoso e comprometido com a verdade. Por que isso é tão difícil para os mestres e doutores de hoje entenderem? A teologia da prosperidade, aqui em 1Timóteo 6 e em todos os demais textos que analisamos, é exatamente o antídoto contra a ganância, contudo os teólogos cessacionistas insistem que a teologia da prosperidade é essencialmente ganância. E eles são pagos com dízimos e ofertas para ensinarem isso. Logo, se eles se opõem à verdade de Deus, usando um vocabulário teológico erudito e ganhando dinheiro com isso, adivinhe com quem eles se parecem de acordo com 1Timóteo 6.

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¹² Um Conto de Natal, de Charles Dickens.
¹³ Michael Jackson: A Magia e a Loucura, de J. Randy Taraborrelli.

— Poder do Alto

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O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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