Prosperidade e Trabalho

O Senhor Que Te Sara
17 min readMar 29, 2023

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Um dos motivos pelos quais a promessa da prosperidade é mais complexa do que a promessa da cura ou da profecia é o condicionante do trabalho, que Deus insere nas suas promessas. Ao contrário dos demais milagres, Deus faz a promessa da prosperidade exigindo que nós também façamos alguma coisa, que é trabalhar.

Isso confunde muitos leitores, que não conseguem conciliar o trabalho como condição para a prosperidade e a promessa de Jesus no sermão do monte, que vincula a prosperidade à busca pelo reino de Deus enquanto nos diz que são os pagãos quem se esforçam para obter riquezas. Mas isso tem solução simples, se nos atentarmos à Palavra de Deus com diligência. E nenhum lugar melhor do que o livro de Provérbios para nos ajudar nisso.

Em primeiro lugar, é importante observar que muitos dos ditos em Provérbios concordam inteiramente com a ênfase de Jesus em Mateus 6:

Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares (Pv 3.9–10).

Se o reino de Deus for a prioridade da nossa busca, e se colocarmos inclusive o dinheiro em serviço do reino — como a promessa em Malaquias 3 também declara — então Deus nos recompensará com prosperidade material.

Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que pérolas, e tudo o que podes desejar não é comparável a ela. O alongar-se da vida está na sua mão direita, na sua esquerda, riquezas e honra (Pv 3.13–16).

Aceitai o meu ensino, e não a prata, e o conhecimento, antes do que o ouro escolhido. Porque melhor é a sabedoria do que joias, e de tudo o que se deseja nada se pode comparar com ela… Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e justiça. Melhor é o meu fruto do que o ouro, do que o ouro refinado; e o meu rendimento, melhor do que a prata escolhida. Ando pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo, para dotar de bens os que me amam e lhes encher os tesouros (Pv 8.10–11, 18–21).

Comparativamente, o conhecimento de Deus é muito mais precioso do que riquezas materiais, de modo que merece muito mais do que estas a nossa atenção. Mesmo assim, “riquezas e honra” vêm no pacote da sabedoria. Ela diz “aceitem o meu ensino, e não ouro e prata”, e “para dotar de bens e lhes encher os tesouros”. Não é difícil fazer ambas as afirmações ao mesmo tempo.

Não é certo que se despreza o ladrão, quando furta para saciar-se, tendo fome? Pois este, quando encontrado, pagará sete vezes tanto; entregará todos os bens de sua casa. O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa (Pv 6.30–32).

O roubo e o adultério dissipam os bens de um homem. Por isso, o mero trabalhar não garante riquezas a ninguém. É necessário que a lei do Senhor esteja acima de tudo no nosso coração, do contrário o castigo do empobrecimento virá, não importando o esforço que possamos fazer para ajuntar riquezas.

A bênção do Senhor enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto (Pv 10.22).

Os cessacionistas sempre passam a impressão de um Deus imprevisível, que pode nos dar coisas boas ao mesmo tempo em que planeja algum desastre contra nós, supostamente com algum propósito sublime em mente. Com toda a retórica antiprosperidade deles de que “Deus não é um gênio da lâmpada!”, acabaram oferecendo um deus que é muito semelhante aos demais gênios dos contos de Scheherazade, sempre manipulando os humanos e divertindo-se em frustrá-los e ludibriá-los. Salomão deixa claro aqui: a bênção de Deus traz riquezas, e essas riquezas não trarão desgosto. Não é algo que parece bom no início, mas depois resultará em problemas. É um presente de bondade, em concordância com Jesus, que disse que o nosso Pai sabe de tudo o que necessitamos e nos acrescentará todas as coisas.

Esses textos bastam para demonstrar que não há nenhuma mudança entre a mensagem de Provérbios e a mensagem de Jesus. Agora, vamos a uma série de textos que condicionam a riqueza ao trabalho e que ameaçam pobreza aos indolentes:

Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado (Pv 6.6–11).

O que trabalha com mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer-se. O que ajunta no verão é filho sábio, mas o que dorme na sega é filho que envergonha (Pv 10.4–5).

O que lavra a sua terra será farto de pão, mas o que corre atrás de coisas vãs é falto de senso. O perverso quer viver do que caçam os maus, mas a raiz dos justos produz o seu fruto (Pv 12.11–12).

A mão diligente dominará, mas a remissa será sujeita a trabalhos forçados (Pv 12.24).

O preguiçoso não assará a sua caça, mas o bem precioso do homem é ser ele diligente (Pv 12.27).

O preguiçoso deseja e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta (Pv 13.4).

Vês a um homem perito na sua obra? Perante reis será posto; não entre a plebe (Pv 22.29).

Passei pelo campo do preguiçoso e junto à vinha do homem falto de entendimento; eis que tudo estava cheio de espinhos, a sua superfície, coberta de urtigas, e o seu muro de pedra, em ruínas. Tendo-o visto, considerei; vi e recebi a instrução. Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado (Pv 24.30–34).

Procura conhecer o estado das tuas ovelhas e cuida dos teus rebanhos, porque as riquezas não duram para sempre, nem a coroa, de geração em geração. Quando, removido o feno, aparecerem os renovos e se recolherem as ervas dos montes, então, os cordeiros te darão as vestes, os bodes, o preço do campo, e as cabras, leite em abundância para teu alimento, para alimento da tua casa e para sustento das tuas servas (Pv 27.23–27).

Há muitos outros textos, mas o sentido é sempre o mesmo: o homem sábio deve trabalhar com dedicação, constância, prevenção e argúcia se quiser enriquecer; do contrário, ele cairá na pobreza. Qual é, então, a diferença entre a prosperidade que vem do trabalho do justo e a tentativa de prosperidade que vem do esforço dos pagãos?

Em primeiro lugar, o trabalho do justo não é a sua esperança de enriquecer, e sim um dever prestado em obediência a Deus para honrá-lo. A produção de riqueza não é consequência do trabalho, e sim do decreto de Deus que deseja usar o trabalho do homem como instrumento dessa produção. Assim, ao passo que os ímpios procuram maximizar os seus resultados por meio de projeções econômicas e cálculos complexos, o justo sabe que Deus já garantiu a sua prosperidade, bastando que continue trabalhando bem.

Observe novamente o exemplo de José, o filho de Jacó. Ele trabalhou como um escravo comum, depois como um mordomo e por fim como um superintendente da prisão. Não havia a menor vantagem econômica no que ele fazia. Ele ou produziu para os outros ou não produziu absolutamente nada. Mas ele era homem justo, sábio e agraciado por Deus, e por isso era bem-sucedido em tudo o que fazia, de modo que ganhou boa reputação diante dos outros. Eventualmente, com a intervenção do poder milagroso de Deus, interpretou os sonhos dos prisioneiros e do faraó e tornou-se o homem mais poderoso do mundo. Não havia a menor correlação natural entre o trabalho de José e a prosperidade que ele recebeu depois, mas Deus criou essa correlação pelo seu poder, contra qualquer expectativa humana.

Em segundo lugar, o trabalho prestado como obediência a Deus, e não como um modo de autosserviço, é agradável a Deus e atrai a sua recompensa. Aqui, uso o mesmo raciocínio que expliquei no livro O Senhor que te Sara quando expus a correlação entre higiene e saúde e entre nutrição e saúde. Os ímpios pensam que devem atender a hábitos alimentares específicos e de higiene porque são fatores que resultam em saúde física. Mas o ensino bíblico é que a moderação na comida e na bebida e o cuidado com o asseio pessoal são atos morais, de pureza diante de Deus, e não pragmáticos ou científicos. E, como integram o corpo da lei de Deus, a obediência a esses preceitos resulta na bênção de Deus em nós, conferindo saúde e outros benefícios. O mesmo pode ser dito do trabalho: o trabalho em si não traz riqueza, mas o trabalho feito como um ato de obediência a Deus é intitulado à bênção da prosperidade que vem de Deus.

Em terceiro lugar, o trabalho do justo é apenas um de muitos aspectos do seu estilo de vida que contribui para a recepção da promessa da prosperidade. O ímpio também trabalha muito, mas ele isola o trabalho do restante da sua vida. Assim, ele pensa que as suas imoralidades e blasfêmias não interferem em nada na sua riqueza, desde que ele esteja trabalhando, calculando e investindo. Mas essa esperança é falsa: o ímpio pode ser um gênio das finanças e um viciado em trabalho, mas sua riqueza será destruída pelas suas imoralidades sexuais, seus roubos e sua idolatria. O trabalho do justo, por outro lado, está subordinado ao corpo de obediência que ele deve prestar integralmente a Deus, de modo que a importância que ele dá ao trabalho em si como fonte de riqueza é relativo, se não mínimo.

Por essa razão, o justo pode dedicar muito do seu tempo para trabalhos não lucrativos — a busca pelo reino de Deus — e ainda assim prosperar financeiramente. E ele pode renunciar a muitos dos seus bens em favor do reino de Deus sem se preocupar se não faltará, pois Deus sempre garantirá o seu sustento. Em termos de produtividade, o “pouco” que ele faz renderá muito, em comparação com o ímpio, que se desgasta para ficar rico e recebe muitas frustrações como punição. Isso porque Deus é quem faz a prosperidade surgir, e não há limites para o que ele pode fazer — nenhum cálculo de horas trabalhadas pode limitar a ação de Deus.

Além disso, nunca podemos perder de vista o elemento do milagre, como foi no caso de José. Deus faz surgir ocasiões inesperadas para milagres que conduzam à prosperidade, ou mesmo para a criação de prosperidade por milagre. Sim, “cai do céu”, e nenhum crente deveria dizer o contrário. Assim, o que o justo ganha é muito mais do que apenas o seu trabalho poderia render. Deus tem os seus meios de multiplicar dinheiro e provisão.

Em quarto lugar, e em conexão com os demais pontos acima, o trabalho em Provérbios é contrastado com a preguiça, e é nesse contexto que devemos ver a relação entre trabalho e prosperidade. A preguiça é um pecado contra Deus e atrai a sua maldição de pobreza e ruína, logo o contrário a se fazer para não cair nesse estado é trabalhar. Esse destaque é importante porque muitas pessoas não trabalham por outras razões que não a preguiça: existem deficientes, existem idosos, existem pessoas em situação de calamidade pública, crises econômicas, guerras e perseguições. Pessoas assim muitas vezes tentam trabalhar, mas não conseguem. Logo, elas não podem ser acusadas de preguiça. Elas devem continuar tentando, é claro, mas mesmo quando não podem, elas são intituladas à promessa de prosperidade, desde que mantenham sua confiança em Deus. Foi assim que Deus sustentou Elias no deserto, que Jesus alimentou as multidões que o seguiam, e que, por meio da igreja, Deus sustenta as viúvas verdadeiramente necessitadas (1Tm 5.5). Uma vez que os ímpios não têm nada além do trabalho para se apoiarem, não há qualquer esperança para eles quando isto lhes falta, e daí vêm suas ansiedades, inseguranças e sua idolatria ao mérito próprio. O justo, por outro lado, sabe que Deus é fiel para o sustentar, com ou sem trabalho — embora nunca com a preguiça.

Ainda sobre esse assunto, a Bíblia ensina que eximir-se de trabalhar para viver da prosperidade alheia é um pecado de consequências gravíssimas:

Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado (Ef 4.28).

Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes; pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós, nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós; não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes. Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão (2Ts 3.6–12).

O primeiro texto diz que o ladrão não deixa de ser ladrão quando para de roubar, e sim quando começa a ganhar seu sustento com trabalho honesto e quando começa a socorrer os necessitados com esse soldo. Isso significa que a pessoa que se recusa a trabalhar é igual ao ladrão, pois vive às custas da prosperidade alheia. E um ladrão não está intitulado a qualquer promessa de bênção.

O segundo texto diz que, mesmo quando uma pessoa se dedica a um trabalho que não é economicamente produtivo — como no caso do próprio apóstolo Paulo — ela deve receber o pagamento pelo seu trabalho. Nesse caso, o pagamento vem dos dízimos e ofertas. Assim, independentemente da natureza do seu trabalho, ela está honrando a Deus por trabalhar e merece receber o seu salário. Agora, se um homem deliberadamente se recusa a trabalhar, e passa o seu tempo ocioso se intrometendo na vida alheia, então ele merece morrer de fome e ninguém deve socorrê-lo. Essa é a política de caridade da igreja que a Bíblia ordena: deixe o preguiçoso morrer desnutrido. Ele levará a culpa sobre si.

É pertinente fazer uma aplicação aqui para a situação dos jovens. Uma das mentiras que eles mais ouvem durante o seu tempo na escola e na faculdade é “a sua profissão é estudante”. Essa frase estúpida provê a racionalização da sua indolência por muitos e muitos anos em que eles poderiam ser produtivos. E esse comportamento é quase sempre ensinado e incentivado pelos seus pais, que parece não terem nada mais importante para cobrar do filho do que notas na escola e uma posição elevada em provas de admissão em faculdades. Adicionalmente, a legislação que proíbe menores de idade de trabalharem, com algumas exceções, contribui para a mentalidade avessa ao trabalho que os adolescentes formam em si. Há tantos jovens com mais de 20 anos que nunca sequer tentaram um trabalho, ou que só querem um trabalho que seja “digno” na opinião mimada deles — limpar banheiros, nem pensar! Pelo critério de Paulo, os tais são ladrões, nutrindo-se da prosperidade dos seus pais, e deveriam ser sumariamente expulsos de casa, e deixados para morrerem de fome.

Seria impossível falar de trabalho e prosperidade em Provérbios e omitir a “esposa ideal” de Provérbios 31. O texto diz o seguinte:

Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de finas joias. O coração do seu marido confia nela, e não haverá falta de ganho. Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida. Busca lã e linho e de bom grado trabalha com as mãos. É como o navio mercante: de longe traz o seu pão. É ainda noite, e já se levanta, e dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas. Examina uma propriedade e adquire-a; planta uma vinha com as rendas do seu trabalho. Cinge os lombos de força e fortalece os braços. Ela percebe que o seu ganho é bom; a sua lâmpada não se apaga de noite. Estende as mãos ao fuso, mãos que pegam na roca. Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao necessitado. No tocante à sua casa, não teme a neve, pois todos andam vestidos de lã escarlate. Faz para si cobertas, veste-se de linho fino e de púrpura. Seu marido é estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da terra. Ela faz roupas de linho fino, e vende-as, e dá cintas aos mercadores. A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações. Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua. Atende ao bom andamento da sua casa e não come o pão da preguiça. Levantam-se seus filhos e lhe chamam ditosa; seu marido a louva, dizendo: Muitas mulheres procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas. Enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada. Dai-lhe do fruto das suas mãos, e de público a louvarão as suas obras (Pv 31.10–31).

Não há a menor dúvida de que a mulher bíblica é trabalhadora tanto quanto o homem. Mulheres não podem ser ociosas e estão sujeitas à mesma maldição de Deus se forem preguiçosas. Um exemplo histórico típico desse tipo de mulher é a mulher burguesa do século XVIII. Se você já leu algum romance da Jane Austen, especialmente Mansfield Park, sabe do que estou falando. A mulher que tem uma ama-de-leite para amamentar seus filhos, uma preceptora para educálos e servas para cuidarem da casa passa o dia todo sem fazer absolutamente nada. Preguiçosa e mimada até a medula. Isso é totalmente condenado nas Escrituras. Até mesmo as viúvas idosas devem estar dispostas a trabalhar pelo bem da igreja se quiserem ser sustentadas (1Tm 5.10).

Mas é evidente que o trabalho do homem e o trabalho da mulher são bem diferentes. O homem trabalha fora e é o responsável pelo sustento do lar. Nós vemos isso em todos os exemplos da Escritura — sempre é o homem que lavra a terra, cuida dos animais, exerce posições de autoridade na sociedade e faz comércio fora. A mulher, por outro lado, está sempre em casa cuidando da gestão do lar. Ambos os trabalhos são essenciais para uma família próspera.

Existem muitas afirmações nesse texto mostrando que a mulher ideal transaciona com outros e até fora de casa — “de longe traz o seu pão” — e muitos pregadores se baseiam nisso para dizer que a mulher pode ter uma carreira fora de casa desde que “priorize” a família. Mas há muitos problemas com essa interpretação. Primeiro, o texto não fala nada sobre a mulher trabalhar fora, mas apenas menciona que ela sai de casa para resolver negócios. Quando o texto diz “de longe traz o seu pão”, não significa que ela sai para trabalhar longe e ganhar dinheiro para comprar pão, e sim que ela vai trazer o pão de longe — ela não tem preguiça de sair para comprar comida, mesmo quando precisa andar muito. Também quando diz “examina uma propriedade e adquire-a” é uma referência à compra. Quanto ao trabalho materialmente produtivo dela, as únicas referências são às roupas que ela tricota — com as quais ela agasalha a sua família, doa aos necessitados e vende aos mercadores — e à vinha que ela planta. São trabalhos feitos no lar, e para o benefício imediato da sua casa. E ela de fato ganha dinheiro, pois ela planta essa vinha “com as rendas do seu trabalho” e “percebe que o seu ganho é bom”. Mas como ela conseguiu esse dinheiro? Não foi fazendo uma carreira fora de casa, e sim vendendo o excedente de roupas aos mercadores — atuando como uma fornecedora — e gastando com perspicácia, de maneira econômica. Em contraste, o seu marido está “às portas da cidade”, longe do lar, exercendo sua influência diretamente na sociedade.

Assim, o máximo que esse texto nos permite defender sobre o trabalho rentável da mulher é que ela tenha um negócio familiar e que ela administre o dinheiro de maneira econômica e sábia. Mas sair para cumprir jornada de trabalho fora da vista da sua casa é bem diferente. Ela não pode fazer isso e cuidar adequadamente dos seus filhos e da sua casa ao mesmo tempo. Mesmo que ela tenha empregadas domésticas, como a mulher desse texto tem, ela está junto a elas, trabalhando com elas desde antes do nascer do sol. Um bom exemplo na literatura é a personagem Anne, da série de Lucy Montgomery. Seu marido Gilbert passa o dia fora de casa trabalhando como médico, mas ela permanece em casa fazendo as tarefas domésticas e educando os seus seis filhos, mesmo com a ajuda da sua criada Susan.

A verdade é que, quando uma esposa decide fazer carreira, e principalmente quando ela se torna mãe, problemas insuperáveis aparecem. O pior de todos é o fato de que ela não está mais velando pelos seus filhos, mas os confia a terceiros. Babás, creches e escolas são péssimos substitutos para o cuidado pessoal de uma mãe, e as consequências na formação moral são desastrosas. É assim que a ruína de uma família começa, e é uma das principais razões pelas quais o legado cristão está em frangalhos no Ocidente. Outro problema é que a mulher acaba se sujeitando à autoridade de outro homem que não o seu marido, e isso desnecessariamente. O andamento do lar acaba tendo de se sujeitar às ordens do patrão da mulher, e conflitos surgirão.

Ademais, o ônus da prova deveria recair sobre elas: por que é tão importante fazer uma carreira fora? Por que é mais prazeroso e mais satisfatório ir servir a estranhos do que ficar em casa regendo o seu próprio domínio como uma rainha? Nenhuma mulher cristã consegue justificar biblicamente e espiritualmente por que a carreira é tão importante. O fato é que elas são feministas mal disfarçadas. Elas pensam que o seu valor está em competir com homens e ocupar o espaço tradicionalmente ocupado por eles. Elas desprezam o lar e até os filhos como algo secundário, ou até degradante na pior das hipóteses. Lavar louças e pendurar roupas não trazem o glamour que elas idolatram. Na verdade, a maioria das mulheres nem pensa que há um conflito para resolver. Elas assumem que terceirizar os filhos e a casa não tem problema nenhum. Mas elas estão em pecado, abandonando a sua vocação e destruindo o seu lar em longo prazo com a sua omissão.

Deus cumpre a sua promessa de prosperidade quando homem e mulher trabalham, mas isso não significa que a mulher deve fazer uma carreira para ganhar dinheiro. Esse é o grande ponto da fé em um lar. O trabalho não traz prosperidade em função de ser lucrativo, e sim em função de ser submisso à Palavra de Deus. O trabalho do homem traz o sustento principal do lar, mas o trabalho da mulher como mãe, educadora dos filhos, maximizadora da eficiência dos recursos e ordenadora da casa e do terreno é sim um trabalho intitulado à promessa de prosperidade. Isso significa que uma mulher não deve pensar que deve fazer carreira sob a justificativa de aumentar o salário da família. Prosperidade vem de Deus, e não da quantidade de horas trabalhadas dos membros da família somados. A mulher pode ganhar alguma renda com um negócio familiar, como o texto mostra — eu não me oporia, por exemplo, a que a mulher vendesse roupas, doces ou salgados na sua vizinhança, por exemplo — mas ela não deve pensar que precisa de um salário para sustentar o lar. O que me deixa perplexo é que essas constatações soem ofensivas às mulheres, quando deveriam ser recebidas como uma libertação de um fardo desnecessário.

Na minha família, eu sou o único que trabalha fora. O meu salário sozinho sustenta o lar. Mas a minha esposa gasta horas pesquisando os melhores preços e as melhores promoções para comprarmos roupas e presentes de Natal para as crianças. E foi somente por causa das pesquisas incessantes dela — literalmente horas por dia — que conseguimos encontrar as melhores casas para alugarmos dentro das nossas possibilidades. Eu nunca teria conseguido isso sozinho, e ela não teria tempo para isso se estivesse envolvida com uma carreira. Assim, o olhar diligente e a gestão sábia dela foram cruciais para alcançarmos maior prosperidade. É assim que uma mulher presta um trabalho valioso para a sua casa. E Deus provou a sua fidelidade tornando-nos mais prósperos do que muitos casais com renda maior do que a minha.

A condição do trabalho — isto é, como antítese da preguiça — como condição para a prosperidade foi satisfatoriamente explicada. Agora, pense de novo na frase que citei em outro capítulo: “A maior bênção do evangelho é a salvação. Se você quer ficar rico, vá trabalhar”. Que frase demoníaca! Sem a reconciliação com Deus por meio do evangelho, o “vá trabalhar se quiser ser rico” é exatamente o tema dos pagãos. Que Deus abençoa o nosso trabalho conferindo prosperidade, só é possível porque a prosperidade é uma das bênçãos do evangelho. Veja, aqueles que falam sobre “cosmovisão bíblica” ou “cosmovisão calvinista” frequentemente dizem estupidezes como essa, isolando as bênçãos do evangelho para uma área bastante restrita da vida e deixando as outras para a nossa própria capacidade.

Há muitas outras coisas que poderiam ser ditas a respeito da doutrina bíblica do trabalho. Mas o nosso assunto aqui é a promessa de prosperidade, e sobre isso bastam as explicações acima.

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O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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