Prosperidade e Sofrimento
Muitos cristãos têm dificuldade de harmonizar as promessas de prosperidade com os alertas de sofrimento contidos na Bíblia. Como é possível orar por prosperidade e abraçar as promessas de riquezas e poder e, ao mesmo tempo, dispor-se a sofrer por Cristo, enfrentando muitas vezes a perda de bens, o exílio e a morte? Os teólogos da incredulidade exploram esse tema em suas invectivas retóricas contra os neopentecostais. Eles insistem: “Jesus nunca prometeu uma vida boa! Jesus nunca disse que teríamos uma vida fácil! No mundo, tereis aflições! Se você quer ser cristão, você vai sofrer! As igrejas que prometeram prosperidade e fim dos problemas mentiram!”. Há alguns anos, lembro que havia se tornado um clichê entre os evangélicos: todo mundo quer prosperidade, mas ninguém quer sofrer pelo evangelho.
Agora, é óbvio que, se um cristão quiser somente prosperidade e não está disposto a sofrer nada pela justiça, ele está errado e provavelmente nem é cristão de verdade. Mas os neopentecostais poderiam devolver na mesma moeda, afirmando que, se um cristão quer somente sofrer por Cristo enquanto rejeita a bênção da prosperidade, ele está também muito errado e pecando pela incredulidade e pelo legalismo. E o ataque deles seria muito mais certeiro. Digo isso porque o ataque aos neopentecostais costuma ser exagerado e às vezes injusto — eu, pelo menos, nunca vi um neopentecostal dizer que não devemos sofrer por Cristo, ou que verdadeiros cristãos não sofrem nunca, embora sejam retratados dessa maneira pelos pregadores tradicionais. Por outro lado, estes declaram explicitamente a sua ojeriza às promessas de prosperidade contidas na Escritura, e delineiam sua predileção pelo tema do sofrimento em oposição ao tema da prosperidade.
O fato é que a Bíblia ensina as duas coisas e designa as duas coisas para a vida e para a expectativa de cada cristão.
Então, Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos. Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna (Mc 10.28–30).
Jesus declara claramente: aqueles que deixam tudo para segui-lo receberão cem vezes mais familiares e propriedades, junto às perseguições e à vida eterna. A promessa de prosperidade aqui não pode ser espiritualizada, visto que o ponto de referência são as propriedades que foram deixadas, as quais são materiais; além disso, Jesus distingue entre essas “famílias e campos” e a vida eterna. Não é possível também postergar essa recompensa para após a morte, porque Jesus diz “já no presente”. Logo, Jesus, na mesma frase, prometeu aos cristãos prosperidade material, perseguições e a vida eterna. Qualquer teólogo que lance uma coisa contra a outra está em desacordo com Jesus e não pode falar em nome dele.
Agora, vamos analisar o contexto para vermos como isso se realizou na vida dos discípulos. Existe um fato do Novo Testamento que costuma ser negligenciado, mas que é a chave para a resolução de muitas dificuldades na interpretação dos textos e na harmonização com o Antigo Testamento: o fato de que a vinda de Jesus significou não apenas o cumprimento das promessas de salvação, mas também o julgamento definitivo contra o Israel que rejeitasse essa salvação. A destruição iminente de Jerusalém marca o tom do Novo Testamento quase todo, e esse dia de juízo é mencionado muito mais vezes do que costuma ser percebido. Naquela mesma geração em que Jesus exerceu o seu ministério, Deus decidiu deserdar para sempre aquele povo que havia perseguido os profetas e matado o Filho de Deus, e esse novo e último exílio dos judeus confere o senso de urgência e fuga presente em tantas advertências do Novo Testamento. E isso traz diversos impactos para a realização das promessas de prosperidade material.
O Antigo Testamento, quando declara as bênçãos de Deus, enfatiza a ideia da herança da terra e do enriquecimento das famílias dentro de suas propriedades. Porém, a maldição pactual também alertou que Israel perderia suas posses e seria expulso da terra caso fossem infiéis. No Novo Testamento, a ideia de exílio e perda aparece com frequência precisamente porque aquela era a geração que experimentaria a maldição, e não a bênção. Assim, o Israel espiritual, aqueles dentre os judeus que recebessem Jesus, não poderiam mais contar com vidas estáveis, com a sua “zona de conforto” na Pax Romana em que estavam vivendo até então, pois o julgamento de Deus estava chegando para separar o remanescente fiel da nação apóstata. Se o exílio e a desolação da guerra eram iminentes, então não fazia mais sentido apegar-se a propriedades naquela terra. O horizonte do mundo inteiro se abriu para aqueles que obedeceram a Jesus quando disse “Fujam para os montes” (Mt 24.15–20). Os dias de permanência na terra de Israel estavam contados. Os discípulos de Jesus tinham de estar prontos para fugir e dar adeus à sua terra natal.
E isso já aconteceu no Antigo Testamento, no tempo do exílio da Babilônia. Observe o que Deus disse a Baruque, o fiel amigo de Jeremias:
Assim diz o Senhor, Deus de Israel, acerca de ti, ó Baruque: Disseste: Ai de mim agora! Porque me acrescentou o Senhor tristeza ao meu sofrimento; estou cansado do meu gemer e não acho descanso. Assim lhe dirás: Isto diz o Senhor: Eis que estou demolindo o que edifiquei e arrancando o que plantei, e isto em toda a terra. E procuras tu grandezas? Não as procures; porque eis que trarei mal sobre toda carne, diz o Senhor; a ti, porém, eu te darei a tua vida como despojo, em todo lugar para onde fores (Jr 45.2–5).
Baruque sabia muito bem que Deus havia feito promessas de prosperidade material no livro da lei, nos Salmos e nos Provérbios. Mas Deus disse: não é o momento. Aquele era um tempo de execução de julgamento, de destruição contra a terra. Não fazia sentido procurar estabilidade e enriquecimento naquelas circunstâncias. Ainda assim, Deus prometeu proteger a vida de Baruque e sustentá-la por todo o mundo.
É dessa maneira que devemos entender as palavras de Jesus aqui. Ele disse ao jovem rico que vendesse todos os seus bens aos pobres e o seguisse. Muitas pessoas pensam que isso era apenas um teste para mostrar a idolatria do coração daquele homem. No entanto, essa exigência de Jesus não foi especialmente dirigida para ele. Ele a cobrou de todos os seus discípulos, tanto que Pedro pontuou que eles haviam feito aquilo que o rico não pôde fazer.
Agora, por que isso? Por que as pessoas tinham de necessariamente deixar seus lares, suas propriedades e suas famílias para seguirem Jesus? Não podiam ser discípulos à distância? Aliás, por que Jesus “não tinha onde repousar a cabeça” em primeiro lugar? Precisamente porque a situação de Israel naquela geração era a mesma de quando Jeremias e Baruque viveram. Não é que Jesus exige a pobreza como uma virtude moral. Apenas acontece que tudo aquilo a que os judeus se apegavam estava prestes a ser incendiado pelos romanos. Veja bem: se você soubesse, com toda a certeza, que a China está prestes a invadir o Brasil em poucos anos para matar todo mundo, você investiria em um imóvel aqui, ou você facilitaria a sua fuga quando o momento chegasse? Mas para os judeus que haviam se apegado tanto à provisão material de Deus e à posição de abençoados que isso representava, tal desprendimento exigia fé.
Por isso era necessário deixar tudo para seguir Jesus. As casas em que os discípulos moravam estariam em ruínas em pouco tempo. Suas famílias originais logo estariam banhadas em sangue. A partir do momento em que Jesus chamasse, o estilo de vida de quem está se preparando para colher uma herança no mundo em longo prazo, quando Deus destruísse por completo a sua terra natal, era imperioso. Esse era o custo de seguir Jesus. E é por isso que vemos com tanta frequência a ideia de desfazer-se de todos os bens, inclusive na igreja de Jerusalém em Atos e até na parábola do mordomo infiel (Lc 16.1–13).
A promessa de prosperidade de fato se realizaria por meio da igreja. Os discípulos deixaram suas casas e suas famílias, mas eles receberam cem vezes mais familiares e casas quando se uniram ao único povo de Deus, o Israel espiritual, aqueles que constituiriam um novo reino que permaneceria ileso enquanto os gananciosos da sua terra de origem agonizassem diante da espada romana. A fraternidade do povo de Deus representa muito mais lares e uma família muito maior do que nosso lar comum. Isso não é figurado ou “espiritual”, mas é físico e material.
Às vezes, a “igreja” significa um único profeta de Deus com fé para operar milagres. Quando a viúva de Sarepta — que não era uma israelita, mas ainda assim estava sofrendo com os três anos de seca sobre Israel — estava prestes a consumir sua última provisão, Elias fez multiplicar o seu azeite para que ela sobrevivesse. Assim como Baruque, uma vez que a viúva estava em um momento de julgamento pesado de Deus sobre a nação — imagine a fome e o desespero após três anos sem chuva — ela não podia esperar muito. Mas isso apenas significa que o pecado de uma nação traz consequências para os inocentes. Os cristãos podem sofrer perdas devido à situação de castigo de Deus sobre o seu país, mas isso não significa que Deus não prometeu prosperidade, apenas que a prosperidade irá se realizar de um modo diferente do que se poderia esperar em circunstâncias de estabilidade.
Fica muito claro como a prosperidade e a perseguição não se contradizem. Um cristão que sofre perseguição deve sim estar disposto a perder os seus bens e a considerar que seu tesouro no céu é o mais importante (Hb 10.34). Mas ele desfrutará da prosperidade de outras maneiras, como com o cuidado da igreja. A prática da igreja de Jerusalém em Atos mostra como a venda das propriedades, que era benéfica para esses ricos proprietários por facilitar a fuga deles quando o juízo surgisse, também beneficiava os pobres por suprir as suas necessidades. Quando um cristão sofre perseguição, ele tem todo o amparo do povo de Deus, e isso também é um modo de Deus cumprir suas promessas de prosperidade, principalmente em circunstâncias de juízo iminente e exílio. E, ainda que a igreja fracasse nessa dispensação de provisão — e ela fracassa muitas vezes — Deus ainda irá garantir o cuidado, pois ele é o vingador pessoal do órfão, da viúva e do estrangeiro, e fará chover pão do céu ou enviar os animais para levar provisões (como fez com Elias) se necessário.
Um cristão que sofra perseguições ou que precise se desfazer de tudo por causa do julgamento de Deus contra a sua cidade ainda irá desfrutar das promessas de prosperidade, e isso sim é uma prova de fé, porque a fonte do seu sustento será uma que ele não poderá controlar, como contribuições de irmãos, doações inesperadas ou mesmo milagres. Como Hebreus 13.5 diz, citando a lei para essa circunstância: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei”. Isso é andar por fé e não por vista.
Agora, note como a inépcia dos teólogos fica evidente aqui. Primeiro, eles assumem que o cristão está sempre nessa situação de emergência em que os crentes do Novo Testamento estavam. Eles advertem contra qualquer expectativa de estabilidade ou de enriquecimento, muito embora a Escritura prometa essas coisas como a situação normal do justo. Isso afronta Deus de muitas formas. Além de atentar contra a autoridade da Escritura ao relativizar todas as promessas de prosperidade, também distorcem a revelação do caráter de Deus. Situações como a do juízo contra Jerusalém no primeiro século ou como a do exílio babilônico são raras em comparação com os longos períodos de normalidade que Deus, em sua impressionante longanimidade, concede às nações. Claro, quando Deus iniciar o seu juízo contra um povo, ou mesmo contra o mundo todo, devemos louvá-lo por isso e nos dispor a suportar as consequências ao nosso redor. Mas isso não é o cotidiano típico de um cristão. Deus não está enviando guerras, pragas e desastres naturais a todas as cidades do mundo todos os dias. Os cristãos têm a vida bastante tranquila aqui no Ocidente. Isso pode mudar, e parece estar no caminho de mudar, mas isso não muda o fato de que desfrutamos de longos períodos, de muitas gerações de estabilidade em nossas vidas. Quando os teólogos dizem que o cristão “vai sofrer perseguições”, e enfatizam isso como se fosse a única expectativa legítima para a vida dele, com base nos textos do Novo Testamento e ignorando as promessas da lei, dos Salmos e dos Provérbios, estão ofendendo a longanimidade de Deus e mostrando ingratidão para com os tempos bastante tranquilos que geralmente experimentamos pela benevolência de Deus.
Segundo, eles, não sei por qual defeito de leitura, exaltam todo tipo de sofrimento como se fosse equivalente a perseguição. Eles tomam os textos bíblicos que afirmam que os cristãos serão perseguidos e alargam para comportar o “sofrimento” em geral. Eles dizem que Deus nos ensina na “escola do sofrimento”, que, se você quiser ser cristão de verdade, você irá “sofrer” (sem qualquer qualificação), que o sofrimento é essencial para a nossa santificação, e denunciam como mesquinhos e antropocêntricos todos aqueles que querem uma vida tranquila. Eu realmente não sei de onde eles tiram essas ideias, porque da Bíblia não é. Contrariando essa ortodoxia mórbida, eu afirmo que a vida cristã é a menos sofrida que existe e que Deus elimina muito do sofrimento na nossa vida ao cumprir as suas promessas. E, com relação às promessas de prosperidade material, é fato que Deus elimina ou reduz muito das nossas dores e desconfortos ao nos tornar prósperos.
“Sofrimento” é uma palavra muito ampla, e a Bíblia não fala de sofrimento sem fazer várias qualificações. Não é um pacote homogêneo e hermeticamente fechado. De início, afirmo que todas as vezes em que a Bíblia afirma que o cristão irá necessariamente sofrer, ela está falando de perseguições por causa da justiça. Assim, Jesus diz que somos bem-aventurados quando somos caluniados e perseguidos pelo reino de Deus, porque o nosso galardão no céu é grande. Paulo diz a Timóteo que todo aquele que deseja viver piedosamente em Cristo será perseguido. Na última ceia, Jesus disse que passaríamos aflições no mundo. Tudo isso se refere às investidas dos ímpios contra nós quando obedecemos a Deus em lugar de ceder à voz do mundo. Isso é esperado porque fazemos parte de um reino que já é vitorioso, mas ainda está em expansão, e os inimigos não se entregarão sem resistência. Assim, os cristãos são atacados pelos ímpios, mas mesmo esse tipo de sofrimento varia de intensidade, e há períodos longos em que Deus concede sossego à igreja suspendendo até mesmo essas perseguições.
Portanto, não há nenhum problema em orar para Deus dar fim a situações de perseguição. Aliás, quantas vezes você viu cristãos orarem para que os missionários em países comunistas ou islâmicos parem de ser perseguidos? É de praxe orar por encorajamento e fortalecimento, mas quase ninguém ora para que eles realmente tenham um tal sucesso na evangelização que os países se tornem cristãos e abandonem por completo suas religiões falsas. Muitos cristãos parecem até desejar perseguições, mas isso é loucura. Não, devemos lutar pelo fim das perseguições ao trazer a vitória do evangelho para as nações. Haverá perseguições, mas pouco a pouco Cristo irá conquistar e vencer.
Quanto ao restante dos sofrimentos, não há o menor motivo para romantizá-los. A Bíblia nos ensina a escapar e a vencer esses sofrimentos por meio da fé. Assim, o sofrimento pela pobreza é vencido pela fé nas promessas de prosperidade. O sofrimento da enfermidade é vencido pela fé na cura milagrosa. O sofrimento das decisões ruins na vida é vencido pela fé na promessa de sabedoria. O sofrimento da infertilidade é vencido pela fé na promessa de fertilidade. O sofrimento da violência é vencido pela fé nas promessas de proteção. Além disso, todo o sofrimento que nos acomete como consequência do pecado é removido da nossa vida quando passamos a obedecer a Deus e viver sob a sua regência, que de fato confere uma vida acertada e suave. Relacionamentos abusivos, pais que oprimem ou filhos que trazem tristeza são transformados quando a Palavra de Deus é aplicada.
Agora, quando os cristãos rejeitam essas promessas de libertação e poder e abraçam as circunstâncias de sofrimento como se fossem “a vontade de Deus”, é claro que eles realmente irão sofrer muito. E, o que é pior, irão avaliar esses sofrimentos como se fossem confirmações de Deus da sua piedade. Isso é uma escravidão espiritual horrenda. Suas vidas estarão destinadas à mediocridade e ao fracasso sem qualquer necessidade.
A verdade é que todas as desculpas teológicas que os pregadores dão para o sofrimento são nada mais do que racionalizações do seu próprio fracasso. Se eles ou os homens que eles admiram não alcançam as promessas de Deus, eles preferem anular essas promessas — chamar Deus de mentiroso — do que admitir que há algo errado neles. E ainda irão perseguir todos os cristãos que ousarem repetir o que a Bíblia diz e discordar deles.
Quando eu vejo a vida dos ímpios ou dos “cristãos” que vivem como ímpios, aí sim eu vejo sofrimento. Eles sofrem existencialmente porque a alegria do Espírito Santo e da vida eterna não está neles. Só isso já deveria convencer qualquer um que o cristão sofre muito menos do que o ímpio, e que a ideia de receber Jesus para livrar-se do sofrimento é totalmente correta. Mas além disso, eles sofrem exteriormente com vidas vazias, relacionamentos doentios, decisões pecaminosas e com toda a opressão do mundo amaldiçoado sobre a sua cabeça. Os Provérbios enfatizam diversas vezes que o caminho do justo é suave, claro e reto, ao passo que o caminho dos ímpios é intrincado, espinhoso e cheio de ciladas. Mesmo deixando de lado a questão do céu e do inferno e focando apenas nesta vida, é muito mais agradável e fácil ser cristão do que descrente. A nossa vida interior e exterior funciona muito bem quando nos adequamos às regras que Deus estabeleceu. E até mesmo quando pensamos somente no problema da perseguição, ainda assim o cristão sofre bem menos, pois é muito melhor ser perseguido por homens do que por Deus. Deus é um perseguidor muito mais competente e implacável do que os homens maus. Assim, se Deus é por nós, quem será contra nós? E se Deus é contra os ímpios, quem será por eles? Estou me contendo para não gargalhar de alegria enquanto escrevo isso!
Deus fez diversas promessas de bênçãos materiais e físicas que eliminam ou reduzem significativamente os nossos sofrimentos. E uma dessas promessas é a prosperidade. Ninguém deve pensar que a promessa de prosperidade elimina a promessa de perseguição, uma vez que ambas estão designadas aos cristãos na Bíblia. Mas quanto aos demais sofrimentos normais da vida, o que há de tão especial neles? Que a promessa de prosperidade acabe com um bocado desse sofrimento desnecessário, assim como a promessa da cura deve derrotar o sofrimento desnecessário das doenças. É glorioso sofrer pelo evangelho, mas não há a menor glória em sofrer por ser estúpido ou por ser incrédulo contra o poder de Deus.
A Bíblia de fato diz para nos alegrarmos por passarmos por provações, porque essas provações irão aperfeiçoar a nossa fé e o nosso caráter. Mas isso acontece precisamente quando perseveramos em fé e conseguimos vencer as provações. Por exemplo, quando eu fico enfermo, minha fé na cura de Deus é provada. Uma vez que eu consigo exercê-la e me livrar da doença, eu saio dessa situação mais maduro do que quando entrei. Do mesmo modo acontece com a promessa de prosperidade. Quando enfrentamos dificuldades, é o momento de intensificar o exercício da nossa fé na libertação prometida por Deus. Os carismáticos fazem isso com frequência, e são injustamente caluniados pelos cessacionistas.
Os cessacionistas pensam que precisamos sofrer para sermos fiéis a Deus e para aprendemos sobre Deus, mas isso não é bíblico. Deus nos ensina pela sua Palavra, e todas as vezes em que um personagem bíblico precisou sofrer para dar atenção à Palavra de Deus, ele admite que foi burro, um animal irracional. Mas você não precisa ser burro. Aprenda e obedeça à Palavra de Deus antes que você precise sofrer para lembrar-se dela. É isso que faz a diferença entre passar dois anos no deserto e passar quarenta anos no deserto até a morte.
Para concluir o tema do sofrimento, não podemos deixar de mencionar Jó. Uma vez que discorri longamente sobre o livro de Jó no meu livro O Senhor que te Sara, não irei me repetir aqui sobre o básico da história. O fato é que Jó era um homem justo e extremamente próspero. Em certo momento, Deus decidiu provar a fé dele fazendo-o perder tudo e passar por sofrimentos horríveis. Por fim, Deus corrigiu as concepções erradas de Jó a respeito da justiça divina e o recompensou com o dobro de tudo o que havia perdido, e assim permaneceu por mais 140 anos até morrer.
Agora, curiosamente, os críticos da prosperidade que só falam sobre o sofrimento deixam de lado esse final feliz da vida de Jó, como se fosse algo sem relevância para as nossas expectativas. Quando o livro de Jó fala sobre como o justo pode sofrer, isso se aplica a todos nós, mas quando esse mesmo justo recebe restituição dobrada, que bom para ele! É verdade que a provação pela qual Jó passou serviu para aproximá-lo de Deus, fazê-lo reconhecer a grandeza e a retidão de Deus e humilhar a si mesmo. Mas os críticos sempre encerram a lição aí. Deus de fato enviou sofrimento para Jó e deu a ele maturidade espiritual, mas não deixou de cobri-lo de riquezas e prosperidade. Se uma parte da lição se aplica, a outra também.
Aliás, temos mais base bíblica para enfatizar a parte da prosperidade do que qualquer outra, pois Tiago diz: “Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo” (Tg 5.11). Tiago diz para extrairmos encorajamento de Jó não apenas pelo seu exemplo de paciência no sofrimento, mas também pela recompensa de Deus — “vistes que fim o Senhor lhe deu”. Qual foi esse fim? Prosperidade em dobro, e ainda três filhas lindas. E acrescenta: “porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo”. Isso é um golpe fortíssimo contra a teologia masoquista. Tiago diz que a prosperidade com que Deus agraciou Jó foi demonstração de quão misericordioso e compassivo Deus é. Ao passo que os pregadores insistem que a bondade de Deus é exercida quando ele nos mantém sofrendo para alcançarmos alguma satisfação nirvânica sobre o céu, a Bíblia ensina que Deus de fato mostra sua bondade livrando-nos do sofrimento e dando-nos prazer e satisfação material. Deus não muda apenas o nosso interior, mas também o nosso exterior. Ele quer nos abençoar por completo, de todas as formas imagináveis. Quem critica a expectativa de prosperidade também blasfema contra o caráter compassivo de Deus.
Portanto, venha para Jesus, e todas as demais coisas lhe serão acrescentadas. Aceite a aliança de Deus e desfrute da prosperidade prometida. Basta de sofrimento desnecessário.
Poder do Alto