Pare de Glorificar a Doença
Oliver Amorim
Pare de glorificar a doença. Este salmo diz que o “sarar todas as tuas enfermidades” é um benefício. Ele não diz que ficar doente é um benefício, mas os reformados e tradicionais socam essa imbecilidade no seu ouvido o tempo inteiro. Eles amam tagarelar sobre como a doença é uma bênção, sobre como podemos ficar doentes para a glória de Deus. Isso é mentira de Satanás. Somente o diabo tentaria convencer você de que algo que Deus declara maldição é uma bênção. Por acaso o adultério é uma bênção? Por acaso a feitiçaria é gloriosa? Do mesmo modo, Deus emitiu invectivas contra a doença, elencando-a na lista de maldições pactuais (Dt 28), devida a egípcios, e não a israelitas (Ex 15.26), chamando-a de cativeiro de Satanás (Lc 13.16) e opressão do diabo (At 10.38). Não há uma só linha em toda a Bíblia que fale da doença em tons positivos. Nenhuma vírgula sobre aceitação da doença. Ai daqueles que chamam bom o que é mau, que chamam o amargo de doce (Is 5.20)! Livre-se dos relatos comoventes de cristãos famosos que declararam sua submissão à doença com ares de piedade. Isso é heresia. Isso é um engano profundo. As pessoas gostam de citar aquela frase de Chesterton de que “chegará um dia em que teremos de provar que a grama é verde”. Mas isso já acontece há séculos, pois temos de provar o tempo todo que doença é ruim! Só o fato de que precisamos reeducar a cristandade para que ela se lembre de que doença é coisa ruim e cura é coisa boa demonstra o nível do subsolo do manicômio em que estamos.
Você não fica doente para a glória de Deus. Você fica curado para a glória de Deus. A aceitação da doença, apesar de todas as tagarelices em contrário, só glorifica você mesmo. As pessoas passam a admirar o quão heroicamente você está suportando a doença com uma atitude resignada e estoica. Elas começam a louvar a grandeza da sua piedade, chamando-o de um gigante homem de Deus, de um modelo para todos. Comentários laudatórios sobre a firmeza do seu coração proliferam-se nas conversas, nas ilustrações em sermões e nas redes sociais. Toda a atenção está em você. Muitos desses enfermos passam a noticiar sobre a própria doença com cada vez mais frequência, elaborando mais reflexões e meditações, fazendo da doença a sua identidade pública. Por outro lado, sabe o que acontece quando você recebe a cura milagrosa? As pessoas dizem “Glória a Deus!”. Ninguém liga para você. É Deus quem recebe toda a atenção. As pessoas ficam felizes por você, mas logo elas esquecem. É o deslumbramento perante o poder de Deus que permanece. Você pode dar o testemunho da sua cura, mas ninguém fica cumprimentando a sua piedade ou a sua maturidade. Elas olham para cima e dão louvores a Deus. E então usam esse milagre para encorajar uns aos outros a esperarem o mesmo. Você mesmo fica em segundo plano. Essa é a atitude que glorifica a Deus. É isso que significa “É necessário que ele cresça e eu diminua”. Já os que capitalizam a sua fama em cima da sua doença dizem “É necessário que o milagre de Deus diminua para que a minha postura de herói cresça”.
— Oliver Amorim. Salmo 103: Nenhuma Benção a Menos (2023), edição Kindle.