Os Atos de Cura dos Apóstolos
Uma vez revestidos do poder do Espírito Santo, os discípulos deram continuidade à missão de Jesus, começando no próprio dia de Pentecostes. O que encontramos no livro de Atos é a história dessa missão de expansão do evangelho, a qual inclui pregações, conversões, viagens e conflitos, e tudo isso com milagres de curas, dentre outros.
O primeiro aparece já em Atos 3:
Pedro, porém, lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda! E, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente, os seus pés e tornozelos se firmaram; de um salto se pôs em pé, passou a andar e entrou com eles no templo, saltando e louvando a Deus… À vista disto, Pedro se dirigiu ao povo, dizendo: Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar? O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo… Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós. (At 3.6–8, 12–13, 16).
Pedro curou um paralítico comandando que, pelo nome de Jesus, o homem andasse. No seu discurso, ele enfatiza que não foi nenhum poder inerente a ele que curou o homem, e sim a fé no nome de Jesus. Na última ceia, Jesus já havia dito que faria tudo o que os discípulos pedissem em nome dele. E, uma vez que foi Jesus mesmo quem lhes outorgou autoridade sobre as enfermidades e os revestiu de poder do alto, faz todo o sentido que eles invocassem o nome de Jesus para ordenar que as enfermidades saíssem. Logo, a cura nada tem a ver com o fato de Pedro ser um apóstolo, e sim com o fato de que o nome de Jesus invocado com fé tem poder para isso.
A cura suscitou perseguição das autoridades. E essa perseguição foi motivo de oração. Note as seguintes palavras:
…agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus (At 4.29–31).
A igreja hoje lida com as perseguições pedindo somente coragem e fazendo pressão política. A oração de Pedro e dos demais cristãos foi para que essa coragem viesse acompanhada de curas, sinais, prodígios e maravilhas por intermédio do nome de Jesus. Quando a igreja é atacada pelo poder temporal, ela reage com poder sobrenatural. Você já viu alguma igreja orar assim? Já viu algum jovem cristão que vive reclamando da perseguição esquerdista na universidade fazer curas, sinais e prodígios em meio ao seu ambiente hostil, ou pelo menos orar por isso? Já viu algum pai ou mãe que vive compartilhando notícias sobre projetos de leis injustas e imorais ir além do “vamos nos manifestar” e do “faça pressão no seu deputado” e orar para demonstrar o poder de Deus bem na frente do Congresso Nacional, fazendo milagres grandiosos?
Quando uma igreja age no poder milagroso de Deus, ela passa a ser realmente temida pelos de fora:
Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão. Mas, dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles; porém o povo lhes tributava grande admiração. E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor, a ponto de levarem os enfermos até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles. Afluía também muita gente das cidades vizinhas a Jerusalém, levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados (At 5.12–16).
A igreja que milita no poder do Espírito Santo torna-se referência de curas milagrosas. É assim que as multidões deveriam nos ver. E aqueles que continuassem a nos odiar deveriam ter medo de se aproximar de nós sem cautela.
Nesse texto, observe duas coisas: primeiro, que os sinais eram feitos “pelas mãos dos apóstolos”, mas não exclusivamente por eles. Essa restrição só existe na mente dos cessacionistas, que ignoram todos os textos explícitos que encorajam a operação de milagres a fim de encontrar indícios microscópicos e forjados que justifiquem a sua postura incrédula e fraca. Segundo, que esse relato sobre a “sombra de Pedro” não é retratado em um tom negativo. Novamente, os cessacionistas adoram enxergar superstição em textos que, pelo contrário, falam da realização de milagres pela mão de Deus. O fato é que Deus operou sim curas milagrosas por meio até mesmo da sombra de Pedro. O que há de ruim nisso? Todo cristão deveria ansiar por ter tal maturidade no poder de Deus que até sua sombra curasse enfermos.
Após uma perseguição mais acirrada encabeçada por Saulo, vemos o evangelho chegar a Samaria pelo diácono Filipe:
Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo. As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade (At 8.5–8).
Filipe não era um apóstolo, e sim um diácono. Mas ele fez o que qualquer cristão poderia fazer: curar enfermos e expulsar demônios à medida que prega o evangelho.
Se alguém quiser insistir que Filipe era um evangelista ou um “associado dos apóstolos”, o discípulo Ananias vem para acabar com esse tipo de pretexto:
Ora, havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. Disse-lhe o Senhor numa visão: Ananias! Ao que respondeu: Eis-me aqui, Senhor! Então, o Senhor lhe ordenou: Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita, e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando e viu entrar um homem, chamado Ananias, e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista… Então, Ananias foi e, entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo: Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo. Imediatamente, lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver. A seguir, levantou-se e foi batizado. (At 9.10–12, 17–18).
Ninguém parece dar atenção ao fato de que Ananias fez um milagre de cura em Saulo. Ananias não era apóstolo, nem profeta, nem evangelista nem qualquer tipo de oficial. Ele era um discípulo. Só isso. Não é preciso mais. Qualquer discípulo de Jesus pode receber visões, curar enfermos e fazer quaisquer outros milagres. O vínculo entre posição apostólica e poder milagroso simplesmente não existe, foi inteiramente forçado pelo delírio cessacionista.
Ainda nesse capítulo, Pedro fez mais duas curas:
Passando Pedro por toda parte, desceu também aos santos que habitavam em Lida. Encontrou ali certo homem, chamado Eneias, que havia oito anos jazia de cama, pois era paralítico. Disse-lhe Pedro: Eneias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma o teu leito. Ele, imediatamente, se levantou. Viram-no todos os habitantes de Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor (At 9.32–35).
Havia em Jope uma discípula por nome Tabita, nome este que, traduzido, quer dizer Dorcas; era ela notável pelas boas obras e esmolas que fazia. Ora, aconteceu, naqueles dias, que ela adoeceu e veio a morrer; e, depois de a lavarem, puseram-na no cenáculo… Mas Pedro, tendo feito sair a todos, pondo-se de joelhos, orou; e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te! Ela abriu os olhos e, vendo a Pedro, sentou-se (At 9.36–37, 40).
Pedro curou Eneias declarando que Jesus Cristo o curava. Não foi necessário pedir ou perguntar a Jesus. Jesus deu o seu próprio nome para que, quando invocado com fé, a cura se realizasse. Essa é a vontade dele, uma vontade totalmente declarada e previsível, não secreta ou além da compreensão. Os cessacionistas dizem que “o nome de Jesus não pode ser usado como um amuleto”. Eles gostam de anexar expressões depreciativas que não ajudam no debate. “Amuleto” ou não, o fato é que Jesus disse sim que podemos pedir qualquer coisa em nome dele, e o modo como os discípulos exemplificaram essa promessa foi usando o nome de Jesus para curar. No segundo caso, Pedro comandou que a morta voltasse a viver. Não é sequer necessário mencionar explicitamente o nome de Jesus, contanto que se tenha fé nele.
Saulo, já comissionado por Cristo e doravante chamado de Paulo, também realizou muitas curas. Mas chama a atenção que, antes do registro de qualquer cura, Paulo faz uma anti-cura:
Mas opunha-se-lhes Elimas, o mágico (porque assim se interpreta o seu nome), procurando afastar da fé o procônsul. Todavia, Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fixando nele os olhos, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor? Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão. Então, o procônsul, vendo o que sucedera, creu, maravilhado com a doutrina do Senhor (At 13.8–12).
Veremos depois no livro de Apocalipse que os cristãos estão autorizados a ferir de pragas os inimigos de Deus. Eles têm autoridade sobre doenças tanto para expulsá-las quanto para invocá-las. Claro, eles não irão fazer isso a todo momento com todo mundo que não se converte. Paulo fez isso somente aqui, contra um mágico e com vistas à conversão do procônsul. Mas o fato é que esse poder existe e pode ser exercido sob certas condições.
Continuemos o percurso:
Em Listra, costumava estar assentado certo homem aleijado, paralítico desde o seu nascimento, o qual jamais pudera andar. Esse homem ouviu falar Paulo, que, fixando nele os olhos e vendo que possuía fé para ser curado, disse-lhe em alta voz: Apruma-te direito sobre os pés! Ele saltou e andava (At 14.8–10).
Note que Paulo curou o homem porque viu que o homem tinha fé para isso. Como eu disse antes, nenhum operador de curas pode fazer nada por alguém que esteja resolutamente incrédulo e endurecido. No entanto, quando há um princípio de fé — como um grão de mostarda – então tudo se torna possível.
Na segunda viagem missionária, Paulo expulsou um demônio:
Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação. Isto se repetia por muitos dias. Então, Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu (At 16.16–18).
Não importa se o demônio estava dizendo coisas verdadeiras, ou até confirmando o evangelho que Paulo anunciava. Demônio é demônio. Cristãos devem expulsar demônios, mesmo aqueles que parecem colaborar com a sua causa. Demônios são inimigos de Deus e oprimem as pessoas. A guerra dos cristãos é principalmente contra as hostes de Satanás, até mesmo aquelas que se apresentam como “amigáveis”.
Na terceira viagem, encontramos um relato impressionante do poder de cura por meio de Paulo:
E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam (At 19.11–12).
No texto que fala da sombra de Pedro, alguém poderia alegar que “a Bíblia não diz que a sombra de Pedro curava, só diz que as pessoas levavam os doentes para a sombra de Pedro”. A intenção é sugerir uma superstição para diminuir a ênfase nos milagres. Agora, nesse texto de Atos 19, não há desculpa: está escrito claramente que Deus realizava esses milagres sim. Não há nada estranho nesse texto. Deus revestiu Paulo de tal poder que até mesmo seus objetos levavam consigo o poder de cura. Isso não é muito diferente de quando a mulher com hemorragia tocou nas vestes de Jesus e foi curada. As roupas de Jesus eram um objeto do seu uso, não eram ele mesmo, sua pessoa. Portanto, há sim perfeita e límpida base bíblica para afirmarmos que o operador de milagres pode curar pessoas enviando objetos pessoais para longe.
Os críticos reclamam “Mas o texto não está prescrevendo que se faça isso! Está apenas descrevendo que, naquele caso, Deus fez isso”. Pois bem. Se os críticos já conseguem apreender a diferença entre descrição e prescrição, então eu espero que eles tomem os textos prescritivos como ordens e realmente obedeçam ao que eles mandam. Mas eles não fazem isso. Eles tornam todos os textos descritivos daquilo que homens de uma certa época ou de uma certa posição eclesiástica fizeram no passado. Jesus disse “curai os enfermos”. Isso é prescritivo. Os críticos fazem isso? Quando eles começarem a obedecer ao que os textos prescritivos dizem, então aquilo que eles alegam sobre os textos descritivos passará a ter alguma importância.
Eles rapidamente associam esse texto ao que os neopentecostais fazem. A tão conhecida história do televangelista que mandou colocar o copo de água em cima da TV, ou aqueles pastores neopentecostais que presenteiam os membros com lenços suados, ou aquele bispo que sacode o paletó na direção dos crentes, todas essas histórias causam arrepios nos cessacionistas. Tudo bem, concedo que várias coisas são mal aplicadas e encenadas mesmo. Eu explicarei depois o que os carismáticos estão fazendo de errado. Mas o texto bíblico continua de pé e ele proíbe que alguém condene a cura de enfermos por meio de objetos pessoais à distância em princípio. Falarei mais sobre métodos em outro momento.
Depois, perto de encerrar sua terceira viagem, Paulo faz um milagre de ressurreição:
Um jovem, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, adormecendo profundamente durante o prolongado discurso de Paulo, vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo e foi levantado morto. Descendo, porém, Paulo inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, que a vida nele está. Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até ao romper da alva. E, assim, partiu. Então, conduziram vivo o rapaz e sentiram-se grandemente confortados (At 20.9–12).
Esse milagre mostra com que normalidade as curas aconteciam. O jovem caiu e morreu no meio do culto. Paulo desceu, ressuscitou o rapaz, e todos voltaram ao culto de onde haviam parado. Não foi necessária nenhuma grande comoção. Não foi o assunto principal até o fim do dia. Foi um procedimento padrão. E deveria ser assim até hoje.
Por fim, no último capítulo, enviado preso para Roma, Paulo manifesta a imunidade à peçonha das serpentes, como Jesus prometeu (28.3–6) e cura muitos enfermos (28.7–10).
Em vista de todos esses textos, é de impressionar o quanto a doutrina e a prática da cura são negligenciadas hoje e por toda a história da igreja. Jesus recebeu seu trono no céu, enviou o Espírito Santo para dar poder aos discípulos, e o que mais vemos em todo o livro de Atos é o poder milagroso que acompanhava os discípulos por onde quer que fossem. Ainda assim, os cristãos leem esses relatos e só conseguem enxergar sofrimento e perseguição. Mas a verdade é que os discípulos foram perseguidos justamente por serem poderosos. Se eles não tivessem poder, seriam apenas objeto de piada, não de assassinatos. Os cristãos atualmente não oferecem nenhuma ameaça aos ímpios, e é por isso que eles podem reformar e reformar, e pregar e pregar, e evangelizar e evangelizar mil vezes, e continuarão a ser vistos como objeto de curiosidade e dó. Se o Deus que os cristãos pregam é verdadeiro, onde está o poder dele? Onde estão os testemunhos óbvios e impossíveis de se ignorar? Eles não acontecem. É por isso que a igreja estagnou aqui no Ocidente e perde relevância dia após dia. Os cristãos renderam suas armas voluntariamente. Eles escolheram o fracasso e a derrota.
— André de Mattos Duarte. O Senhor Que Te Sara: A exposição completa da doutrina da cura bíblica. Editora Bibliomundi, 2021, pp. 118-223.