O Que Significa “O Justo Viverá Pela Fé” em Habacuque
Oliver Amorim
Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé. (Habacuque 2.4)
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É por isso que, antes de descrever os pecados e a sentença contra os babilônios, Deus afirma que “o justo viverá pela fé”. Essa frase é utilizada por Paulo em Romanos 1.17 para demonstrar a doutrina da justificação pela fé. Isso é inteiramente adequado para o argumento na carta aos Romanos, no entanto, aqui nós estamos lidando com Habacuque e precisamos manter o foco. Deus tem um propósito em revelar essa sentença em letras garrafais para que qualquer pessoa, até quem passar correndo, consiga ler. Isso responde à preocupação do profeta corrigindo a sua perspectiva, e beneficia qualquer um que estiver sob a ameaça dos caldeus. A intenção dessa frase, nesse contexto, é declarar que 1) nenhum desses povos é justo, visto que nenhum deles tem fé em Deus, nem mesmo Jerusalém; portanto, todos eles merecem plenamente ser conquistados pelos caldeus; e 2) se alguém tiver fé, será considerado justo e viverá. E o “viverá” aqui não se refere à salvação final e à vida eterna, e sim à salvação física contra esse juízo do imperialismo babilônico. O sentido é que quem for justo por meio da fé não sofrerá essa destruição temporal pela instrumentalidade dos caldeus. É disso que Deus e o profeta estão falando. Assim, quando Deus manda Habacuque escrever a visão para o público, o propósito é proclamar uma mensagem de perdão e proteção para todos aqueles que se arrependerem dos seus pecados e se refugiarem em Deus.
Quando Deus envia juízos temporais, ele faz distinção entre o justo e o ímpio. Quando Deus castiga uma nação, não é normal que os cristãos sofram como os descrentes. Em realidade, com frequência acontece o oposto — os descrentes são poupados porque há crentes ao seu redor, e a misericórdia de Deus pelos crentes transborda para o resto da sociedade. Assim, quando Abraão intercedeu por Sodoma, ele afirmou “Longe de ti destruir o justo com o ímpio! Não fará justiça o juiz de toda a terra?”. E Deus confirmou que, se houvesse dez justos, a cidade inteira seria poupada. Como havia somente Ló e sua família, Deus os retirou da cidade para incendiá-la sem feri-los. Do mesmo modo, quando Deus enviou os caldeus para castigarem Jerusalém, ele fez com que Daniel recebesse o favor do rei, que Jeremias fosse bem tratado e deixado livre, e que Baruque recebesse a garantia da proteção à vida.
Isso é o que significa “o justo viverá pela fé” em Habacuque. Como diz o Salmo 91, podem cair milhares ao seu redor, e você não será atingido. A sentença de Deus é que aquele que pela fé for justificado não sofrerá os danos dos castigos temporais de Deus sobre a sociedade. Ele verá os seus conterrâneos e os seus vizinhos morrendo pela violência, mas ele mesmo permanecerá vivo e seguro. Justificação pela fé é isso. É tanto para a vida eterna quanto para a vida terrena em um meio social sob juízo. A fé justifica diante do tribunal escatológico de Cristo no último dia e justifica diante do tribunal de Cristo hoje, para as punições físicas, terrenas e históricas de hoje. Se você for justificado pela fé, você não sofrerá com as invasões de nações hostis.
Agora, tente achar um pregador que ensine a justificação pela fé dessa maneira, isto é, da maneira original, bíblica, na própria fonte que Paulo utilizou. Deus mandou que o profeta escrevesse isso em letras gigantes, e mesmo assim os teólogos não conseguem enxergar. E eles têm oportunidade para expandir o seu horizonte minúsculo todos os anos quando fazem suas preciosas celebrações da Reforma e preparam seus sermões sobre sola fide. É enervante o quanto eles conseguem ser repetitivos e monótonos. Não entendo como os membros dessas igrejas aguentam. Sempre ensinam a justificação pela fé falando sobre Martinho Lutero, a controvérsia com os católicos, e expondo somente o resultado da “salvação da alma”, o “ir para o céu”. Por que nunca falam sobre os efeitos das bênçãos materiais e de proteção física que singularizam o justo diante de tempos de calamidades, como Deus fala aqui em Habacuque? Por que nunca falam sobre o poder incontestável da oração da fé do justo, como Tiago fala citando Elias? Por que nunca mencionam Gálatas 3.1–5 demonstrando que sola fide é para justificação tanto quanto para a operação de milagres? Mas isso é pedir demais. As conferências e palestras em comemoração à Reforma Protestante conseguem a proeza de serem mais rasas do que os sermões normais do restante do ano. É sempre o mesmo copiar e colar.
Considere agora a situação do Brasil durante o período de pandemia do Covid-19. Houve uma praga que matou muitas pessoas e deixou a sociedade inteira em pânico. Além disso, muito se especulou sobre a intenção da China em avançar contra o Brasil. Dado que a China é um dos países mais poderosos do mundo e é comunista, e que os comunistas estão dominando o Brasil paulatinamente há décadas, e que os Estados Unidos não podem mais proteger o Ocidente, parece plausível que a China passe a controlar o Brasil. Isso não é certeza, é apenas uma especulação. Agora, quando as nações foram castigadas com uma praga e com essa ameaça da espada chinesa, o que os pregadores cristãos estavam declarando ao seu público? Que é tudo um mistério. Que Deus está no controle. Que os planos de Deus não são os nossos planos. E que, se Deus quiser matar você com uma praga e contrariar o que ele prometeu no Salmo 91, tudo bem. Somente clichês que não explicam nada ou mentiras deslavadas.
Porém, a mensagem baseada no profeta Habacuque diria o seguinte: o justo viverá pela fé. Portanto, se você for justo, se você tiver fé no Deus que justifica o pecador, você não será ceifado pela pandemia. Você não morrerá de fome pela quebra da economia, ou pela implementação do comunismo. Você viverá, e viverá pela fé, tão certamente quanto herdará a vida eterna no reino do céu. O perdão dos pecados e a imputação da justiça de Cristo significam que você não está sob o mesmo juízo temporal e histórico que Deus envia contra as nações rebeldes. Você não irá sofrer o que os outros sofrerão. Embora a sua vida possa ficar mais desconfortável e difícil, haverá uma diferença nítida entre a sua segurança física e a desesperança do ímpio. Ainda que os comunistas persigam você pela sua fé em Jesus, essa fé livrará você várias e várias vezes, como fez com Pedro e Paulo. Haverá anjos servindo você com visões, livramentos e proteção. Haverá milagres que atestem a sua invencibilidade. Deus irá multiplicar comida para você, e manterá os vírus bem longe do seu corpo. A sua casa permanecerá de pé enquanto a sua vizinhança se transforma em cinzas. Você, justificado pela fé, continuará vivendo pela fé até a boa velhice ou o martírio glorioso.
Todos os pregadores que não falaram ao povo de Deus desse modo e que colocaram os cristãos sob a mesma vulnerabilidade em que os ímpios se encontram cometeram traição contra o reino de Deus. Eles pregaram o oposto de Habacuque — que o justo morrerá pela fé, não a morte de um santo martírio, mas a mesma morte que Deus envia contra os maus. Ao relativizar a integridade da vida que Deus promete, eles anularam a justificação e a fé. Igrejas assim de fato morrerão, como a teologia deles promete. Mas você tem a escolha de fazer parte do grupo de sobreviventes. Para isso, basta ter fé e ser justificado por Deus. Basta ser cristão de verdade.
— Oliver Amorim. Habacuque Visita o Brasil (2024), edição Kindle.
