Novas Revelações e Tomadas de Decisão

Carismáticos têm problemas frequentes também com esse tema. Se podemos ter acesso a revelações imediatas de Deus, então como podemos tomar decisões na vida? Devemos sempre perguntar a Deus com quem devemos nos casar, onde devemos morar, qual curso da faculdade escolher e qual emprego procurar? E qual é o limite do razoável para essas perguntas: somente umas poucas decisões definitivas para a vida, ou até o horário mais adequado para ir a padaria a cada dia?

A resposta é sempre a mesma: se não era um problema para as pessoas do tempo bíblico, então não deve ser um problema para nós. Desta vez, os cessacionistas têm certa razão ao apontar a Bíblia como suficiente para as nossas decisões. O fato de que a Bíblia não responde diretamente a cada pergunta que temos sobre decisões na vida não é um obstáculo, pois simplesmente não há uma única maneira certa de fazermos as coisas. Os parâmetros dos mandamentos e das premissas de Deus revelados na Bíblia já afunilam em muito o que devemos fazer na gestão da nossa vida e, fora isso, há espaço para nossas preferências e personalidades. A busca por novas revelações não pode ser uma desculpa para a ansiedade e a insegurança, inclusive porque Deus já garantiu um futuro abençoado e próspero a todos os que obedecerem aos seus mandamentos e confiarem nas suas promessas.

Por outro lado, devemos admitir o seguinte: não há nada de inerentemente errado em perguntar a Deus certas coisas para a vida. Uma pessoa pode sim receber respostas audíveis de Deus a respeito de decisões importantes. Com frequência, vemos homens de guerra consultando o Senhor a respeito do desenrolar de alguma guerra específica. Vemos também o Espírito Santo dando orientações específicas para a igreja em Atos, para Pedro e para Paulo nas suas missões. Então, é claro que não podemos condenar nem zombar dos cristãos que buscam respostas em Deus. Muitas vezes, isso pode ser adequado sim. O que parece não ocorrer às pessoas que buscam respostas em Deus para a tomada de decisão é que elas terão de decidir com ou sem resposta. É essa noção que precisa destravar a vida delas. Os personagens bíblicos decidiam as coisas segundo a Escritura, mesmo quando não recebiam revelações, e eles não gastavam tempo buscando profetas para tudo o que precisassem resolver.

Pense bem. Suponha que você é um jovem solteiro e está pedindo para Deus revelar quem é a pessoa com quem você deve se casar. Se Deus der uma resposta clara e inequívoca, ótimo, você conseguiu o que queria. Se ele não fizer isso, o que você pode fazer? Você não pode ficar apenas esperando e esperando uma resposta sem fazer nada. Se Deus não respondeu à sua pergunta, você não pode simplesmente assumir que ele quer que você continue esperando uma resposta. Do contrário, ele teria respondido “Não vou dizer agora, volte a perguntar daqui a um ano” ou algo assim. A ausência de resposta verbal de Deus não pode ser tomada como uma resposta de “espere”. O esperar e não fazer nada também é uma decisão. É aqui que os carismáticos eram muito. Se Deus não respondeu à sua pergunta específica, você terá de decidir mesmo assim, e você já tem a Escritura para prover todos os parâmetros daquilo que é agradável a Deus e benéfico para você. Então, faça quantas perguntas você quiser, mas, enquanto não houver respostas, governe a sua vida normalmente, sob as ordens bíblicas e preenchendo os espaços vazios com a sua personalidade. O mesmo vale para decisões eclesiásticas e missionárias.

É comum também os carismáticos tentarem detectar “sinais” de Deus que indiquem respostas de oração. Então eles pensam que, mesmo se não receberem respostas audíveis de Deus, podem receber “respostas” escondidas em atos sutis da providência. Isso não tem base bíblica nenhuma e só pode resultar em interpretações arbitrárias da providência. Se Deus quer comunicar algo para você, então ele é que está interessado em que você entenda. Mais uma vez, fique com aquilo que é claramente comunicado na Escritura se Deus não der respostas novas.

Considere aquele episódio em Gênesis 24, no qual Eliézer, o servo de Abraão, sai em busca de uma esposa para Isaque. É fato que ele fez uma oração bastante específica: que a esposa escolhida por Deus fosse aquela que oferecesse água para os camelos de Eliézer beberem. Mas ele só fez esse pedido de confirmação depois de afunilar as possibilidades pelos limites morais: ele foi em busca de uma mulher do clã de Abraão, que era o único que se distinguia dos pagãos. Daria para contar nos dedos as opções de mulheres disponíveis. E o próprio pedido de Eliézer não foi arbitrário: ele queria saber qual moça seria a mais generosa e hospitaleira, que são virtudes morais bíblicas. Reflita nisso. Na maioria das vezes, quando você descarta caminhos que são biblicamente inviáveis, só sobra um para você seguir no fim das contas. Tomar decisões não é difícil para quem confia nas boas promessas de Deus sobre aqueles que obedecem aos seus mandamentos. Não use a busca por revelações como um disfarce para a sua incredulidade. Se você seguir estritamente o que a Bíblia comanda, não há como errar. A questão é: você realmente confia que Deus irá abençoar o seu futuro com base no que ele já prometeu na Bíblia, sem que ele precise ficar repetindo isso o tempo todo?

— André de Mattos Duarte, excerto de O Espírito da Profecia: Uma defesa da continuação das novas revelações de Deus.