Neopentecostais e Fraudes, ou: Por Que Não Esvaziam os Hospitais?

Por André de Mattos Duarte

O Senhor Que Te Sara
6 min readFeb 7, 2023

Mais da metade dos discursos de aversão dos cessacionistas à permanência dos poderes milagrosos é apenas aversão ao que carismáticos fazem ou deixam de fazer. Isso é bastante esquizofrênico da parte deles, porque, quando eles assumem um tom professoral para discorrer sobre certos dons milagrosos, sabem explicar muito bem por que os carismáticos não praticam os dons da maneira como a Bíblia prescreve. Ora, se a prática dos poderes bíblicos não está entre os neopentecostais, por que eles pensam que podem rejeitar esses poderes com base no que os neopentecostais fazem de errado? Afinal, eles querem defender esses poderes contra o abuso dos neopentecostais, ou querem anexar uns com os outros e enterrar todos juntos? Suspeito que, no fundo, nem eles sabem direito o que querem, exceto apenas isto: tirar o corpo fora de assumir a responsabilidade por esses poderes.

Dito de outro modo, os cessacionistas pensam que podem provar o cessacionismo só porque conseguem criticar os carismáticos. Como se esse dilema existisse, como se só houvesse esses dois pacotes teológicos fechados no mundo. Muitos cristãos incautos caem nessa arapuca. O que há de mais comum hoje em dia são cristãos que se frustraram com os insucessos das igrejas carismáticas, voltaram-se para igrejas reformadas e se sentem compelidos a aceitar todos os esquemas teológicos eruditos dessa nova linha porque parecem fornecer uma posição segura e que contrasta com o que quer de ruim que tenha acontecido nas experiências com as igrejas anteriores. Eles acham mais cômodo definirem sua identidade como o oposto dos neopentecostais, não percebendo que os neopentecostais não são o parâmetro de autocompreensão — seja por semelhança, seja por contraste — e sim a Escritura Sagrada.

Um dos exemplos muito comuns desse tipo de recalque é a pergunta retórica: “Se os dons continuam mesmo, então por que eles — os neopentecostais — não saem por aí esvaziando os hospitais?”. Com essa pergunta, os cessacionistas pensam que estão desmascarando a farsa dos carismáticos ao mesmo tempo em que compelem os ouvintes a descrerem na continuidade dos poderes milagrosos. Mas essa pergunta tem tantos erros, tantos delírios, que é de se duvidar que o cessacionista que a profere tenha sanidade mental para explicar qualquer coisa mais complexa do que uma receita de miojo.

Primeiro: e daí? Como é que a alegada inação dos neopentecostais justifica a sua? Se os neopentecostais não fazem, logo está provado que nós não precisamos fazer? Mas, se nós não precisamos fazer, então por que eles deveriam? E se eles não deveriam, pra quê lançar essa pergunta em primeiro lugar? E, se eles deveriam, então por que não vamos nós mesmos dar o exemplo e o apoio? O cessacionista não tem como sair desse labirinto em que ele mesmo quis se meter. Ele precisa confessar que só vai obedecer ao que Jesus manda quando ele vir todo mundo fazendo primeiro. Ou seja, ele é deliberadamente rebelde contra a Escritura. Esse homem deveria descer do púlpito e assentar-se no banco do confessionário.

Segundo: responda você mesmo: por que Jesus não curou todos os enfermos que estavam ao redor do tanque de Betesda, antes escolheu apenas um paralítico? Jesus curou todos os enfermos que pediram a ele, mas ele não foi pessoalmente atrás de cada enfermo pouco interessado que havia em Israel. A vontade de reclamar dos neopentecostais é tanta que vale a pena condenar o próprio Jesus junto? É assim que você trata o seu Senhor, blasfemando contra ele? Não adianta dizer que Jesus tinha os seus motivos. Você está reclamando do fato em si, não dos motivos interiores de cada um. Você está em sérios apuros agora.

Terceiro: de onde você tirou que não há ninguém esvaziando os hospitais? Você só sabe que há poucos leitos para muitos pacientes, mas você não sabe se essa desproporção poderia ser duas, três ou cem vezes maior. Como você pode ter certeza de que a fila de espera não poderia ser muito maior se não houvesse gente recebendo cura por milagres? Você já fez essa pesquisa de campo? Já manipulou as variáveis — com milagres X sem milagres — para auferir os resultados? Não, seu pretensioso: você não faz nada e, para se reconfortar, julga que os outros também não estão fazendo nada.

Quarto: por qual avenida eu posso chegar nesse hospital da sua imaginação em que qualquer pessoa pode sair entrando em todos os quartos na hora que quiserem? Você se esqueceu de que hospitais têm regras de visitas muito estritas? Tente visitar alguém desconhecido na UTI pra ver se é simples. Talvez os enfermos não queiram receber a visita de alguém estranho, e a recepcionista não irá deixar você subir. Talvez a janela de visitas seja muito restrita, e o paciente irá preferir ver seus parentes e amigos — e os guias espirituais da sua religião também — nessas poucas horas.

Além disso, e isto é o mais importante: como foi o operador de milagres que procurou o enfermo, e não o inverso, ele precisará gastar tempo expondo doutrina bíblica sobre cura e assim iniciando uma atitude de fé em Deus, que deve anteceder a cura. Somado a todas as outras restrições, isso indica que, talvez, um hospital não seja o local mais viável para se concentrar os esforços.

E é aí que viramos o jogo: se os hospitais têm tantas regras, e se lá os enfermos já estão sob tratamento — uma situação bem melhor do que a de quem está em casa ou na rua — e se os trabalhadores da seara são tão poucos e, se dependesse dos cessacionistas, seriam reduzidos a zero — por que então não focar o ministério de curas milagrosas nos enfermos que ainda não foram parar no hospital? Por que não fazer dos eventos de cura em nossas igrejas o gargalo necessário para que os hospitais não fiquem tão lotados e para que muitos enfermos possam ser curados antes de precisarem de médicos? É nisso que os cessacionistas deveriam pensar antes de reclamarem dos carismáticos.

Os cessacionistas adoram acusar os neopentecostais de serem fraudes, de manipularem as sessões de cura para forjarem milagres a partir de situações bem controladas e com agentes sob combinados. E mesmo aqueles neopentecostais que eles sabem ser sinceros em suas buscas por milagres, eles acusam de não conseguirem nada, de só gerarem frustração. Bem, mas e daí? Em que os cessacionistas são melhores, se eles nem mesmo tentam fazer nada pela cura milagrosa dos membros das suas igrejas? Com que direito uma pessoa que não está fazendo nada pode reclamar de quem está tentando fazer, ou mesmo de quem está fingindo que faz? Por que eles não tiram a trave do próprio olho antes de tirar o cisco do olho alheio?

Se os cessacionistas querem tanto provar que o movimento carismático não está com nada, então eles deveriam tomar para si a responsabilidade de fazerem tudo aquilo que eles acusam os carismáticos de não fazerem. Em vez de dar respostas elegantes para arrancar a semente da fé do coração dos ouvintes, eles deveriam fazer cem vezes mais milagres de curas do que os carismáticos fazem. E deveriam eles mesmos escrever livros, montar conferências e postar exposições no YouTube para ensinar a teologia da cura, como eu estou fazendo neste livro. Eles deveriam humilhar os neopentecostais com uma demonstração de muito maior poder e fé. Mas eles fazem o oposto: arrancam pela raiz qualquer arremedo de fé que uma senhorinha poderia ter de que o seu câncer poderia ser curado.

A verdade é que essa paranoia que os cessacionistas têm contra os carismáticos não tem nada a ver com zelo pela pureza da Palavra de Deus, do contrário eles obedeceriam a essa Palavra em primeiro lugar. O que os move é só aquela rebeldia típica de adolescente que busca se definir por meio de se opor ao mainstream. Por trás de toda a aura de transcendência espiritual, de todos os termos chiques e de todos os diplomas acadêmicos, lá no âmago da sua personalidade, está a sedimentação perpétua de uma crise de identidade pueril que começou na adolescência e que assentou sua forma final na diferenciação contra os carismáticos. Vocês não sabem o que são, vocês só sabem o que não querem ser. Por isso se preocupam tanto com a vida teológica e eclesiástica alheia. Nesse aspecto, os carismáticos são infinitamente mais maduros do que os reformados.

Cessacionistas, parem com essa fixação enfadonha com os carismáticos. Parem de bater nesse imorredouro moinho de vento quixotesco. Vocês não têm nenhuma alternativa bíblica a oferecer. Vocês estão com medo da própria sombra. Então, cresçam e consertem sua própria teologia antes de se autonomearem os caça-vampiros da igreja.

— André de Mattos Duarte. O Senhor Que Te Sara: A exposição completa da doutrina da cura bíblica. Editora Bibliomundi, 2021, pp. 210–216.

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O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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