Nem Sempre o Sofrimento é para a Glória de Deus…

O Senhor Que Te Sara
7 min readJan 10, 2023

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A atitude complacente dos cristãos que combatem a fé nos milagres também é justificada pela sua má interpretação dos textos que falam sobre o sofrimento cristão. Tais cristãos são bastante ácidos ao criticar os carismáticos que falam de milagres, curas, prosperidade e vitória. Eles chamam essa postura de “triunfalismo”. Supostamente, o triunfalismo faz com que os cristãos fiquem ensimesmados, egocêntricos, meros interesseiros em Deus para conseguir coisas para si, e ignora ou rejeita os ensinos bíblicos sobre arrependimento, santificação e uma disposição de sofrer por Cristo e amá-lo por quem ele é, e não pelo que ele dá.

Essa briga é cheia de erros. Em primeiro lugar, porque a Bíblia de fato está lotada de promessas de todas essas coisas que os carismáticos buscam. Eles não inventaram esses desejos do nada. Não adianta acusar os carismáticos de ignorarem os textos bíblicos sobre certos assuntos se você também ignora os textos sobre outros assuntos. Só a ideia de apegar-se a alguns textos mais que a outros já mostra que a pessoa não crê na Escritura, e sim nas suas próprias tendências, apenas usando a Bíblia para justificá-las. Os reformados nunca ofereceram uma teologia competente a respeito das promessas triunfais de Deus. Eles alegorizam, espiritualizam, lançam tudo para o mundo das hipóteses ou confinam em alguma dispensação dourada que já passou.

Segundo, porque essa briga é frequentemente maldosa e caluniadora. Simplesmente não é verdade que o tom triunfalista dos carismáticos os faz esquecer das coisas mais “espirituais”. Não adianta apontar um ou outro exemplo de igreja ou de indivíduo: erros e desequilíbrios existem em qualquer lugar, inclusive nas igrejas tradicionais. Os reformados fazem essas generalizações, e depois reclamam quando são acusados de “frios”, de “prender o Espírito Santo em uma caixinha” ou qualquer coisa assim. Há carismáticos fervorosos por todos os aspectos do evangelho, que é o certo. (Não que eu seja contra generalizações — elas facilitam muito a comunicação. Mas nesse caso, é altamente questionável se até uma generalização tosca é factível).

Terceiro, porque a postura dos tradicionais e reformados com relação ao sofrimento é totalmente antibíblica. Eles demonstram uma inépcia impressionante ao interpretar textos que falam de sofrimento. Já vimos o exemplo do espinho da carne de Paulo. Mas eles tomam todos os textos que falam sobre sofrimento por pregar o evangelho ou por viver como um justo e inserem neles toda a ampla gama de sofrimentos possíveis na terra. Eles sempre dizem “Se você quiser ser cristão de verdade, você vai sofrer”. Logo, se um cristão proclamar vitória e poder, principalmente na esfera material e já para esta vida, ele está negando o verdadeiro caminho do evangelho, a tal “teologia da cruz”.

Todos os textos bíblicos que prometem sofrimento para o cristão referem-se a uma classe bem específica de sofrimentos: a perseguição por causa da justiça. Foi nesse sentido que Jesus disse “No mundo, tereis aflições”. Foi por isso que Davi teve de fugir de Saul. Foi por isso que os apóstolos sofreram tanto. E mesmo nesses sofrimentos existe libertação miraculosa. Não é fácil martirizar um cristão. Veja quantos exemplos de cristãos que escaparam do fogo, da espada e da prisão aparecem na Bíblia. Mesmo quando estamos falando do único sofrimento que a Bíblia promete, um tom de vitória milagrosa no mundo físico não é nada impróprio.

Os outros tipos de sofrimentos são as maldições pactuais, como fome, doenças, relacionamentos destruídos, angústia na alma e morte de maneira geral. Nenhum lugar da Bíblia diz que o cristão precisa sofrer essas coisas, muito menos que a vitória sobre elas é sinal de espiritualidade secularizada! Pelo contrário, Deus transforma essas maldições em bênçãos prometendo-nos milagres sobre a natureza, curas, alegria, paz, prosperidade e poder. Desejar essas coisas em Deus é uma atitude extremamente espiritual, porque demonstra que você confia em Deus, e somente no único Deus, para lhe dar essas coisas, em lugar de buscá-las por si mesmo e pelas próprias forças. Ora, quem é o verdadeiro “antropocêntrico”, “egocêntrico” e “mundano”: aquele que espera que todas as coisas boas venham de Deus, ou aquele que espera de Deus somente algumas coisas invisíveis enquanto corre atrás das coisas visíveis e materiais por si mesmo? Jesus deu a resposta no sermão do monte, no final do capítulo 6 de Mateus.

Toda a romantização do sofrimento só existe porque os crentes tradicionais não conseguiram fazer essa distinção tão básica entre os sofrimentos por causa da justiça e os sofrimentos por causa da maldição geral da queda. E olha que eu nem falei dos sofrimentos que sobrevem como consequência direta de pecados e de decisões estúpidas na vida…

A enfermidade é claramente um sofrimento para o qual Deus promete plena libertação. Não há nenhuma glória em sofrer na doença. Não é verdade que um crente pode ficar doente “para a glória de Deus”: já vimos que Deus é glorificado na cura, não na doença em si. Portanto, é totalmente adequado correr para Jesus em busca de alívio desse e de muitos outros sofrimentos, como os ouvintes originais de Jesus perceberam tão bem. Não há nenhuma piedade em permanecer doente, ainda que cantando louvores no coração: há piedade em clamar a Deus pela cura e recebê-la pela fé.

Uma desculpa frequente entre os teólogos da incredulidade é que nós precisamos passar pelos sofrimentos porque essa é a única maneira de crescermos espiritualmente. Bem, fale por você. Onde isso está escrito na Bíblia? A Bíblia de fato relata exemplos de homens que tiveram de sofrer para se arrependerem de pecados e amadurecerem. Mas quem disse que isso é necessário para todo mundo, e que todo sofrimento que acontece na vida é necessário? Nós aprendemos e crescemos por meio do estudo da Escritura. A Bíblia é perfeita para o nosso aperfeiçoamento. Ela contém todas as proposições que um homem precisa saber para viver com sabedoria e piedade — e nelas não se encontra a proposição de que o sofrimento é necessário. Se você precisa sofrer para crescer espiritualmente, é porque você é estúpido e rebelde. Você pode aprender a fazer o certo simplesmente ouvindo e obedecendo à voz de Deus na Bíblia. Tudo o que dizem sobre a tal “escola do sofrimento”, ou que “Deus nos treina no deserto” é pura fábula: o nosso pedagogo é a lei de Deus (Gl 3.24) e o nosso mestre é Jesus.

Se há alguma coisa a se aprender no sofrimento é sobre como não cair nele de novo: se você ficar doente, a lição que você deve aprender é a de fazer a oração da fé para ser curado. Se essa doença veio por causa de pecado, então arrependa-se do seu pecado e não caia nele de novo, para que não voltar a ficar doente. Não há nenhuma base bíblica para essa ideia de que o crente precisa passar a vida toda na penúria, tomando pancada de todos os lados, porque senão ele não aprende nada sobre Deus. O livro de Provérbios é explícito e repetitivo: riquezas, honra, saúde e vida longa são as recompensas da sabedoria, e a sabedoria é adquirida no processo de ouvir os mandamentos de Deus. Faça isso direito e o único sofrimento com que você precisará se preocupar é o da perseguição dos ímpios — e aí sim você poderá se gloriar. É esse sofrimento, e não outro, que produz em nós perseverança, esperança, paciência e um caráter aprovado (Rm 5.3–4; Tg 1.2–4) e nem mesmo ele é estritamente necessário, embora útil. Agora, deliberadamente ficar prostrado na cama doente quando você tem a promessa da cura milagrosa na palma da mão é fazer papel de trouxa.

Outra desculpa estúpida é que nós precisamos seguir Jesus apenas para ganhar Jesus, e não para ganhar coisas de Jesus. Ou seja, nós devemos querer o Deus das bençãos, não as bênçãos de Deus. Ou que para nós somente Cristo basta, nenhum bem nesta vida (nem saúde) importa. Os jargões mudam de forma constantemente, mas eles não fazem o menor sentido, pelo simples fato de que não existe o Deus das bênçãos sem as bênçãos, e não existe Jesus sem as coisas que ele dá:

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? (Rm 8.31–32).

Que mensagem de triunfo maravilhosa! De fato, se tivéssemos “apenas” Jesus, já seria o maior ganho do universo. Mas o Pai é tão bondoso, tão amoroso, que nos deu com Jesus todas as demais coisas! Quais coisas? Todas as que ele prometeu, e elas são muitas — na verdade, a herança do universo inteiro nos foi prometida! Ora, o que Deus mais nos prometeu com Jesus foi a cura. A cura integra o evangelho, integra a própria expiação na cruz. É impossível ter Jesus e não ter a cura, assim como é impossível ter Jesus e não ter o perdão. Essa separação entre quem Deus é e o que ele nos dá não existe na Bíblia, porque as bençãos de Deus são a própria expressão dos seus atributos graciosos e benignos para conosco. Então, é claro que eu vou seguir Jesus para ganhar Jesus, mas eu vou ganhar um Jesus inteiro, com o pacote completo das suas promessas, não a versão mutilada e quimérica da teologia da derrota.

Se a teologia do “triunfalismo” é ruim porque só apresenta metade da verdade, a teologia do “derrotismo” é tão ruim quanto. Na verdade, é pior, porque pelo menos o triunfalismo tem mais chance de fazer as pessoas felizes. O derrotismo é deprimente, masoquista, e essa satisfação existencial mística nirvânica que ele promete não difere muito do que outras religiões orientais prometem. O único Deus verdadeiro que nem outras religiões nem qualquer tradição humana podem emular é aquele que nos dá verdadeira, palpável e milagrosa vitória sobre as circunstâncias da vida. Ficar doente para a glória de Deus? Ridículo. Fique curado para a glória de Deus.

— André de Mattos Duarte, excerto de O Senhor Que Te Sara.

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O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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