Justificação por Milagres

Oliver Amorim

Todo mundo sabe que justificação em Paulo não é o mesmo que justificação em Tiago.

Mas o que eu nunca vi alguém perceber foi que as obras em Paulo também não são as obras em Tiago.

Paulo fala de obras em Romanos, Gálatas e Efésios se referindo à obediência à lei, ao que geralmente chamamos de santificação. Até aí, todo mundo sabe.

Mas Tiago não está falando disso, ou melhor, principalmente disso. Ele fala disso quando cita o nosso dever de socorrer o nosso irmão, em lugar de mandá-lo embora faminto. Mas depois ele cita dois exemplos que não têm nada a ver com obediência à um código moral revelado. Ele cita Abraão indo sacrificar Isaque e Raabe escondendo os espiões. As duas ações não foram produzidas por uma observância de mandamentos canônicos, e sim por uma expectativa de receber milagres: Abraão, sabendo que Deus ressuscitaria Isaque se fosse necessário; Raabe, sabendo que Deus iria arrombar as portas de Jericó e realizar prodígios como no Egito.

É disso também que Hebreus 11 fala. Lá, todos os “pela fé” são acompanhados da produção de milagres ou da certeza de milagres futuros. Não tem nenhum “pela fé, disse não ao adultério”, “pela fé, foi honesto com o dinheiro” ou algo assim.

Isso significa que, de acordo com Tiago 2 e Hebreus 11, a justificação pelas obras da fé não se limita (nem mesmo se destaca) pela obediência aos mandamentos ou “santificação”, e sim pela tomada de decisões que se baseiam na certeza de milagres.

Isso coloca a ação ousada por milagres no mesmo nível de relevância da própria obediência à lei moral. Nesse sentido, negar-se a impor as mãos para curar devido à dúvida é tão reprovável quanto um estupro ou um roubo.

Tanto se fala sobre as obras serem as evidências da fé que justifica… e nem sacaram que essas obras são principalmente as atitudes que produzem milagres.

Assim como o corpo sem espírito está morto, a fé sem obras milagrosas está morta.

— Oliver Amorim