João 14 e a Expansão Milagrosa
Ao concluir o seu ministério itinerante, prestes a ser preso e condenado, Jesus explica aos discípulos como seria a vida deles depois que ele partisse para o Pai. Seu propósito era dar pleno conforto e encorajamento, certificando-os de que a presença física de Jesus com eles não era necessária — antes, era ainda melhor para eles que ele voltasse para o Pai e enviasse o Espírito Santo.
Um trecho específico merece o nosso destaque aqui:
Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amais, guardareis os meus mandamentos (Jo 14.11–15).
A plena significação desse texto é frequentemente golpeada pelas relativizações e atenuações dos expositores incrédulos. Eles, sem nenhuma razão hermenêutica, insistem que essas obras maiores que os discípulos fariam não eram os milagres, e sim coisas como mais conversões, mais pregações, mais igrejas, mais seminários. Mas mesmo que essas obras maiores envolvam tudo isso, elas significam precisamente os milagres nesse contexto. No versículo 10, ele distinguiu entre as “palavras” e as “obras”, e todo o evangelho de João usa o termo “obras” para falar de ações, comportamentos e milagres. Essas obras não são pregações e ensinos, e sim realizações palpáveis. Nesse mesmo trecho, Jesus fala de respostas a orações, portanto milagres. Somente alguém que queira justificar a sua própria inação espiritual poderia querer excluir os milagres dessa declaração.
Dito isso, o trecho nos ensina as seguintes coisas:
Primeiro, o destinatário é “aquele que crê em mim”. Não há nenhuma restrição aos apóstolos ou aos crentes do primeiro século. Se hoje cremos em Jesus, o texto se aplica a nós.
Segundo, quem crê em Jesus fará as mesmas obras dele. Antes de atentarmos para as “obras maiores”, precisamos notar que Jesus fala antes das “mesmas obras”. Ou seja, as “obras maiores” incluem necessariamente as “mesmas obras” — não são uma categoria de obras diferente. Quais são as obras que Jesus fez? Milagres, milagres, milagres. Conforme ele mandou dizer a João Batista: ele curou os enfermos, curou os enfermos, curou os enfermos, curou os enfermos, curou os enfermos e pregou o evangelho. Logo, antes de qualquer consideração sobre o sentido das “obras maiores”, todo crente precisa fazer, no mínimo, o que Jesus fez. Se você não cura enfermos, não precisa nem quebrar a cabeça tentando espelhar a sua vida espiritual estéril em algum sentido conveniente das “obras maiores”: você já começou em falta.
Terceiro, além das mesmas obras, os crentes farão obras maiores. É por isso que Vincent Cheung observou que a alternativa adequada ao cessacionismo não é o continuísmo, e sim o expansionismo: nós não temos de apenas continuar o que Jesus começou, e sim expandir para obras maiores. O que Jesus fez não representou o ápice da era dos milagres, não foi a crista da onda das manifestações sobrenaturais de Deus, mas foi apenas o início de um processo que deveria aumentar cada vez mais. É absurdo supor que os poderes milagrosos cessaram após o primeiro século, pois eles mal haviam começado!
Quarto, os crentes poderão pedir o que quiserem em nome de Jesus e serão atendidos. Veja bem: os discípulos poderão pedir o que eles quiserem, não aquilo que casualmente coincidir de ser o que Deus já queria fazer antes nos seus segredos. A vontade dos discípulos, não a de Deus, está sendo confirmada aqui. Eles deveriam pedir em nome de Jesus — isto é, deveriam invocar a autoridade de Jesus para fazerem os seus pedidos. Nós vemos os discípulos fazerem milagres de cura exatamente assim no livro de Atos: invocando o nome de Jesus com fé, eles curavam os enfermos sempre que eles quisessem. A vontade de Deus é atender a vontade dos crentes que oram com fé. Não há nenhum descasamento nisso.
Quinto, quem fará o que os discípulos pedirem é Jesus. Nenhum crente tem um poder inerente em si para realizar nada, mas é exatamente por isso que ele invoca Jesus. Nós podemos fazer milagres porque é Jesus quem faz em nós. Ninguém precisa se preocupar com as limitações humanas, ou em que homens acabem recebendo o crédito pelos milagres. Quanto mais os verdadeiros crentes pedem por milagres, mais Jesus é exaltado.
Sexto, o propósito da operação de Cristo por meio das orações é glorificar o Pai. O atendimento às orações traz glória a Deus. Deus se glorifica por meio de atender a tudo quanto pedirmos em nome de Jesus. Logo, essa ideia de que Deus só irá atender uma oração quando for “para a glória dele” é equivocada: segundo as palavras de Jesus aqui, todo atendimento traz glória ao Pai.
Agora, aplique tudo isso para os milagres de cura: se Jesus fez curas, nós também devemos fazer curas invocando o nome dele. E devemos fazer ainda mais curas e curas ainda mais impressionantes do que as que ele fez. Ele mesmo fará isso por nós sempre que pedirmos. Todas as curas que nós pedirmos serão realizadas, desde que tenhamos fé no nome de Jesus. Nunca será da vontade de Deus não curar. E tudo isso trará mais e mais glória a Deus.
— André de Mattos Duarte. O Senhor Que Te Sara: A exposição completa da doutrina da cura bíblica. Editora Bibliomundi, 2021, pp. 108–110.