Introspecção? Ídolos do Coração?
Se há um tema que pode começar bíblico, mas se desenvolver do modo mais entediante, redundante e estéril possível, é o “ídolos do coração”.
Sim, ele começa bíblico. A Bíblia de fato diz que o povo apóstata erigiu ídolos no coração antes de se afastar de Deus. Ela chama a avareza de idolatria em Colossenses. E, por um raciocínio bastante óbvio, podemos dizer que todo pecado pressupõe a idolatria, porque damos uma importância maior ao objeto do nosso pecado do que a Deus. (Isso é o extremo do básico, mas há quem acha que descobriu a Pedra Filosofal só por causa disso.)
Mas, como de costume, nas mãos daqueles que não conhecem a Escritura nem o poder de Deus, todo tipo de bobagem aparece.
Primeiro: eles introduzem uma medida doentia de introspecção para resolver o problema. Eles retratam a idolatria do coração como algo tão profundo, tão inescrutável, tão inacessível que é como se um descrente estivesse tentando entender Deus. Mas essa é uma heresia psicanalítica disfarçada de piedade. A Bíblia diz que o homem espiritual conhece sim o que há no seu espírito, assim como ele discerne as coisas espirituais e acessa a própria mente de Cristo. A coisa não é complicada. A direção bíblica é sempre a obediência a Deus. Enquanto você for obediente à lei de Deus, não há como estar errado. E a lei de Deus é clara, completa, explícita e fácil de entender — não é nenhum enigma, código ou quebra-cabeça.
Segundo, em resposta à solução acima, dizem que a idolatria do coração pode coexistir com a obediência à lei. Dizem que você pode obedecer à lei de Deus muito bem, mas pelos motivos errados, para a própria glória. Quem eles citam como exemplos disso? Os fariseus. Gênios! É como se nunca houvessem lido a Bíblia. Os fariseus obedeciam à lei de Deus? Onde isso está escrito? O tempo todo Jesus mostra que os fariseus desobedeciam pra caramba, e que a verdadeira lealdade deles era para com as suas próprias tradições. Eles eram transgressores loucos como qualquer doidão das baladas. E Jesus os confrontava exatamente com a Palavra de Deus, não com um discurso subjetivista de idolatria do coração. A Bíblia sempre combate a idolatria do coração como um pecado objetivo, como uma falta de aderência à lei. Se você quer saber se há um ídolo no seu coração, é só examinar a sua conformidade com a lei de Deus. De novo, não tem como errar. Se você obedece exteriormente à lei de Deus, mas guarda motivos errados no seu coração, então os seus motivos são julgados como errados pela própria lei, em cujo caso você deve conformar os seus motivos à mesma lei. É tão simples. Ninguém precisa de 20 livros e 2000 páginas pra resolver isso.
Terceiro, eles usam essa complicação desnecessária para destruir as orações da fé. Eles fazem com que o homem carnal esteja tão presente, como um espectro, que o homem espiritual nunca está seguro. Eles fazem com que o cristão se sinta esquizofrênico, sempre paranoico consigo mesmo, sempre suspeitando de si mesmo em cada fôlego de oração. Isso é doentio. É uma enfermidade do espírito. Você nunca pode pedir nada a Deus com paz de consciência, porque sempre pode haver um ídolo escondido na centésima camada da sua cebola anímica. Mas a Escritura diz que você deve pedir já crendo que recebeu, e que tudo o que não provém da fé é pecado. Se você está sempre discutindo consigo mesmo quando ora, então você será sempre estéril. Você nunca receberá nada de Deus. Seu único galardão será as suas próprias 600 linhas de introspecção insossa.
Se eu sou encalhado e quero me casar, como eu posso saber se o casamento é um ídolo no meu coração? Simples: porque eu estou determinado a cumprir toda a lei de Deus referente ao casamento, e porque eu serei sempre grato a Deus por me dar um casamento. Se eu quero 1 milhão de reais pra comprar uma casa, como eu posso saber que não estou idolatrando o dinheiro? Simples: porque estou determinado a seguir toda a lei de Deus relativa ao assunto — pagar os dízimos, socorrer os aflitos, patrocinar missões, comer e beber com alegria diante de Deus, deixar herança para os meus netos, etc — e porque meu coração está firmado em adoração a Deus. Murmuração e blasfêmia porque eu não tenho o que eu quero ou soberba e ateísmo porque eu recebi o que eu quero estão fora de questão. Qual é a dificuldade? O autoexame não é complexo. A lei de Deus já diz tudo o que você precisa saber para ser agradável a Deus. O Espírito Santo já te deu a iluminação para que você consiga discernir as coisas espirituais. Jesus já te deu a justiça perfeita dele mesmo para que você nunca se sinta constrangido de comparecer perante Deus. O Pai já te adotou, já te fez assentar nos tronos celestiais e já revelou a sua imensa generosidade com todas as suas promessas.
Então qual é a dificuldade???
Jogue fora quase todo o lenga-lenga sobre ídolos no coração. Quase tudo o que se diz sobre isso é, na melhor das hipóteses, um caminho muito mais comprido e intrincado para atingir o alvo. Introspecção? Jogue fora também. Pare de imergir nas infinitas camadas do seu inconsciente e mergulhe no oceano da Escritura, com todas as direções e com todos os tesouros do conhecimento e da vitória. Em vez de ficar 10 anos analisando o seu coração sobre um assunto qualquer, tome posse da Palavra de Deus e avance a passos largos.
“Ain, mas o coração é enganoso e desesperadamente corrupto”. Que oportuno citar Jeremias! 14 capítulos à frente, ele diz que, na nova aliança, Deus colocaria o seu Espírito no seu povo e inscreveria as suas leis no coração do seu povo. Qual é a sua verdadeira identidade? O coração carnal é realmente corrupto, mas o coração cristão tem a lei de Deus inscrita nele. De qual lado você está? A sua preciosa TULIP só tem a letra T? A depravação do homem natural é mais forte do que toda a obra de redenção que Deus opera em nós?
Pare com esse joguinho. Pare com tanto blablabla redundante. Pare de jogar ping-pong contra você mesmo. Em nome de Jesus, avance! Avance em paz, em felicidade, em coragem, em autoridade, em orações respondidas, em recepção de milagres, em produtividade pelo Reino de Deus! Pois o Reino de Deus não consiste de palavras, muito menos de palavras psicanalíticas e chatas, mas de PODER.
— Oliver Amorim