Extremo e Inflexível

Quando o assunto é fé, Jesus é extremo e inflexível. Ele nunca alertou contra qualquer abuso ou exagero no exercício da fé, e sempre demonstrou rigidez e desapontamento com aqueles que tinham fé pequena.

Quando a tempestade se abateu sobre o barco, os discípulos foram correndo acordar Jesus para que salvasse suas vidas. Jesus não se sentiu lisonjeado. Ele não elogiou os discípulos por recorrerem a ele em angústia. Ao contrário, ele censurou a pequenez da fé e a timidez dos discípulos, e então resolveu o problema dando ordens à tempestade. O que Jesus fez foi o que ele esperava que os discípulos tivessem feito. Ele esperava que os discípulos agissem confiando em Jesus para operar o milagre na natureza, e não que fugissem e pedissem para Jesus fazer tudo.

Os cristãos hoje não entendem nada do que Jesus ensinou sobre fé. Eles pensam que ir implorar para Deus resolver as suas angústias já está bom o suficiente. É claro que Deus prometeu atender a tudo o que pedíssemos em oração, e ele nos manda orar para recebermos o que queremos. Mas isso deve ser feito em espírito de confiança, certeza e serenidade. E o objetivo de Jesus é que tenhamos tal confiança na autoridade do seu nome e na sua promessa de fazer obras ainda maiores por meio de nós ao ponto de nós mesmos olharmos a face da morte e ordenarmos que tudo fique quieto. Desespero e agonia não têm lugar na vida de um discípulo.

A condescendência que os cristãos têm hoje com a falta de fé não é uma imitação de Jesus, mas apenas uma projeção da sua própria fraqueza sobre os outros. As pregações e reflexões sobre esse texto da tempestade diminuem pateticamente a magnitude do que Jesus mostrou e ensinou. As aplicações são do tipo “Jesus acalma as tempestades do nosso coração”. Não, Jesus te dá uma bronca porque você foi fraco o bastante para deixar uma tempestade acontecer no seu coração, depois acalma a tempestade literal e exterior no mundo, e diz que você deve fazer a mesma coisa. Jesus acalma furacões, tsunamis, vulcões, represas rompidas, inundações, tiroteios, marchas de vândalos. E ele diz que, se você tiver fé nele, poderá dar uma ordem e acalmar tudo isso.

Os cristãos hoje se encontram desesperados e angustiados por muito, muito menos do que uma tempestade à noite ameaçando a vida em segundos. Se Jesus não foi condescendente com aqueles discípulos, se ele nem mesmo disse “bem, pelo menos vocês me procuraram, já é alguma coisa”, então por que sermos bonzinhos e efeminados com a falta de fé daqueles que estão bem menos atribulados? Por que, aliás, sermos tão tolerantes com nós mesmos? Quando os discípulos não conseguiram expulsar o demônio daquele garoto, Jesus os chamou de “geração incrédula e perversa”, e retoricamente os chamou de insuportáveis. Mas você diz “falar a verdade em amor, falar a verdade em amor” em um sentido que condenaria o próprio Jesus.

É claro que Jesus falava a verdade em amor, e é claro que ele era paciente e bondoso. Só o fato de passar três anos com aqueles discípulos sem excomungá-los já prova isso. Ele nunca os expulsou da sua presença, nunca os descomissionou, nunca disse “Chega, tchau, já deu o que tinha que dar”. Mas ele dava broncas severas com bastante frequência, principalmente pela falta de fé. Ele nunca atenuou o tom. Ele não passaria no teste de etiqueta e “amor” gospel de hoje. Mas é por isso mesmo que os condescendentes nunca farão milagres como Jesus fez. A gravidade e as altíssimas expectativas com que Jesus falava sobre o assunto serviram muito bem para fazer os seus discípulos alçarem voo em longo prazo. Já os condescendentes permanecerão fracos, infrutíferos e apanhando à toa, porque esse foi o caminho fácil que escolheram. Eles nunca farão milagres, e ainda irão desprezar aqueles que afirmam a fé na operação de milagres. Eles nunca se erguerão acima das circunstâncias, mas sempre encontrarão nas circunstâncias alguma desculpa que racionalize a sua falta de fé e cubra com jargões terapêuticos gospel as suas angústias.

Os que aprendem fé a partir de Jesus são discípulos que crescem em poder e ousadia. Os que aprendem incredulidade a partir do seu meio cristão condescendente… bem, esses já receberam a sua recompensa.

— André de Mattos Duarte