Espíritos Territoriais

Vincent Cheung

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Existe o falso ensino de que certos espíritos malignos estão especialmente associados a uma área geográfica e a influenciam do ar.¹ Eles oferecem uma resistência tão teimosa contra o evangelho que os cristãos acham difícil evangelizar ou alcançar um progresso espiritual significativo em seus ministérios. Assim, os cristãos devem “discernir” os espíritos malignos (provavelmente por revelação extra-bíblica) que estão “governando” sobre a área (no céu acima da área) e orar contra eles (exercendo autoridade espiritual sobre eles) para que eles possam partir. Depois que eles partirem, haverá uma mudança repentina na “atmosfera” espiritual e, a partir desse ponto, o evangelismo e outras obras cristãs se tornarão mais fáceis e eficazes.

A doutrina não tem apoio bíblico real, mas é derivada de aplicações erradas de referências a “fortalezas” demoníacas, Daniel 10 e o ensino de Jesus sobre o “homem forte”.

A Bíblia relaciona os efeitos dos espíritos malignos com as mentes das pessoas, que então cometem ações malignas. Uma cidade que é especialmente ligada a pecados sexuais, mais do que outras cidades, pode ter se tornado um local estratégico para influências demoníacas desse tipo. A área de Boston é repleta de orgulho intelectual (embora não necessariamente competência intelectual), com tantas universidades proeminentes.

Essas influências demoníacas não estão no céu acima da área, mas nas mentes das pessoas. Eles induzem as pessoas a ter pensamentos antibíblicos e a adotar cosmovisões não cristãs. É uma operação intelectual, e não algo indefinível “no ar”. Da mesma forma, as “fortalezas” mencionadas na Bíblia não são pequenos castelos no céu, mas se referem às mentalidades e disposições teimosas que essas influências malignas instalaram nas mentes dos homens. Paulo diz que eles consistem em “pretensões”, “argumentos” e “pensamentos”.

Portanto, é antibíblico pedir a Deus que revele os tipos de espíritos que dominam a atmosfera de uma área, e é inútil combater “fortalezas” demoníacas gritando para o céu, chamando os espíritos malignos pelo nome e ordenando-lhes que partam. Quanto a Daniel 10, ele registra o que aconteceu no mundo espiritual quando Daniel orou a Deus. Ele não ensina que devemos nos dirigir diretamente aos demônios na atmosfera, mas que devemos falar com Deus e confiar que ele fará o que precisa ser feito.

Jesus lidou com o “homem forte” primeiro pela pregação. Ele neutralizou falsas ideias na mente (não no ar). Participamos do conflito espiritual pregando a verdade e refutando as falsas crenças.

Visto que nossas armas espirituais vêm da sabedoria divina, não lutamos contra ideias não cristãs com ideias não cristãs. A abordagem bíblica não é argumentar contra a ciência secular com melhor ciência secular, ou argumentar contra falsas religiões com uma melhor aplicação das mesmas falsas religiões. Em vez disso, a abordagem bíblica é declarar a superioridade da sabedoria divina sobre todas as ideias não cristãs.

Em vez de nomear os espíritos e ordenar que eles deixem o céu, devemos pregar todo o conselho de Deus. Se percebermos que uma mentalidade ou cosmovisão é fortemente defendida pelas pessoas em nossa área, podemos nos familiarizar com ela para lidar melhor com a resistência em nossos sermões e discussões (veja Atos 17:22; Tito 1:12–13).

Então, Jesus lidou com o “homem forte” também curando os enfermos (Lucas 13:16; Atos 10:38) e expulsando demônios das pessoas (não do céu). Aqueles que afirmam a doutrina equivocada dos espíritos territoriais também estão ansiosos para pregar a palavra, curar os enfermos e expulsar demônios, mas aqueles que negam a continuação da cura milagrosa e da expulsão de demônios renunciaram ao modelo de ministério de Cristo. Portanto, eles são piores do que aqueles que afirmam a doutrina dos espíritos territoriais.

¹ Por exemplo, “ganância”, “luxúria”, “orgulho”, “ocultismo” e assim por diante. Às vezes, pode ter um nome, como “dragão” ou “legião”.

— Vincent Cheung. Territorial Spirits. Disponível em Doctrine and Obedience (2012), pp. 20–21. Tradução: Luan Tavares.