Dançando Diante do Senhor: Algumas Reflexões

O assunto da dança parece batido, mas nós devemos oferecer uma resposta que não dependa das categorias dos reformados, porque eles o distorceram, como fazem com tudo. Seguem algumas reflexões:
1. É necessário enfatizar que os cristãos podem sim dançar diante do Senhor, com alegria e gratidão pelas suas maravilhas. A dança de Miriam, de Davi e dos últimos salmos demonstram isso claramente. É adequado e belo que dancemos diante de Deus quando somos tomados de alegria. Ninguém deve ser criticado, desencorajado nem escarnecido por isso. (Isso, é claro, deve partir do próprio cristão, não de algum mandamento ou controle dos homens.)
2. O desencorajamento e os gracejos contra a dança diante do Senhor são seríssimos. Mical foi amaldiçoada com a esterilidade por haver criticado Davi por dançar. E ela tinha duas “boas razões”: 1) Davi era o rei, portanto ele deveria ter uma postura de respeito; 2) Davi cometeu atentado ao pudor, deixando a roupa esvoaçar demais. Quantos cristãos conseguiriam enxergar que esses argumentos estavam errados? Quantos cristãos não dependem desse tipo de raciocínio para decidir políticas sobre liderança e decência? Mas Davi respondeu: 1) Eu dancei pra Deus, não pros outros; e 2) Eu me rebaixei apenas diante de Deus, mas serei honrado pelas moças que estavam no cortejo.
3. Isso nos faz concluir que 1) cristãos precisam saber discernir os seus próprios atos e os dos outros por um padrão espiritual, não por um padrão simplesmente “conservador”; e 2) aqueles que criticam a dança diante do Senhor ofendem a Deus e podem atrair maldição sobre si. Isso com certeza explica o alastramento da esterilidade entre aqueles crentes que adoram zombar dos carismáticos.
4. A dança diante Senhor não precisa ser coreografada nem elaborada. Não precisa ter a agilidade do Michael Jackson nem o poder corporal do Baryshnikov. Pode ser tosca mesmo. Pode ser “ridícula” mesmo. A explosão de alegria sai desse jeito mesmo. As pessoas agem de modo tão idiota quando o seu time favorito faz um gol: elas berram como loucas, levantam as mãos, se agarram uns nos outros e pulam juntos. A dança diante de Deus pode ser assim também. E não se preocupe com os outros. Se um reformado flagrar você, gravar um vídeo e postar no canal dele pra dar risada, logo ele estará destruindo a própria fortuna tentando fazer fertilização in vitro, porque a maldição de Deus estará sobre ele.
5. Agora, quanto à reunião da igreja, a coisa muda, mas não do jeito que os reformados pensam. Não tem nada a ver com reverencia e solenidade, pois Deus claramente não acha que a dança por ele é desrespeitosa ou banal. Podemos aplicar aqui o mesmo princípio que Paulo fala sobre as línguas. Ele tem mil elogios à fala em línguas, mas ele diz que, se não houver interpretação, o falante deve se conter e falar sozinho com Deus, porque a fala em línguas sem interpretação não traz edificação aos demais. A questão da dança é exatamente essa. Dançar diante de Deus é edificante para quem está dançando, mas ela não traz edificação alguma aos que estão olhando. Ela não comunica nada, pois não usa palavras, e ela não confere nenhum benefício palpável, como curas, milagres ou ofertas em dinheiro. A dança litúrgica é uma dança diante dos homens, não diante do Senhor. Por isso ela é coreografada, ensaiada, planejada e atende a uma escala e a um ministério. Ela é para os outros assistirem, mas assistir a uma dança é, no máximo, um entretenimento. Por essa razão, não deve haver danças litúrgicas em uma reunião da igreja.
6. Por outro lado, é totalmente belo e justo que os membros da igreja dancem diante de Deus quando estiverem em adoração juntos. Durante os cânticos, cada cristão tem a liberdade de expressar seu louvor a Deus com o corpo como quiser. Alguns vão ficar parados, outros vão se ajoelhar, ou erguer as mãos, ou dar uma sapateada, ou se balançarem no ritmo. Ninguém deve olhar feio para essas irmãos. Ninguém deve julgá-los como fanáticos, irracionais ou apenas bobinhos. Todos devemos nos alegrar quando vemos a alegria do Espírito movendo nossos irmãos assim. E quem quiser se expressar dessas maneiras, não hesite. Claro, pode haver um ou outro doido que tente usar a dança e os movimentos extravagantes para chamar a atenção e atrapalhar todo mundo, mas é muito fácil perceber a diferença.
7. A Bíblia também relata certas performances que são como que teatros de profecias. Isaías, Jeremias, Ezequiel e Ágabo fizeram essas coisas. Mas elas são ordenadas por Deus na entrega de profecias. Isso também faz parte do culto, mas certamente as danças litúrgicas não se enquadram nessa categoria.
8. Também não há problema algum com danças coreografadas em reuniões que não são da igreja, e sim que são explicitamente apresentações. Por exemplo, um show do Diante do Trono. Há algumas pessoas que fazem danças lá, e eu acho ridículo do ponto de vista estético, mas não julgo como errado nem impróprio. Uma apresentação pode ser um evento interessante, aprazível, mas isso não deve ser confundido com culto. Se eu vou assistir a uma dança, mesmo em uma apresentação cristã, eu espero ver uma dança de qualidade. Aí sim eu espero ver Baryshnikovs. Mas isso porque a dança é para um público. É fundamentalmente diferente da dança diante do Senhor, da dança pela sincera adoração.
9. Os cristãos deveriam amadurecer nessas coisas, porque há muito escárnio e deboche com coisas que Deus ama e até vinga. De modo geral, os cristãos brincam demais, brincam com tudo, fazem piada com tudo. O povo de Deus deveria ser muito mais sóbrio, e a sobriedade bíblica inclui a aprovação e o encorajamento a coisas que são ridículas aos olhos dos homens, como danças espontâneas e toscas quando elas procedem de adoração e louvor.
— Poder do Alto