Dízimo: Uma Exposição em Malaquias
Por Vincent Cheung, extraído de Commentary on Malachi (2003).
Em resposta ao desafio do povo “Em que havemos de tornar?”, Malaquias menciona o que parece ser uma transgressão impossível: “Roubará o homem a Deus?”. Usada também em Provérbios 22:23, a palavra para “roubar” traz a ideia de “saquear” ou “tomar pela violência”. Embora a LXX favoreça “enganar”, criando assim um trocadilho com o nome de Jacó, parece que o hebraico deveria ter prioridade, conforme sustentado pela Vulgata.⁵ Esse significado também está bem estabelecido na literatura talmúdica.⁶ Portanto, a questão é se um homem pode apoderar-se do que pertence a Deus.⁷
Como é possível que um homem roube ou defraude a Deus? Só tentar seria tolice, mas é isso que Malaquias acusa o povo de ter tentado fazer. Então, como já esperávamos, o povo responde: “Em que te roubamos?” (v. 8). A resposta é que eles roubaram a Deus “Nos dízimos e nas ofertas alçadas” (v. 8).
O dízimo refere-se a dar dez por cento de suas posses e renda a Deus, geralmente aceito por seus representantes escolhidos. Abraão e Jacó o praticaram (Gênesis 14:20, 28:22), e Deus a tornou uma legislação compulsória sob Moisés. Malaquias acusa o povo de roubar a Deus por não pagar seus dízimos e, além disso, eles também roubaram a Deus de suas “ofertas”, que “era em parte uma contribuição voluntária e em parte compulsória”.⁸ Os dízimos deveriam ser trazidos “à casa do tesouro”, que era um “repositório para os dízimos anexado ao templo e presidido pelos levitas (1 Crônicas 9:26, 29)”.⁹ J. M. P. Smith observa que os dízimos e as ofertas “conjuntamente constituíam um grande elemento na manutenção do pessoal do templo de sacerdotes e levitas”.¹⁰ Ao negligenciar seus dízimos e ofertas, o povo tem gerado dificuldades financeiras para aqueles que se dedicam ao trabalho espiritual.
Deus diz no versículo 9 que, uma vez que a nação o roubou, ele lançou uma maldição contra ela, de modo que “o castigo mencionado em 2:2 cairia sobre a nação culpada como um todo”.¹¹ Os versículos 10 e 11 indicam que a maldição consiste na quebra das colheitas, resultante de condições climáticas adversas e pestes. Parece que o povo usou suas dificuldades econômicas como desculpa para negar a Deus o que lhe pertence, embora seja precisamente sua desobediência que o colocou sob a maldição de Deus. Como observa Hugenberger:
Essa negligência pode ter parecido justificada por causa da quebra de colheita, seca e pestilência (10–11), o que teria sido mais do que suficiente para deter tais adoradores complacentes. O Senhor revela, porém, que esses desastres naturais foram o resultado, e não a causa, da desobediência da nação (8; cf. Ag. 1:6, 9–11; 2:16–19).¹²
A nação já havia estado sob uma maldição durante o ministério do profeta Ageu. A razão era que eles estavam focados em construir suas próprias casas, enquanto o templo de Deus estava longe de ser concluído:
Veio, pois, a palavra do SENHOR, pelo ministério do profeta Ageu, dizendo: É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há de ficar deserta? Ora, pois, assim diz o SENHOR dos Exércitos: Aplicai o vosso coração aos vossos caminhos. Semeais muito e recolheis pouco; comeis, mas não vos fartais; bebeis, mas não vos saciais; vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário recebe salário num saquitel furado.
Deus certamente fala a verdade quando diz: “Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes” (Malaquias 3:7). A mensagem de Ageu foi semelhante, exortando-os a dar a Deus o que ele exigia e a colocar a honra de Deus antes de seu próprio conforto: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Aplicai o vosso coração aos vossos caminhos. Subi o monte, e trazei madeira, e edificai a casa; e dela me agradarei e eu serei glorificado, diz o SENHOR” (Ageu 1:7–8).
Para reparar o relacionamento danificado entre Deus e Israel, o povo deve novamente trazer “todos os dízimos à casa do tesouro” (Malaquias 3:10). O verbo hebraico aqui expressa um comando, para que as leis de Deus não sejam obedecidas ou ignoradas com base na preferência de alguém. “Todo o dízimo”, seguido por um genitivo determinado no hebraico, significa a totalidade e pode ser traduzido como “o dízimo todo” (NIV) ou “todos os dízimos” (NLT). O versículo pode implicar que as pessoas não estão trazendo o dízimo todo ou que nem todos estão dando o dízimo. A primeira interpretação é preferida, porque Deus diz que “toda a nação” (v. 9) o está roubando. Keil escreve: “No v. 10a, a ênfase recai sobre kol: eles deveriam trazer o todo do dízimo, e não apenas uma parte dele, e assim defraudar o Senhor; pois o dízimo foi pago a Jeová por Seus servos, os levitas (Números 18:24).”¹³
Se o povo retornasse a Deus trazendo todos os seus dízimos, então ele promete: “[Abrirei] as janelas do céu e [derramarei] sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril” (vv. 10–11). Abrir “as janelas do céu” significa que ele satisfará a necessidade de chuva da nação,¹⁴ e as palavras “que dela vos advenha a maior abastança” denotam uma “bênção transbordante” (NRSV).¹⁵
Portanto, “Sem omitir a necessidade de santidade (cf. 2:13; 3:3–4), Deus promete nos versículos 10–12 que assim que seu povo se tornar fiel na apresentação de seus dízimos completos, a chuva desesperadamente necessária virá. (10), a pestilência e a quebra da colheita cessarão (11)”.¹⁶ O resultado é que “todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa” (v. 12). Ou seja, “Israel assumirá novamente sua posição central e única como ‘o povo favorecido’ (Gn. 12:3; Is. 61:9; Zc. 8:13)… As mesmas nações que ridicularizaram e oprimiram os exilados que retornam serão obrigados a proclamá-los uma nação que está sendo abençoada por Deus”.¹⁷
Em nossos dias, a restauração da adoração e piedade corretas na igreja envolve não apenas uma reforma do ministério cristão, mas também uma reforma na devoção cristã. Avivamento espiritual significa um compromisso renovado de estudar a Escritura e obedecer aos seus mandamentos. Isso, por sua vez, implica um retorno aos “estatutos” de Deus (v. 7), incluindo o preceito bíblico de sustentar os ministros cristãos com seus dízimos e ofertas.
Algumas pessoas ensinam que o dízimo não é para hoje, mas seus argumentos contra a prática são fracos. Começaremos com o exemplo de Verhoef. Ele admite que “não se pode negar” que, entre o Antigo e o Novo Testamento, “existe continuidade em conexão com nossa obrigação de cumprir nossa mordomia e as promessas da bênção de Deus em nossas vidas”. Mas depois ele acrescenta:
Deve ficar claro que [o dízimo] pertencia, em conjunto com todo o sistema de doação e oferta, à dispensação das sombras e que, portanto, havia perdido seu significado como obrigação de doação sob a nova dispensação. A continuidade consiste no princípio da doação, na obrigação continuada de sermos dignos administradores de nossos bens, e na descontinuidade na forma como cumprimos nossas obrigações.¹⁸
Podemos encontrar falhas em suas declarações acima imediatamente, mas vamos ler mais sobre as razões de sua conclusão sobre o dízimo cristão:
A lei declara que um dia dentre sete é santo para o Senhor, o Espírito santifica todos os sete. A lei separa uma tribo de doze para ser sacerdotes, o Espírito declara que toda a congregação deve cumprir o ofício sacerdotal (1 Pe 2:9). A lei exige a décima parte dos bens de seu povo, o Espírito nos traduz para nos tornarmos propriedade de Deus com tudo o que temos. Tudo pertence a ele. Somos apenas despenseiros que terão de prestar contas de tudo o que possuímos.¹⁹
Isto é ridículo. Primeiro, nessas sentenças ele contrasta “a lei” e “o Espírito” como se esses dois estivessem em conflito radical, mas ele não dá nenhuma justificativa bíblica para isso. Em vez disso, Paulo diz: “Sabemos que a lei é espiritual” (Romanos 7:14), mas talvez Verhoef não saiba. Como ele formula suas afirmações dessa maneira injustificada, sua posição já é suspeita.
Ele diz: “A lei declara que um dia dentre sete é santo para o Senhor, o Espírito santifica todos os sete”. Ele quer dizer com isso que a lei não declara os outros seis dias como “santos”? Mas é a lei que diz: “Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo” (Levítico 19:2). A menos que Deus seja santo apenas no sábado, seu povo deve ser santo todos os sete dias da semana. É precisamente porque todos os sete dias pertencem a Deus que ele exige de seu povo: “guarde os meus sábados” (v. 3). A Nova Aliança não “melhorou” nisso, pois Pedro escreve: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1:15–16). Ele cita a lei como razão para o cristão ser santo “em toda a mareira de viver”. Rushdoony escreve:
Em toda a Escritura, requer-se que toda a nossa vida, dias e atividades sejam santos: não há diferença aqui entre o Antigo e Novo Testamento. Um dia dentre sete deve ser separado para descanso, mas todos os sete devem ser devotados à santidade, todos devem ser santificados ao Senhor e pelo seu Espírito. Verhoef confunde as ideias de descanso e santidade; elas são ideias relacionadas, mas claramente separadas. Não somente o descanso, mas o trabalho também deve ser santo.²⁰
Em seguida, Verhoef diz: “A lei separa uma tribo de doze para servir como sacerdotes — o Espírito declara que toda a congregação deve cumprir o ofício sacerdotal (1 Pe 2:9)”. O versículo ao qual ele se refere diz: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9). No entanto, o próprio Pedro está citando o Antigo Testamento:
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha. E vós me sereis reino sacerdotal e povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel. (Êxodo 19:5–6)
Mas o SENHOR vos tomou e vos tirou do forno de ferro do Egito, para que lhe sejais por povo hereditário, como neste dia se vê. (Deuteronômio 4:20)
Porque és povo santo para o SENHOR, teu Deus, e o SENHOR te escolheu para seres o seu povo particular entre todos os povos sobre a face da terra. (Deuteronômio 14:2, A21)
Hoje o SENHOR te declarou que serás seu povo particular, como te disse, e que deverás guardar todos os seus mandamentos; para assim te exaltar em honra, fama e glória sobre todas as nações que criou; e para que sejas um povo santo ao Senhor, teu Deus, conforme ele disse. (Deuteronômio 26:18–19, A21)
Parece que em 1 Pedro 2:9, Pedro apenas resume essas passagens do Antigo Testamento que foram originalmente ditas a Israel e as aplica aos cristãos: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido; para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
Um capítulo anterior menciona que não se pode usar 1 Pedro 2:9 para eliminar a distinção entre clérigos e leigos. Ou seja, ao dizer que todo cristão é um “sacerdote” sob a Nova Aliança, Pedro não está fazendo um contraste com o povo sob a Antiga Aliança. Isso porque, novamente, Pedro está citando passagens do Antigo Testamento que em seus contextos originais se referem ao povo de Israel. Isto é, até mesmo o Antigo Testamento chama Israel de “reino sacerdotal”, e ainda assim Deus escolheu entre o povo os levitas para funcionar como um clero profissional.
Isso contradiz Verhoef, que afirma que o Espírito escolheu todos os cristãos para serem sacerdotes no sentido de que os levitas foram escolhidos para serem sacerdotes. Se existisse um clero profissional sob a Antiga Aliança, mesmo que toda a nação fosse chamada de “reino sacerdotal”, então Verhoef não pode usar 1 Pedro 2:9 para dizer que todos os cristãos são sacerdotes em um sentido que elimina a distinção entre o clero cristão e os leigos cristãos. Com este versículo, Verhoef não pode recusar-se a reconhecer uma distinção entre o clero cristão e os leigos cristãos semelhante à que existia entre os levitas e os outros israelitas sob a Antiga Aliança. Como Rushdoony observa:
Essa é uma declaração impressionante; impressionante em sua desonestidade e falsidade. Certamente Verhoef sabe que aqui Pedro também está citando a lei!… Ser um povo santo significa ser um povo separado, um povo dedicado ou sacerdotal. Isso o Antigo Israel era e isso o Novo Israel de Deus é. Então um clero profissional existia e hoje existe um também. O que Êx 19:6 diz, 1 Pe 2:9 repete.²¹
Então, Verhoef aplica os exemplos anteriores, que demolimos, ao dízimo: “A lei exige a décima parte das possessões — o Espírito nos translada para nos tornarmos possessão de Deus com tudo o que temos, cem por cento. Tudo pertence a ele. Somos seus despenseiros, que darão conta de cada centavo que possuímos”. A implicação é que tudo o que os crentes da Antiga Aliança tinham pertenciam a eles mesmos, exceto dez por cento, mas tudo o que os crentes da Nova Aliança têm pertence a Deus, sem exceção. Embora isso seja falso, mesmo que Verhoef esteja certo sobre isso, o que ele diz ainda não explica por que os crentes da Nova Aliança podem deixar de dar o dízimo, em vez de dar cem por cento, ou seja, todas as suas posses a Deus.
Verhoef diz que sob a Antiga Aliança, dez por cento das posses de uma pessoa pertencem a Deus e, portanto, o crente da Antiga Aliança é obrigado a dar dez por cento de suas posses aos ministros de Deus. Por outro lado, Verhoef sustenta que sob a Nova Aliança, cem por cento das posses de uma pessoa pertencem a Deus. Mas, em vez de concluir que a doação compulsória aumentou de dez por cento para cem por cento, ele conclui que o crente da Nova Aliança se torna um administrador de seus bens para Deus, e que não é obrigado a dar dez por cento — ou qualquer outra quantia designada — aos ministros de Deus.
Ora, se Verhoef está dizendo que devemos dar aos ministros apenas o que pertence a Deus, e que podemos ficar com o restante, então, ao dizer que todas as nossas posses pertencem a Deus sob a Nova Aliança, isso só pode significar que a doação compulsória aumentou de dez por cento para cem por cento sob a Nova Aliança. Verhoef conclui que podemos dar menos precisamente porque mais do que possuímos pertence a Deus! No entanto, a menos que a Escritura ensine explicitamente o contrário, parece que quando mais pertence a Deus, mais deve ser dado a ele.
O raciocínio de Verhoef é que os crentes da Antiga Aliança dão um dia de sete a Deus porque um dia de sete pertence a Deus e os outros seis pertencem a eles mesmos. Mas sob a Nova Aliança, todos os sete dias da semana pertencem a Deus, então Verhoef diz que não devemos dar a Deus nenhum desses dias. Pelo mesmo raciocínio, os crentes da Antiga Aliança são obrigados a dar dez por cento de tudo o que têm a Deus, porque dez por cento pertence a Deus, mas uma vez que tudo o que temos pertence a Deus sob a Nova Aliança, de alguma forma somos obrigados a não dar absolutamente nada a ele. O ponto é que o argumento absurdo e antibíblico de Verhoef sai pela culatra contra ele, de modo que, em vez de cancelar as doações compulsórias, resulta em um aumento das doações compulsórias.
A verdade é que tudo pertence a Deus tanto na Antiga quanto na Nova Aliança, e dar a Deus dez por cento representa um reconhecimento da propriedade total de Deus sobre todas as coisas. Deus poderia exigir menos ou exigir mais, já que tudo pertence a ele, mas ele achou por bem estabelecer o dízimo como um meio pelo qual seu povo pode honrá-lo e suprir seus ministros.
Assim, Rushdoony escreve:
Certamente um professor de Antigo Testamento deveria saber que os primícias e o dízimo representam a dedicação de toda a colheita e de toda a nossa renda, pessoa e vida ao Senhor. O fato de dar os primícias, as primícias do rebanho e o dízimo, não o que sobrou, mas a primeira porção ao Senhor, significa a dedicação de tudo ao Senhor… Já vimos que Dt. 4:20 fala de Israel como a herança ou possessão de Deus; Dt. 14:2 como um povo único ou peculiar ao Senhor, isto é, como Sua propriedade, e assim por diante. Em toda era, os eleitos de Deus são sua possessão no sentido mais pleno da palavra… A recusa em dizimar é transformada numa virtude, como um sinal que de alguma forma, sonegando o nosso dízimo, estamos dando tudo ao Senhor!²²
Rushdoony então conclui sua crítica a Verhoef e diz:
Em um ponto Verhoef está correto: somos “possessão de Deus com tudo o que temos, cem por cento. Tudo pertence a ele. Somos seus despenseiros, que darão conta de cada centavo que possuímos”. Precisamente, e esse é o motivo de Deus requerer de nós o dízimo, nossas primícias. Sua reivindicação sobre nós é primeira e total. Reconhecemos essa reivindicação ao dar a Deus o dízimo que Ele requer de nós pela lei. Se damos a Ele a prioridade em nossas vidas, tempo, trabalho e renda, então temos de fato manifestado por meio disso que somos verdadeiramente Sua possessão. Se negamos a Ele o seu dízimo, então nossa profissão de fé é, de fato, vazia.²³
A ilustração a seguir pode ajudar a esclarecer o ponto:
[Deus] sabe que há algo errado com o marido que responde à reclamação de sua esposa de que ele não lhe dá tempo dizendo: “Como assim eu não lhe dou meu tempo? TODO o meu tempo é seu. Eu trabalho o dia todo para você e para as crianças”. Isso soa muito vazio se ele não lhe der nenhum “tempo especial”. Dar a ela algumas noites juntos e alguns encontros não nega que todo o seu tempo é para ela, isso prova isso. É por isso que Deus declara que um dia em sete é especialmente o de Deus. Os dias são todos dele, e tornar um especial prova isso. E é assim com nosso dinheiro e Deus. Dar a Deus um décimo de nossa renda não nega que todo nosso dinheiro é de Deus, mas prova que acreditamos nisso. O dízimo é como uma oferta constante das primícias de tudo. O décimo é teu, ó Senhor, de modo especial, porque tudo é teu de uma forma comum.²⁴
Outra objeção ao dízimo cristão vem de Hebreus 7, onde diz que Jesus é um sumo sacerdote maior do que Arão:
Esse Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, encontrou-se com Abraão quando este voltava, depois de derrotar os reis, e o abençoou; e Abraão lhe deu o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, seu nome significa “rei de justiça”; depois, “rei de Salém”, que quer dizer “rei de paz”. Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote para sempre. Considerem a grandeza desse homem: até mesmo o patriarca Abraão lhe deu o dízimo dos despojos! A Lei requer dos sacerdotes entre os descendentes de Levi que recebam o dízimo do povo, isto é, dos seus irmãos, embora estes sejam descendentes de Abraão. Este homem, porém, que não pertencia à linhagem de Levi, recebeu os dízimos de Abraão e abençoou aquele que tinha as promessas. Sem dúvida alguma, o inferior é abençoado pelo superior. No primeiro caso, quem recebe o dízimo são homens mortais; no outro caso, é aquele de quem se declara que vive. Pode-se até dizer que Levi, que recebe os dízimos, entregou-os por meio de Abraão, pois, quando Melquisedeque se encontrou com Abraão, Levi ainda não havia sido gerado.
O sacerdócio de Arão é inferior ao sacerdócio de Melquisedeque por vários motivos. Primeiro, Abraão, o ancestral de Arão e dos levitas, pagou o dízimo a Melquisedeque, que por sua vez o abençoou: “Sem dúvida alguma, o inferior é abençoado pelo superior” (v. 7). Segundo, o primeiro é administrado por seres mortais, mas o último é fundamentado no “poder de uma vida indestrutível” (v. 16). Terceiro, os levitas eram sacerdotes por causa de sua ascendência, mas Cristo é nosso sumo sacerdote por um juramento pessoal de Deus: “Porquanto sobre ele é afirmado: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque’” (v. 17; Salmo 110:4). O sacerdócio de Melquisedeque é realmente superior ao sacerdócio de Arão. Visto que Deus fez de Jesus um sacerdote da ordem de Melquisedeque, segue-se que Jesus é maior que Arão.
Mas o que isso implica é outra questão. Por que a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque implica a abolição do dízimo? Estar sob a administração de um sacerdócio superior não significa automaticamente que a pessoa não precise dar o dízimo. Talvez alguém possa apontar para o versículo 12, que diz: “Certo é que, quando há mudança de sacerdócio, é necessário que haja mudança de lei”. Mas, novamente, isso não resolve automaticamente o problema. Por que uma “mudança de lei” implica necessariamente a abolição do dízimo? A lei diz: “Não matarás”. Isso significa que podemos cometer assassinato sob o novo sacerdócio, visto que há “uma mudança de lei”?
O que é essa “mudança de lei”? Refere-se a uma mudança, ou mesmo à abolição, de todas as leis morais, cerimoniais e civis anteriormente reveladas? Ou, dado o contexto, refere-se apenas às leis relevantes ao sacerdócio levítico? Albert Barnes explica:
A conexão exige que a entendamos apenas da lei na medida em que estava conectada com o sacerdócio levítico. Isso não poderia se aplicar aos dez mandamentos — pois eles foram dados antes da instituição do sacerdócio; nem poderia se aplicar a qualquer outra parte da lei moral, pois isso não dependia da nomeação dos sacerdotes levíticos. Mas o significado é que, como um grande número de leis — constituindo um código de extensão e importância consideráveis — foi dado para a regulamentação do sacerdócio e em referência aos ritos da religião, que eles deveriam observar ou supervisionar, seguiu-se que quando seu ofício foi substituído por outro de ordem totalmente diferente, a lei que os havia regulamentado desapareceu também, ou deixou de ser obrigatória. Este é um ponto muito importante na introdução do Cristianismo e, portanto, é tão frequentemente insistido nos escritos de Paulo.²⁵
Portanto, a mudança do sacerdócio de Arão para o sacerdócio de Melquisedeque altera apenas as coisas que são diretamente relevantes para o sacerdócio de Arão e não elimina automaticamente o dízimo. Em vez disso, a questão deveria ser se o sacerdócio de Melquisedeque é aquele que recebe dízimos. Descobrimos que esse sacerdócio realmente recebe dízimos, pois a mesma passagem se refere ao relato de Gênesis em que Abraão pagou dízimos a Melquisedeque. Então, observamos que Jesus é um sacerdote da ordem de Melquisedeque, que é uma ordem sacerdotal que recebe dízimos.
Em Mateus 23:23, Jesus repreende os fariseus, dizendo que eles parecem ser fiéis em pagar seus dízimos, mas negligenciam os assuntos ainda mais importantes da lei: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas”. De fato, Jesus diz que as virtudes interiores, como julgamento, misericórdia e fé, são “mais importantes” do que o dízimo, mas ele não abole ou menospreza o dízimo em nenhuma passagem bíblica, nem diz que ele está expirando.
Como Piper observa, Jesus nunca disse: “Ouvistes o que vos foi dito: Trazei todos os dízimos à casa do tesouro! Porém eu vos digo Cinco por cento basta, ou até mesmo dois”.²⁶ Antes, ele diz “deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas”. Isto é, eles devem manter tanto o caráter interno (fé, amor, justiça, etc.) quanto a obediência externa, como o dízimo.
Algumas pessoas afirmam que Paulo não pediu dinheiro para sustentar seu ministério, e até ensinou contra isso. Mas isso é uma distorção grosseira da Escritura. Embora Paulo às vezes trabalhou para se sustentar, isso aconteceu porque ele não queria afetar negativamente como o evangelho seria recebido por aqueles que nunca o ouviram. Ele escreve: “Se outros têm direito de ser sustentados por vocês, não o temos nós ainda mais? Mas nós nunca usamos desse direito. Ao contrário, suportamos tudo para não pôr obstáculo algum ao evangelho de Cristo” (1 Coríntios 9:12, NVI). Em outras ocasiões, ele aceita ajuda financeira de cristãos (Filipenses 4:15–16).²⁷
Paulo certamente não ensina que os cristãos devem negar o apoio de seus ministros e igrejas. Em vez disso, ele ensina explicitamente que o trabalho ministerial em si merece salários integrais, que os ministros não devem ter que encontrar trabalho fora de seus ministérios e que os cristãos devem fornecer-lhes total apoio financeiro:
Ou será que só eu e Barnabé não temos direito de receber sustento sem trabalhar? Quem serve como soldado à própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não bebe do seu leite? Não digo isso do ponto de vista meramente humano; a Lei não diz a mesma coisa? Pois está escrito na Lei de Moisés: “Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal”. Por acaso é com bois que Deus está preocupado? Não é certamente por nossa causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque “o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da colheita”. Se entre vocês semeamos coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas materiais?… Vocês não sabem que aqueles que trabalham no templo alimentam-se das coisas do templo, e que os que servem diante do altar participam do que é oferecido no altar? Da mesma forma, o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho que vivam do evangelho. (vv. 6–11, 13–14, NVI)
Para os cristãos, negar apoio financeiro aos ministros do evangelho é defraudá-los em seus salários legítimos. Visto que esses ministros são os porta-vozes escolhidos por Deus, defraudá-los também é roubar a Deus, e ninguém pode roubá-lo impunemente.
Paulo nem sempre aproveitou seu direito de receber apoio financeiro (v. 15), mas isso não significa que ele nunca teve esse direito. Se os ministros cristãos não tivessem o direito de exigir apoio financeiro dos cristãos, o argumento de Paulo não teria sentido. Seu ponto é que ele não tomou o que era seu por direito, e não que ele desistiu do que não lhe pertencia em primeiro lugar. Portanto, o direito de receber apoio financeiro cabe ao ministro ceder temporariamente sempre que julgar conveniente por causa do evangelho, mas nunca cabe aos cristãos reter o dinheiro dele.
Quanto aos que pensam que o dízimo é uma ordenança da Antiga Aliança que foi abolida na Nova Aliança, observe que Paulo estabelece o direito do ministro de receber apoio financeiro apelando duas vezes para a lei da Antiga Aliança:
Pois está escrito na Lei de Moisés: “Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal”. Por acaso é com bois que Deus está preocupado?… Vocês não sabem que aqueles que trabalham no templo alimentam-se das coisas do templo, e que os que servem diante do altar participam do que é oferecido no altar? (vv. 9, 13)
Então, ele declara o que quer dizer quando apela para a lei, dizendo: “Da mesma forma, o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (v. 14). Ele diz que da mesma forma que os sacerdotes da Antiga Aliança eram sustentados pelas ofertas do povo a Deus, os ministros da Nova Aliança devem receber seu sustento financeiro daqueles que os ouvem.
Além disso, Paulo chega a dizer: “Os presbíteros que fazem um bom trabalho na igreja merecem pagamento em dobro, especialmente os que se esforçam na pregação do evangelho e no ensino cristão.” (1 Timóteo 5:17, NTLH). Algumas traduções dizem “dupla honra” (KJV, NIV, etc.), mas isso está claramente errado, pois o versículo seguinte diz: “Pois a Escritura diz: ‘Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal’, e ‘o trabalhador merece o seu salário’” (v. 18, NVI). O contexto é sobre dinheiro, ou pagar aos ministros o que eles merecem. Assim, Jay Adams escreve: “Paulo estava se referindo ao pagamento duplo, não honra”, e acrescenta: “É de se admirar o que foi que induziu os tradutores a errar quando a tradução correta era tão óbvia”.²⁸ Talvez os tradutores tenham sido tendenciosos contra um comando para pagar nossos pregadores escrito em linguagem tão simples?
A afirmação “O trabalhador merece o seu salário” indica que o apoio financeiro a um ministro é como o salário de qualquer outro trabalhador; ou seja, o dinheiro é devido à pessoa e não é apenas uma doação voluntária. Privar o salário do ministro seria como roubar o salário de qualquer trabalhador, ato que Deus certamente punirá. Portanto, se um ministro faz bem em supervisionar a igreja, e especialmente se ele trabalha duro na pregação e no ensino, a Escritura ordena que você pague a ele, e pague-o em dobro! Os cristãos que pagam bem seus ministros não são especialmente generosos ou honrados, mas estão apenas cumprindo suas obrigações, mas aqueles que negam o pagamento aos ministros não são melhores do que ladrões e salteadores.
Mostramos que o Novo Testamento parece reafirmar o dízimo em vez de aboli-lo. Além disso, renova explicitamente a instrução de que devemos pagar aos obreiros o salário que eles merecem e que os ministros cristãos merecem pagamento em dobro. Portanto, a aversão contemporânea ao dízimo e o desgosto com a mera menção de dinheiro pelos ministros, revela um coração preso por profunda cobiça e afronta a Deus. Em vez de adorar a Deus e respeitar os ministros, eles adoram o dinheiro e respeitam a riqueza. Mas, como Jesus adverte: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6:24, NVI).
R. Paul Stevens pergunta: “Será que o desembolso de dinheiro representado por nosso talão de cheques ou faturas de cartão de crédito reflete as prioridades de Deus para a vida cotidiana?”²⁹ Jesus diz: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus 6:21, NVI). Em outras palavras, você gastará seu dinheiro com o que considera importante, e assim podemos obter mais informações sobre sua condição espiritual, examinando como você gasta seu dinheiro. Se fôssemos observar como você tem gasto seu dinheiro, o que concluiríamos sobre você? Iríamos concluir que você constantemente nega a si mesmo e diariamente toma sua cruz (Lucas 9:23), ou concluiríamos que você é um falso convertido que está interessado apenas em preservar sua própria segurança e conforto?
Falhando em resistir aos nossos argumentos bíblicos, algumas pessoas afirmam que os pregadores são geralmente gananciosos, e qualquer conversa deles sobre dinheiro é apenas um reflexo de sua ânsia insaciável por dinheiro. Para apoiar seu caso, eles frequentemente citam os exemplos daqueles que foram expostos como fraudes, aqueles que maltrataram ou desviaram grandes somas de dinheiro e aqueles que estão levando vidas especialmente extravagantes.
Mas isso certamente é um arenque vermelho. É como o pró-aborto que defende o direito das mulheres ao aborto a partir de exemplos como gravidez resultante de estupro. Quantas mulheres que consideram o aborto foram estupradas? Mesmo se concedermos a todas as vítimas de estupro a opção de abortar, como isso chegaria perto de resolver o debate sobre o aborto, visto que a maioria das mulheres não estão grávidas por meio de relações sexuais forçadas? Seja lá como for, o pecado do estuprador anula o mandamento de Deus?
Da mesma forma, para cada pessoa gananciosa ou desonesta que se diz ministro cristão, existem milhares de pessoas mesquinhas e avarentas que se dizem cristãs. Por que a falsificação deveria silenciar o genuíno? Os verdadeiros e fiéis ministros de Deus não deveriam falar ainda mais alto e com mais ousadia, para que a verdadeira palavra de Deus pudesse ser ouvida? E não deveriam os verdadeiros cristãos encorajar tal discurso ousado sobre o dinheiro, em vez de reprimi-lo? A verdade é que aqueles que se opõem a sermões ou livros que ensinam a obrigação cristã e a generosidade o fazem para esconder sua cobiça e afronta, e para suprimir sua consciência atormentada. Por outro lado, John Piper observa:
Toda vez que você dizima, você deve lidar com o desejo do que poderia ter comprado para si mesmo. Dar não é comprar… Devemos combater a cobiça quase todos os dias. E Deus designou um antídoto: dar. Ele nos testa repetidamente: o que mais desejamos — o avanço de seu nome ou 10% a mais de segurança, conforto e diversão? Como Jesus diz, você sabe onde está o seu coração por onde está o seu tesouro. O dízimo é um dos grandes antídotos de Deus contra a cobiça.³⁰
Em vez de sucumbir ao argumento dos “pregadores gananciosos”, devemos expor a reclamação pelo que ela é — um vislumbre daqueles cujas mentes estão enredadas pelo amor ao dinheiro. Eles são os gananciosos, e não necessariamente os pregadores. Os ministros devem “repreender com toda a autoridade” (Tito 2:15) tal adoração a Mamom, e que ninguém os despreze (v. 15) por ensinarem o dízimo obrigatório e as doações generosas. Não é apenas uma questão de conforto para os ministros, mas os verdadeiros cristãos são aqueles que colocam em primeiro lugar os interesses do reino de Deus. Assim, Piper continua:
A tarefa que [Jesus] nos deu é tão imensa e requer um investimento tão estupendo de compromisso e dinheiro que o pensamento de resolver a questão do que damos por uma porcentagem fixa (como um décimo) está simplesmente fora de questão. Minha própria convicção é que a maioria dos americanos de classe média e alta que simplesmente dizimam estão roubando a Deus. Em um mundo onde 10.000 pessoas por dia morrem de fome e muito mais do que isso estão perecendo na incredulidade, a questão não é, que porcentagem devo dar?, mas quanto ouso gastar comigo mesmo?³¹
Como Boice diz: “É geralmente o caso que no Novo Testamento as obrigações da legislação do Antigo Testamento são aumentadas em vez de diminuídas. Isto é, a lei é interpretada em toda a sua extensão… mais do que o décimo, porque tudo o que temos é do Senhor”.³²
Randy Alcorn afirma corretamente que o Antigo Testamento de fato exige vários dízimos do povo de Deus, o que equivale a vinte e três por cento de sua renda.³³ Assim, para mim, defender uma doação compulsória de dez por cento é bastante moderado em comparação e serve apenas para estabelecer um ponto de partida para a doação cristã. Aqueles que resistem ao dízimo preferem a perspectiva de Piper — isto é, perguntar: “Quanto ouso gastar comigo mesmo?” — ou eles estão presos à ideia de que os ministros devem trabalhar em tempo integral fora da igreja para ganhar seu próprio sustento e ainda trabalhar como pastores perfeitos?
2 Crônicas 31:4 diz: “Ele [Ezequias] ordenou ao povo de Jerusalém que desse aos sacerdotes e aos levitas a porção que lhes era devida a fim de que pudessem dedicar-se à Lei do SENHOR” (NVI). Então, Neemias 13:10–11 diz o seguinte:
Também fiquei sabendo que os levitas não tinham recebido a parte que lhes era devida e que todos os levitas e cantores responsáveis pelo culto haviam voltado para suas próprias terras. Por isso repreendi os oficiais e lhes perguntei: “Por que essa negligência com o templo de Deus?” Então convoquei os levitas e os cantores e os coloquei em seus postos.
O povo não deve apenas complementar uma renda que o ministro deve obter em outro lugar, mas deve dar a ele uma quantia que seja pelo menos suficiente para livrá-lo completamente do trabalho secular. Deixar de fazer isso é negligenciar a casa de Deus.
No entanto, isso é apenas o mínimo. Mesmo na arena secular, o salário de uma pessoa geralmente é determinado, entre outras coisas, pela dificuldade e valor de seu trabalho. A tarefa do ministro é incomparável em ambas as áreas. Ele tem que convencer os pecadores, convencer os céticos, encorajar os abatidos, ensinar os ignorantes e levar os eleitos à maturidade — tudo por manejar fielmente a palavra de Deus. Os efeitos de suas realizações são de longo alcance e durarão para sempre. Portanto, 1 Timóteo 5:17 diz que os líderes da igreja “que fazem bem o seu trabalho devem ser bem pagos” (NLT), e não apenas com uma quantia suficiente para viver. A GNT [NTLH] diz que ele merece “pagamento em dobro”. Isso se aplica especialmente aos ministros doutrinários — aqueles que trabalham arduamente na pregação e no ensino (v. 17).
Visto que o trabalho de um ministro envolve ensinar as palavras da Escritura às pessoas, a maneira como você trata seu ministro reflete sua avaliação do valor da palavra de Deus, de modo que, se você roubar o salário de seu ministro, não terá justificativa bíblica para dizer que ama a Deus e sua palavra. O que você dá ao seu ministro demonstrará se você valoriza a palavra de Deus “mais do que o ouro” (Salmo 19:10), ou se você pisará a sabedoria de Deus sob seus pés e depois se voltará para insultar aquele que a entrega a você (Mateus 7:6).
Claro, quando a Escritura ordena que você apoie seu ministro, e especialmente seu ministro doutrinário, está se referindo a um ministro que é fiel e competente. Você não tem obrigação de apoiar um herege; em vez disso, a Escritura ordena que você o exponha e se oponha a ele. A respeito de alguém que ensina falsas doutrinas, João escreve: “Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (2 João 1:11). Se você sabe que um ministro ensina heresia, então apoiá-lo com seu dinheiro ou ajudar seu trabalho de alguma forma seria compartilhar de seu pecado. Em vez disso, você deve se submeter a um ministro que ensina a verdadeira fé bíblica e apoiar o trabalho dele com seu dinheiro. Este é um ponto tão simples que você pode pensar que podemos apenas presumir, mas enquanto muitas pessoas desobedecem ao mandamento bíblico de apoiar seus ministros, muitas outras apoiam os ministros errados com seu dinheiro.
━━━━━━━━━━━━━━━
⁵ Verhoef, p. 302–303; Baldwin, pp. 245–246.
⁶ Baldwin, p. 245.
⁷ Mas a ideia de enganar ou “driblar” pode não estar completamente ausente. Keil escreve: “O profeta então lhes mostra o pecado deles: eles fazem o que nenhum homem deveria tentar — eles tentam defraudar Deus no dízimo e na oferta alçada, ou seja, não pagando nada ou não pagando como eles deveriam entrar na casa de Deus” (p. 659).
⁸ Verhoef, p. 305.
⁹ New International Bible Commentary; Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1979; p. 993.
¹⁰ Citado em Verhoef, p. 305.
¹¹ The Wycliffe Bible Commentary; The Moody Bible Institute of Chicago, 1962; p. 918.
¹² New Bible Commentary, p. 888.
¹³ Keil, p. 659.
¹⁴ Calvino: “É a primeira coisa quanto à fertilidade que os céus reguem a terra, de acordo com o que a Escritura declara: e, portanto, Deus ameaça na lei que o céu seria de ferro e a terra de bronze (Dt. xxviii. 23), pois há uma conexão mútua entre o céu e a terra… pois quando está seco e como se estivesse faminto, clama aos céus, mas se a chuva for negada, os céus parecem rejeitar sua oração… Nós, portanto, vemos que Deus não é apenas generoso para nós de uma maneira, mas também pretende, por vários processos, tornar-nos sensíveis à sua bondade: ele envia chuva do céu para amolecer a terra, para que em seu seio alimente o milho e depois envie adiante de suas entranhas, como se estendesse seu peito para nós; e além disso, Deus acrescenta sua bênção, de modo a tornar a chuva útil” (Vol. XV; pp. 590–591). Keil: “Abrir as comportas do céu é uma figura, denotando o mais copioso suprimento de bênção, de modo que flui do céu como uma chuva torrencial (como em 2 Reis 7:2)… até que não haja mais necessidade, ou seja, em superabundância” (p. 659).
¹⁵ Vulgata: “usque ad abundanteiam”; Septuaginta: “até que seja suficiente”; Siríaco: “até que digais: é o suficiente”.
¹⁶ New Bible Commentary, p. 888.
¹⁷ Verhoef, p. 309.
¹⁸ Ibid., p. 311.
¹⁹ Ibid., p. 311.
²⁰ Rushdoony, Tithing; p. 12.
²¹ Ibid., p. 13.
²² Ibid., p. 13.
²³ Ibid., p. 13.
²⁴ John Piper, Toward the Tithe and Beyond: How God Funds His Work; Bethlehem Baptist Church, 10 de setembro de 1995.
²⁵ Albert Barnes, Barnes’ Notes on the New Testament; Grand Rapids, Michigan: Kregel Inc.; p. 1277.
²⁶ John Piper, You will be a Land of Delight; Bethlehem Baptist Church, 6 de dezembro de 1987.
²⁷ NLT: “As you know, you Philippians were the only ones who gave me financial help when I brought you the Good News and then traveled on from Macedonia. No other church did this. Even when I was in Thessalonica you sent help more than once.” [“Como vocês sabem, vocês filipenses foram os únicos que me deram ajuda financeira quando lhes trouxe as Boas Novas e depois viajei da Macedônia. Nenhuma outra igreja fez isso. Mesmo quando eu estava em Tessalônica, vocês enviaram ajuda mais de uma vez”.]
²⁸ Jay E. Adams, The Place of Authority in Christ’s Church; Timeless Texts, 2003; p. 60.
²⁹ The Complete Book of Everyday Christianity; Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1997; p. 965.
³⁰ Piper, Toward the Tithe.
³¹ John Piper, I Seek Not What Is Yours But You; Bethlehem Baptist Church, 24 de janeiro de 1982.
³² Boice, p. 255.
³³ Randy Alcorn, Money, Possessions, and Eternity; Tyndale House, 1989; p. 213.
— Vincent Cheung. Commentary on Malachi (2003), pp. 67–81. Tradução: Luan Tavares (16/03/2023).