Cessacionismo: Uma Apostasia Sistemática
Vincent Cheung
Nós poderíamos escrever um livro inteiro sobre como a heresia maldita do cessacionismo perverte todas as doutrinas da fé cristã. Seria necessário mais um volume para detalhar o dano incalculável que esse ensino demoníaco infligiu na igreja durante a história, e de fato em toda a humanidade.
Aqui vamos só brevemente considerar como ele se relaciona a um esquema de dogmática cristã. Uma vez que eu expliquei os itens abaixo em vários lugares, irei apenas listá-los e assumir que foram entendidos. Não sejamos crianças espirituais, mas sejamos rápidos para relembrar e aplicar aquilo que aprendemos.
Alguns desses erros são cometidos não só por cessacionistas, mas por classes mais amplas daqueles que dizem ser cristãos, que nós chamamos de povo da não-fé ou da incredulidade. Embora só iremos nos referir aos cessacionistas em prol da conveniência, todo o povo da não-fé é culpado de muitos dos itens abaixo.
Bibliologia
Com relação à inspiração da Escritura, a formulação evangélica coloca muita ênfase nos apóstolos, e os cessacionistas exploram isso para os seus fins. Eu já expliquei como essa formulação é defeituosa e encurrala o próprio evangélico em um canto e exige que ele invente uma teoria após a outra para responder aos problemas que resultam. Deus é o autor da Escritura, e isso não ajuda o cessacionismo, porque Deus ainda vive.
Dizem então que o cessacionismo flui da suficiência da Escritura, mas Paulo disse a Timóteo que a Escritura que ele tinha — o Antigo Testamento — já era suficiente. Logo, a Bíblia completa não é só suficiente, mas mais do que suficiente — e isso revela outra falha na formulação evangélica. De qualquer modo, dado que o Antigo Testamento já era suficiente, se o cessacionismo flui da suficiência da Escritura, então o cessacionismo precisa declarar que todo o Novo Testamento é desnecessário e fraudulento. A Bíblia é suficiente para erigir a fé para milagres. E é suficiente para condenar o cessacionista.
Dizem depois que o cessacionismo flui da finalização da Escritura, ou da completude da Escritura. No entanto, os dons do Espírito não escreveram a Escritura, mas Deus o fez — a Escritura veio do seu próprio sopro — e ele ainda vive. Se a completude da Escritura fez com que a capacidade de escrever a Escritura cessasse, então isso significa que a completude da Escritura destruiu o próprio Deus, visto que ele é a única capacidade de escrever a Escritura. Portanto, o cessacionista não pode sequer ser um teísta, quanto menos um cristão. A Bíblia é a palavra final sobre o assunto, de que Deus promete bênçãos sobrenaturais e ordena o ministério de milagres.
O cessacionista também subverte a clareza da Escritura, porque ele proíbe a fé direta nas palavras da Bíblia. Em vez disso, ele impõe uma esquematização artificial na Escritura, com vários termos chiques e teorias estranhas sobre os propósitos de Deus, a fim de torcer as palavras de Deus para além de qualquer reconhecimento, de modo a justificar a sua incredulidade e falta de poder.
O cessacionista alega defender a doutrina de que a Escritura é suficiente e final, mas ele rejeita o que essa Escritura suficiente e final diz. Como Jesus disse “Por que me chamais ‘Senhor, Senhor’ e não fazeis o que vos mando?”. Cuidado! Essa mesma Escritura é também suficiente para declarar a condenação final contra todos os que persistem na incredulidade. Isso ficou claro na carta aos Hebreus e em outros lugares. Que proveito há em declarar a suficiência da Escritura se você não crê nela? Que proveito há em declarar a completude da Bíblia se você não faz o que ela manda? Por que você declara a clareza da Escritura, se você distorce o que ela diz? O único resultado é a autocondenação.
Teologia
A natureza de Deus é realizar milagres. Isso é evidente por toda a Bíblia. Como está escrito, “Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas?”. Seria ridículo afirmar que Deus ainda é glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, mas que ele não está mais operando maravilhas. Isso não tem nada a ver com a história da redenção ou a completude da Escritura — é a natureza de Deus operar milagres. A questão não é quando, e sim quem ele é.
Deus faz milagres geralmente não para se provar, ou para se revelar, ou para autenticar novas revelações, e sim para cumprir suas antigas promessas e revelações. Ele faz milagres porque ele é fiel à sua Palavra. Na verdade, a maioria dos milagres é realizada sobre essa base. O cessacionista distorce a natureza da Escritura e a natureza de Deus.
Deus é soberano. Ele soberanamente faz promessas e ele sempre soberanamente as cumpre. Porém, para o cessacionista, mesmo quando Deus promete algo, ele pode não cumprir, porque “Deus é soberano”. É isso que eles dizem aos cristãos que oram segundo as palavras da Escritura. “Deus é soberano”, logo, não importando o que a Bíblia diz, cada oração ainda é respondida por uma análise caso a caso. Em outras palavras, todas as promessas da Bíblia tornam-se totalmente sem sentido. Assim, o cessacionista faz de Deus um soberano mentiroso, um soberano quebrador de alianças. Isso é blasfêmia. É uma das muitas ofensas passíveis de excomunhão cometida por todo cessacionista.
A Bíblia nos diz para não nos esquecermos dos seus benefícios e declara que Deus é aquele que perdoa todas as nossas iniquidades e sara todas as nossas enfermidades. Se temos fé nele para nos perdoar, é claro que ele nos perdoa. Embora o perdão e a cura sejam concedidos na mesma base, o cessacionista diz que, mesmo quando temos fé em Deus para nos curar, ele pode ainda não nos curar. Assim, o cessacionista introduz uma contradição no registro bíblico sobre a natureza de Deus e a natureza da redenção, e ele fica sem qualquer fundamento para alegar que Deus irá sempre perdoar alguém que tem fé, de modo que sua própria base para a salvação é destruída.
Jesus declarou que aqueles que creem nele executariam as mesmas obras que ele fez e obras ainda maiores. Ele explicou que Deus seria aquele que faria as obras, de modo que ele seria glorificado. O cessacionista não permite isso e, portanto, insiste em uma versão radicalmente diferente sobre como Deus opera.
Cristologia
A Bíblia diz que Jesus tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou nossas dores. Qualquer um que tenha fé deve ser libertado das doenças, assim como qualquer um que tenha fé deve ser libertado do pecado. Se experimentamos alguma dificuldade, deveríamos examinar a nós mesmos, e não mudar a doutrina. As duas bênçãos são garantidas e concedidas na mesma base, de modo que afirmar uma requer que se afirme a outra, e negar uma requer que se negue a outra. O cessacionista assim rejeita a expiação e derriba sua própria pretensão à salvação.
A Bíblia diz que os discípulos curaram os enfermos e expulsaram demônios no nome de Jesus. A doutrina do evangelho é que Deus ressuscitou Cristo dos mortos e o assentou à mão direita do Altíssimo, para que toda criatura no céu, na terra e debaixo da terra se prostre a esse nome. Na verdade, esse nome era eficaz em realizar milagres mesmo antes da ressurreição de Cristo. Logo, o cessacionista rejeita a autoridade do nome de Jesus e a considera abaixo até mesmo do que ela era antes da ressurreição de Cristo.
Pedro disse que o aleijado foi curado “pela fé no nome de Jesus”, mas também disse que “abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”. O apóstolo pregou o mesmo nome para a salvação do mesmo modo e no mesmo contexto em que ele o pregou e o usou para um milagre de cura. Se o nome de Jesus pode salvar hoje, então ele pode curar hoje. Se o nome de Jesus não cura hoje, então com que fundamento podemos crer que ele salva hoje? É o mesmo nome. Logo, o cessacionista rejeita o único nome pelo qual importa que sejamos salvos. Não há outro modo, mas ele rejeita o único modo.
Quando Jesus declarou que aqueles que creem nele realizariam as mesmas obras que ele fez e obras ainda maiores, ele também disse que seria ele quem as realizaria. Ele disse “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará… Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”. Como o cessacionista nega o ministério de milagres, ele também demole todo um aspecto do ministério após a ressurreição e atual de Jesus Cristo.
A Bíblia diz que Jesus é quem batiza no Espírito Santo, e que esse batismo concede aos discípulos “poder do alto”, o mesmo poder que Jesus tinha quando andava pela terra e fazia milagres. Como o cessacionista nega que Jesus concede hoje o poder de operar milagres aos discípulos que o recebem pela fé, ele rejeita o ministério de Jesus como batizador.
Logo, o cessacionista dá um golpe completo na doutrina de Cristo, desde a sua autoridade antes da ressurreição até a sua autoridade após a ressurreição, e desde a sua obra de expiação até a sua obra como mediador, operador de milagres e batizador. O último item, é claro, também torna-se um ataque contra a doutrina do Espírito Santo.
Pneumatologia
O cessacionismo rejeita o ensino bíblico de que o batismo no Espírito Santo é distinto da obra regeneradora do Espírito. E o cessacionismo rejeita o ensino bíblico sobre o que o batismo no Espírito Santo deve produzir. Na Bíblia, quando o Espírito Santo vem sobre alguém, o resultado é milagres e profecias. A Bíblia afirma várias vezes e explicitamente que isso é o que o batismo no Espírito Santo deve gerar. O cessacionista rejeita isso e reduz a operação do Espírito no crente a um mero poder moral, que talvez produza santidade, perseverança e coisas assim.
Pedro pregou esse batismo de poder milagroso como o evangelho, soando como se a recepção do perdão de pecados fosse um meio para um fim — receber o Espírito Santo e o poder. Ele disse “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”. Ele não disse “Crede em Jesus para a remissão dos vossos pecados e recebereis a vida eterna”. Não, ele disse, “Crede em Jesus para a remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo”.
O que ele quis dizer com o dom do Espírito Santo? Ele especificou que se referia ao que Joel disse “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão”. Em outras palavras, Pedro disse “Crede em Jesus para remissão dos vossos pecados e recebereis profecias, visões, sonhos, etc”. Logo, o cessacionista demole não só um grande aspecto da obra do Espírito Santo, mas também o próprio evangelho apostólico.
O cessacionista rejeita os dons do Espírito. No entanto, a Bíblia promete e comanda o aumento e a expansão dos poderes milagrosos, incluindo os dons do Espírito (os dons representam apenas uma de muitas maneiras de realizar ou receber milagres). Portanto, o cessacionista também rejeita a obra do Espírito e o que significa ser um cristão. Geralmente, o Espírito é reduzido a uma influência moral, mas ele é muito mais do que isso. O cessacionista suprime o Espírito em iniquidade e ceifa em seu próprio espírito, no seu corpo e na sua sociedade as consequências dessa incredulidade.
Jesus disse “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas”. Uma vez que o cessacionista rejeita esse poder, ele não só desafia a pneumatologia bíblica, como também a missiologia bíblica. O cessacionista faz da rejeição da Grande Comissão como Jesus a designou a sua doutrina e o seu credo oficial, com frequência até um teste de ortodoxia.
O cessacionista também rejeita o que Jesus quis dizer sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo. Alguns cessacionistas de fato cometeram esse pecado imperdoável e, visto que eles alteraram e afrouxaram o seu significado, eles também aumentam a probabilidade de outras pessoas cometerem. Logo, eles são responsáveis não pela sua própria blasfêmia imperdoável, mas também pela blasfêmia e pela condenação de outros.
Antropologia, Hamartiologia, Soteriologia
A natureza do homem como um espírito, feito à imagem de Deus, especialmente um que nasceu de novo, traz certas implicações para operações espirituais e milagrosas. O cessacionista não sabe ou não aceita o que a Bíblia ensina sobre a natureza espiritual do homem. Então Tiago, no contexto da fé e da oração, escreveu que Elias era homem como nós e, pela fé e oração, realizou milagres que controlaram a natureza. A Bíblia não diz que eu preciso ser um profeta para fazer milagres, porque ela diz que um profeta que fez milagres era como eu. O cessacionista não sabe o que significa ser um ser humano, ou que significa um ser humano que tenha fé.
Jesus é a videira, eu sou o ramo, e sem ele nada posso fazer. Mas eu não estou sem ele. Estou ligado a ele e recebo vida e poder dele. Eu não sou Jesus, mas o fato de que não sou Jesus garante que eu posso fazer as mesmas obras dele e ainda maiores, porque ele disse que “aquele que crê em mim” faria essas coisas — não ele, mas aquele que tiver fé nele. E, é claro, ele mesmo faria essas coisas através daquele que crê. Eu não preciso ser Deus, um apóstolo ou um profeta para operar milagres. Eu só preciso ser humano — um homem que tem fé em Jesus Cristo.
Quanto à doutrina do pecado, o cessacionista geralmente fala de arrependimento, pecado e indignidade, mas ele se recusa a se arrepender da sua própria incredulidade. Ele não alerta as pessoas contra a incredulidade nos milagres, nos dons do Espírito e nos benefícios do evangelho; antes, ele promove a incredulidade nessas coisas. Assim, o cessacionista mostra que ele está ciente do pecado, mas ele não permite que a Bíblia defina o pecado. Ele acolhe o pecado primordial da incredulidade em si e ele promove esse pecado nos outros. Ele ainda não aprendeu a primeira lição sobre o pecado, mas faz eco à serpente, o diabo, que disse “Foi isso mesmo que Deus disse?”.
Na soteriologia, já cobrimos vários itens que poderiam ser elencados sob essa doutrina. O cessacionista rejeita a expiação ensinada na Bíblia, que a obra de Cristo provê perdão e cura, dentre outras coisas, e que ambos estão disponíveis hoje pela fé. Ele nega que Jesus Cristo salva o homem inteiro. Mantenha em mente que o Espírito Santo também é outorgado com base na redenção. Na aplicação da redenção, o cessacionista nega o ensino bíblico sobre o batismo do Espírito Santo, confunde-o e o mistura com outras coisas na marra, a fim de que possa suprimir o verdadeiro propósito e o poder dele completamente.
Eclesiologia
Paulo escreveu que, tal como o corpo é um só e tem muitos membros, assim é Cristo. No contexto dos dons espirituais, ele disse que uma parte do corpo não pode dizer à outra “Não preciso de ti!”. Os dons milagrosos são fortes e necessários? Então esperamos que eles fiquem firmes. Mas e se eles parecem fracos e desnecessários? O apóstolo respondeu “Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários”. De um modo ou de outro, se a cura é um dom do Espírito, ninguém pode dizer a esse dom ou ao seu portador “Não preciso de ti!”. Semelhantemente, se a profecia é um dom do Espírito, se as línguas são um dom do Espírito, se os milagres são um dom do Espírito, ninguém pode dizer “Não preciso de ti!”. Todavia, exceto para o curto período após a ressurreição de Cristo, o cessacionista diz a respeito dos dons do Espírito e daqueles que ministram esses dons — para o passado, o presente e o futuro — “Não preciso de ti!”. Ele golpeia o Espírito através dos séculos. Logo, o cessacionista comete o erro dos coríntios em proporções históricas.
O apóstolo disse “procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em outras línguas”, mas o cessacionista proíbe a profecia e odeia com zelo o falar em línguas. O apóstolo disse que os crentes podem todos falar em profecia cada um por sua vez, mas o cessacionista diz que eles nunca podem profetizar. O apóstolo disse “Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias”. O cessacionista faz o contrário. O apóstolo disse “Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação”. Mas o cessacionista declara que ninguém pode ter uma revelação, ninguém pode ter outra língua, ninguém pode ter uma interpretação. Essa igreja é sequer cristã? A igreja cessacionista nunca atende aos mandamentos do apóstolo sobre como um culto da igreja deve ser. Ela diz ser uma igreja, mas não se comporta como tal.
A igreja cessacionista não mantém a ordem. A ordem correta na igreja não significa apenas impedir as coisas erradas, mas também promover as coisas certas. Nós não suprimimos a falsa doutrina removendo toda a pregação da igreja. Isso não seria ordem no culto, e sim apostasia. Não iria proteger a igreja, mas destruí-la. Do mesmo modo, a ordem no culto regula a operação dos dons do Espírito. Se ela proíbe os dons do Espírito, não é mais uma ordem, mas uma apostasia.
E a disciplina eclesiástica? Na Bíblia, a igreja poderia se reunir para entregar um membro impenitente a Satanás “para a destruição da carne”, mas é necessário ter poder espiritual para fazer isso. Hoje em dia, o membro excomungado provavelmente será mais feliz e saudável, porque ele não precisará mais ficar ouvindo aqueles sermões deprimentes sobre doenças! Há mais curas no mundo do que na igreja.
E a ordenação? Como o Espírito disse, “Separai para mim Barnabé e Saulo”. Mas hoje temos apenas ambição humana, educação humana e um comitê humano. Paulo escreveu a Timóteo “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério”. O quê, o dom? O quê, mediante profecia? Mas agora temos diplomas e certificados. Será que algum cessacionista é verdadeiramente ordenado? Talvez ele seja “devidamente” ordenado, como diz o credo — quer dizer, de acordo com a lei religiosa humana — mas não é espiritualmente e poderosamente ordenado.
Escatologia
A Bíblia diz que os dons do Espírito são uma prova dos “poderes da era vindoura”. Portanto, dizer que passamos do tempo dos dons do Espírito só pode significar que já estamos vivendo na “era vindoura”. Isso não é só falsa escatologia, mas também significa que nós — incluindo os cessacionistas, se forem cristãos — deveríamos ter poderes ainda maiores do que aqueles demonstrados pelos dons do Espírito. Se os dons do Espírito são apenas uma prova, e se já ultrapassamos essa fase, então devemos ter a plena medida dos poderes sobrenaturais. Devemos experimentar bilhões de bilhões de vezes mais dos poderes demonstrados pelos apóstolos. Se ainda não estamos na “era vindoura”, então ainda vivemos na época em que podemos provar dos “poderes da era vindoura”, de modo que devemos ter os dons do Espírito.
Em outro lugar, a Bíblia diz que os dons do Espírito irão cessar quando os poderes que eles representam se tornem tão magnânimos e corriqueiros em nossa experiência que eles serão como coisas de criança. Se eu vejo “como em espelho, obscuramente” com os dons do Espírito agora, eu então verei “face a face”. Se eu conheço agora em parte, então eu “conhecerei como também sou conhecido”. Se eu posso fazer algo como um milagre hoje pelos dons do Espírito, então, quando os dons cessarem, eu farei isso e muito mais como uma habilidade nata e natural, e não será mais um milagre para mim. Eu não precisarei operar milagres para andar sobre as águas se a habilidade de andar sobre as águas se tornar inerente em mim.
Se os dons do Espírito cessaram, então já chegamos lá. Mas como não chegamos lá, é uma falsa escatologia dizer que os dons do Espírito cessaram. O cessacionista vive acusando as pessoas de ensinarem o triunfalismo. Geralmente é uma acusação falsa, e a doutrina cessacionista é pior ainda. Da perspectiva da escatologia bíblica, o cessacionismo é o triunfalismo sem o triunfo. É a doutrina do absoluto perdedor.
Conclusão
Há mais doutrinas e categorias para considerar, mas eu já tive de me apressar nas anteriores e deixei de lado tópicos que eu poderia ter discutido, combinando o homem, o pecado e a salvação em uma única seção. E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir como o cessacionismo corrompe a apologética, o aconselhamento, a ética, a política, a economia, a educação, o trabalho e a vida e todos os aspectos do pensamento e da conduta cristã.
Na apologética, o cessacionista rejeita o papel do Espírito em discernir argumentos, recobrar princípios, desvelar os segredos e realizar milagres. Como eu disse no nosso programa de Argumentação Cristã, “O Espírito Santo é o supra teólogo, filósofo, examinador, profeta e milagreiro… o fator ausente em todos os cursos de apologética cristã”.
No aconselhamento, o cessacionista nega o auxílio do Espírito em revelar os corações e em produzir respostas, e em curar condições psicológicas que são associadas com sintomas físicos, como acontece em alguns casos de depressão. E a expulsão de demônios? Tá brincando? Isso é coisa de filme. O cessacionista envia o pobre diabo aos incrédulos, para que o amarrem em uma camisa-de-força e o entupam de drogas.
Na ética, o cessacionista impede o Espírito de mudar os homossexuais e os viciados via poderes milagrosos. Alguns casos de aborto — ou alguns pretextos para o aborto — podem ser eliminados diretamente por milagres de curas pelos fetos, ou até por apenas colocar a doutrina da cura de volta na discussão. Relembrando que não estamos atacando só o cessacionismo, mas toda a incredulidade, algo como a ética do roubo e da pobreza deve ser respondido não só com princípios e mandamentos crus, mas também com as promessas de provisão material no evangelho.
Quanto ao modo como o cessacionismo corrompeu o engajamento da igreja com a cultura, as pessoas antes ficavam apavoradas com Jesus por causa dos milagres feitos em nome dele: “Mas, dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles; porém o povo lhes tributava grande admiração” e “veio temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido”. Agora as pessoas riem de Jesus. A igreja fica indignada e contra-ataca com política.
O cessacionismo redefiniu como a igreja se relaciona com o mundo, até como Deus se relaciona com o mundo. Veja! O Senhor disse “Toda autoridade no céu e na terra me foi dada”. Que tipo de embaixador negocia com uma nação conquistada nos termos dela? Não seria um traidor do rei? Não seria alguém em quem as pessoas iriam cuspir, espancar e chutar? Mas o cessacionista traiu o Rei Jesus e o seu edito, o evangelho.
O cessacionismo corrompe todo o sistema de verdade cristão, e todo o modo cristão de vida. Ele ataca tudo na fé cristã e não deixa nada incólume. É uma apostasia completa da fé cristã. É uma deserção total do evangelho de Jesus Cristo. O resultado é uma religião diferente da que a Escritura ensina.
— Vincent Cheung. Cessationism: A Systematic Apostasy. Disponível em Trace (2018), pp. 12–19.