Apropriando-se da Fé
F. F. Bosworth
Em sua Carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo diz, exatamente, como Deus opera milagres: Aquele [Deus], pois, que vos dá o Espírito [o Operador
de milagres] e que opera maravilhas entre vós o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? É o caso de Abraão, que creu em Deus (G1 3.5,6a). Moffatt traduz assim essa passagem: Quando Ele supre vocês com o Espírito e opera milagres entre vocês, é porque vocês fazem o que a Lei ordena, ou porque creem na mensagem do Evangelho? É como aconteceu com Abraão, que teve fé.
Nessa passagem, vemos que Deus opera milagres em nosso corpo, da mesma maneira que em nossa alma, ou seja, quando ouvimos a mensagem do Evangelho e cremos nela. De fato, a maneira de Ele operar é por meio do cumprimento de Suas promessas, onde quer que haja um coração cheio de fé. O Senhor diz: “Este foi o caso de Abraão”. Note bem: Abraão simplesmente creu na Palavra de Deus. Teve fé que Deus faria o que prometeu. E estava certíssimo ao basear-se somente na Palavra de Deus.
Manteve-se firme quando sua fé foi testada. Manteve-se totalmente fortalecido na Palavra do Todo-poderoso, no tocante àquela questão. Abraão recusou-se a abandonar a confiança no Altíssimo, mesmo quando Ele, ao ordenar que sacrificasse seu filho Isaque, removeu a base visível para sua fé.
Ele não enfraqueceu na fé, nem atentou para o seu próprio corpo já amortecido (pois era já de quase cem anos), nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara (Rm 4.19); não permitiu que esses fatos o fizessem duvidar de que teria um filho com Sara. Essas coisas, as quais, de acordo com as leis da natureza, tornavam impossível o nascimento de Isaque, não foram consideradas por Abraão como a mais leve razão para duvidar. Ele sabia sua idade e reconhecia a esterilidade de Sara. Pesou todas as dificuldades, no entanto, apesar de todas as impossibilidades, ele creu em Deus.
Sob circunstâncias totalmente desesperadoras, ao olhar para a promessa de Deus, Abraão foi fortificado na fé, estando absolutamente certo de que Deus cumpriria Sua promessa. Note bem, foi ao olhar para a promessa de Deus que Abraão se fortificou na fé. Semelhantemente, viverá todo […] que olhar para ela [para a promessa e cura de Deus] (Nm 21.8). Essa era a condição de Deus para que os israelitas que estavam morrendo fossem sarados. Quando buscar em Deus a cura, certifique-se de agir conforme o versículo acima, porque não há promessa de restauração exceto dessa forma.
À medida que fundamentamos a fé na melhora, somos afetados pelos sintomas, ou pelo que sentimos ou vemos. Se não colocamos nossa confiança apenas na Palavra de Deus, não chegamos à verdadeira fé. Concentrarmo-nos no que vemos ou sentimos é exatamente o oposto da condição que Deus estabelece para nós. E era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo (Nm 21.9b).
De acordo com o texto, simplesmente, todos aqueles que, como Abraão, ficam fortalecidos na promessa de Deus, a ponto de não serem mais afetados pelos sintomas, são restaurados. Isso quer dizer que a Palavra de Deus, e não o que vemos ou sentimos, será a base para a nossa fé. Olhar para a Promessa do Senhor é uma boa razão para buscar Sua misericórdia. Assim, não teremos tempo para deixar de olhar até que Deus retire Sua Palavra.
Observe que foi ao continuar olhando para a Promessa divina que Abraão experimentou o milagre. Concentrar-se nos sintomas e ser influenciado por eles, em vez de olhar para a Palavra, é questionar a veracidade das promessas de Deus.
Em lugar de insinuar que Deus era mentiroso, de dentro do peixe Jonas chamou as circunstâncias de vaidades vãs, as quais pareciam bloquear sua expectativa em relação à misericórdia divina. Reconhecendo que as situações eram adversas, e não Deus que mentia, Jonas disse: Os que observam as vaidades vãs deixam a sua própria misericórdia (Jn 2.8). O Senhor jamais retém Sua misericórdia, mas muitas pessoas a abandonam, observando as circunstâncias (as quais são vaidades vãs), quando afirmam que o Altíssimo não é abundante em benignidade para com todos os que te [Deus] invocam (SI 86.5).
A fé que Abraão possuía não se fundamentava em nada que ele pudesse ver; sua fé também deve ser assim. Tudo o que Abraão podia ver contrariava o que ele esperava. Depois do nascimento de Isaque, Abraão recebeu o fruto de sua fé, por meio da promessa de que nele todas as nações da Terra seriam abençoadas (Gn 12.3). Olhando para o seu filho, aquele por quem Deus iria cumprir o resto da promessa, era fácil crer. Assim, Deus provou a fé de Abraão, mandando-o oferecer-Lhe Isaque, destruindo, aparentemente, a possibilidade de cumprimento da promessa.
Entretanto, Abraão não se abalou. A verdadeira fé é aprovada em todos os desafios. Uma vez que confiava na Palavra de Deus, Abraão dispôs-se a remover todos os incentivos visíveis para sua expectativa, e ainda assim continuar certo do cumprimento das promessas do Altíssimo para a sua vida. Ele sacrificaria seu filho, caso Deus não o mandasse parar. Tal prova foi a maneira que Deus providenciou para aperfeiçoar a sua fé, e não para destruí-la.
Se você, depois de buscar a cura em Deus, sentir-se mais encorajado com sua melhora do que com a Palavra, o Senhor poderá achar necessário provar sua fé, com vistas a ensinar-lhe uma lição gloriosa de fé, ainda que todas as evidências físicas digam o contrário. A fé tem a ver somente com a Palavra de Deus.
Em Hebreus 10.35,36 e 3.14, Deus diz para todos aqueles cuja fé baseia-se nas Escrituras: Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. […] Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.
Adotando uma atitude totalmente contrária a essa, tenho ouvido pessoas afirmarem, depois de terem sido agidas e recebido oração: “Eu tinha certeza de que ia ser curada”. O que percebo é que elas não tinham entendido perfeitamente o que é fé. Elas imaginavam, primeiro, serem curadas para, depois, crerem que Deus lhes respondera a oração. Se a Palavra de Deus fosse a única razão da expectativa, ficariam firmes e confiantes.
Não é apropriado nem razoável lançarmos fora nossa confiança, enquanto temos a Palavra de Deus como base. Temos a promessa de que seremos participantes, somente sob a condição de mantermos firme a confiança (Hb 3.6).
No ínterim entre a promessa de Deus e o seu cumprimento, em vez de procurar sintomas e abrir mão da confiança por não ter nada visível para encorajá-lo, Abraão fez exatamente o oposto. Ele não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus (Rm 4.20).
Depois de clamar por misericórdia, no ventre do peixe, Jonas não abandonou a confiança por não ter nada palpável que lhe garantisse que sua oração fora ouvida. Manteve-se confiante e, além disso, acrescentou sacrifícios de ações de graças (Jn 2.9).
Depois de marchar ao redor dos muros de Jericó, Josué e os filhos de Israel não abandonaram a confiança porque os muros continuaram intactos; sua fé estava baseada na seguinte promessa de Deus: O SENHOR vos tem dado a cidade! (Js 6.16c). Se os filhos de Israel não abandonaram a confiança, por que você abandonaria?
Sua atitude mental deve ser a mesma de Noé, quando começou a construir a arca em terra seca, calafetando as frestas para a água não entrar. Em sua mente, o futuro dilúvio já estava determinado e a confiança na Palavra de Deus era a única razão que explica a sua atitude. Leitor, você deve ter em mente o mesmo que Abraão. Para ele, o nascimento de Isaque já estava consumado, apesar de todas as evidências contrárias. A Palavra de Deus concernente à sua cura é tão clara e explícita para você quanto foi para Abraão, no tocante à promessa que o Eterno lhe tinha feito.
Em Marcos 11.24, Jesus nos diz quais são, exatamente, as condições para apropriarmo-nos das bênçãos que Ele nos prometeu. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis. Isso quer dizer que você terá o que pediu, depois de crer que Deus ouviu a sua oração. Jesus orou: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido (Jo 11.41c), enquanto Lázaro ainda estava morto. Temos de ter condições de dizer: “Senhor, agradeço-Te porque me ouviste”, enquanto ainda estamos doentes. “Você terá” é a resposta de Jesus para você, e a prova de que sua oração foi ouvida.
Para a fé, a Palavra de Deus é a Voz de Deus. Ele nos prometeu que a nossa cura só se efetuará após crermos que nossa oração foi ouvida. Temos de ser capazes de afirmar: O Senhor me concedeu a minha petição (1 Sm 1.27b), não porque vimos a resposta, mas porque Fiel é o que vos chama, o qual também o fará (1 Ts 5.24).
Não é apropriado fundamentar a fé na melhora que alcançamos depois da oração. Já ouvi pessoas dizerem com satisfação: “Melhorei muito depois que oraram por mim; agora sei que vou ficar bom!” Isso significa que, em lugar da promessa de Deus, eles têm outras razões para esperar a cura. Não há melhor razão para termos fé do que a Palavra de Deus.
Suponhamos que, assim que eu orasse por um homem enfermo, ele soubesse que já estava 50% curado. Essa melhora significativa em seu estado de saúde não é motivo maior do que a promessa de Deus, para que ele saiba que será inteiramente curado, mesmo que depois da oração ele ainda continue 50% enfermo.
Suponhamos que você prometa algo a seu filho e, no dia seguinte, descubra que ele está esperando ganhar exatamente o que você prometeu; não por causa da promessa, mas porque ele tem outras razões para isso. Isso entristeceria você como pai, pois provaria que seu filho não confia em sua palavra.
Honramos a Deus, crendo nEle, mesmo quando os nossos sentidos contradizem Sua promessa. E Ele prometeu honrar aqueles que O honram. Deus prometeu responder somente à fé produzida por Sua Palavra. Alguns esperaram acreditar que foram ouvidos, assim que se sentem melhor. Deus não disse que enviou sentimentos melhores para produzir fé e, então, curar o povo: Ele enviou a sua palavra, e os sarou (SI 107.20a). O próprio Deus enviou Sua Palavra, nós não a arrancamos dEle. Por conseguinte, vemos que é um tremendo absurdo duvidar dEla. Não é mais racional esperar que Deus cumpra a Sua promessa do que Ele a quebre? Realmente, nada pode ser mais ridículo ou absurdo do que permitir que os sintomas ou sentimentos nos levem a duvidar do cumprimento da promessa de Deus.
Suponha que sua filha, depois de você ter-lhe prometido um novo vestido, machuque o tornozelo e deixe de acreditar que ganhará um vestido porque o tornozelo está doendo. Você diria: “Querida, eu lhe prometi o vestido novo. Você não acredita em minha palavra?” Ao que ela lhe responde: “Mas o meu tornozelo ainda está doendo. Não me sinto nem um pouco melhor; parece até que está piorando”. Seria um argumento absurdo. Se é um absurdo duvidar de uma promessa como essa, por causa da dor, então, é igualmente ridículo duvidar de qualquer promessa de Deus. Imagine que, após você ter prometido o vestido, sua filha corra ao espelho, para ver se está mais bem vestida e diga: “Não vejo diferença alguma; não estou mais bonita”, esquecendo-se, então, da ideia de ganhar um novo vestido.
Aprender a crer que Deus nos ouve quando oramos é uma bênção muito maior do que a cura em si, porque a oração da fé pode ser repetida milhares de vezes, para nós mesmos e em favor dos outros. Assim, toda a nossa vida é dedicada a obter o cumprimento das promessas divinas.
Desta forma, vemos como Abraão experimentou um milagre. Deus disse que seremos como aquele homem de fé. Portanto, todos nós receberemos o cumprimento das promessas de Deus: E fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé de Abraão, nosso pai, que tivera na incircuncisão (Rm 4.12).
— F. F. Bosworth. Cristo, Aquele Que Cura. 2ª ed. rev. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 2015, p. 131–138.