Alegorizações e Tergiversações, ou: Quando o Iluminismo Infecta as Aplicações

O Senhor Que Te Sara
4 min readFeb 13, 2023

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Observar um expositor cessacionista no seu habitat natural é uma experiência exótica muito instrutiva de como eles pensam. Ao longo dos anos, eles desenvolveram mecanismos de defesa fascinantes contra os textos que os forçariam a renunciar à sua incredulidade.

Preste atenção em como eles pregam os quatro evangelhos e o livro de Atos, que são os livros da Escritura cheios de operações de milagres. Eles conseguem passar uma hora explicando e aplicando os textos sem sequer se lembrar de falar sobre o milagre em si e sobre como ele é relevante para a nossa vida. Ou então, eles enchem os milagres de tantas qualificações e restrições que, no fim, não resta esperança nenhuma de algo para nós.

Sermões cessacionistas sobre os milagres de Jesus e dos apóstolos são bem previsíveis. Basicamente, eles têm três divisões: primeiro, e esse é opcional, eles insistem que o milagre aconteceu literalmente e criticam a teologia liberal que afirma que os milagres foram apenas mitos e que o que importa é a lição moral por trás. Segundo, eles gastam bastante tempo falando sobre todas as coisas que o texto não quer dizer, muitas das quais ele realmente diz. Por exemplo, se Jesus diz “a tua fé te curou”, eles então fazem rodeios e acrobacias semânticas para afirmar que não foi realmente por causa da fé que Jesus curou, e sim porque Jesus quis curar naquele caso específico. Nessa divisão, eles também poderão depreciar a busca das pessoas pelos milagres de Jesus comparando-as com os evangélicos modernos que só querem saber de bênçãos e de um “evangelho barato” — muito embora a Bíblia sempre apresente essa busca sob uma luz positiva. Se era tão errado, por que Jesus todas as vezes atendia ao que essas multidões queriam? Correr para Jesus em busca de milagres é algo louvável, maravilhoso.

E em terceiro lugar, depois de destruir qualquer esperança dos ouvintes em receber cura para si mesmos, o pregador irá mostrar o que o milagre realmente quer dizer, que é a sua versão alegorizada e espiritualizada. Se o texto é sobre Jesus curar um cego, a aplicação é que ele cura a cegueira do nosso coração para vermos a verdade de Deus. Se o texto é sobre Jesus curar um paralítico, a aplicação é que ele cura a nossa incapacidade espiritual e nos faz caminhar com Deus. Todas as curas físicas se transformam em curas espirituais. (Isso acontece não só com milagres de cura, mas com quaisquer milagres: quando Jesus acalma a tempestade no Mar da Galileia, a lição é que ele acalma o nosso coração quando enfrentamos as “tempestades” dos nossos problemas cotidianos. Isto é, ele nem sequer acalma os próprios problemas, mas só o nosso coração. E passa longe do imaginário dos expositores usar esse milagre — que Jesus disse que os discípulos poderiam ter feito se tivessem fé — para sustentar um avião caindo, um carro rolando morro abaixo, uma enchente vindo de uma barragem rompida…)

Agora, qual é a diferença entre essa abordagem e a abordagem da teologia liberal iluminista, que eles tanto criticam? Apenas que os cessacionistas fazem uma declaração formal de que o milagre aconteceu mesmo. Mas a aplicação para os nossos dias é idêntica: buscar milagres hoje é para ignorantes, e o que importa é a lição moral por trás, como fábulas.

A justificativa que eles dão para a sua hermenêutica é que ela é “histórico-redentiva” e “cristocêntrica”. Mas isso apenas prova que eles não sabem nem o que é a história escrita por Deus, nem o que a redenção significa na sua totalidade e nem quem é o Cristo que eles pensam colocar no centro. Eles não deixam a Bíblia definir esses termos, mas eles mesmos impõem restrições para que eles se encaixem naquilo que eles já queriam enxergar. A Bíblia promete uma era de milagres de curas sem precedentes com o advento do Messias — isso é história. A Bíblia diz que a cura milagrosa é uma conquista da expiação — isso é redenção. A Bíblia diz que os milagres de cura exaltam Jesus e que essa é a vontade dele para o seu povo — isso é ser cristocêntrico. Para eles, no entanto, você só pode pregar a mesma fração de Cristo em todos os textos, não importando quais outras frações de Cristo os textos revelem.

Como já disse antes, os cessacionistas pensam que precisam combater os neopentecostais em cada pregação de texto de milagre, e acabam com isso combatendo o próprio Deus. Se os carismáticos enfatizam muito os milagres ao ponto de negligenciarem o ensino teológico sobre o pecado e a salvação, fazer o exato oposto não ajuda em nada. Como Jesus disse aos mensageiros de João Batista, ele veio para curar os enfermos, curar os enfermos, curar os enfermos, curar os enfermos, curar os enfermos e pregar o evangelho. Não se pode reclamar de uma ênfase nos milagres. Também não se pode acusar os pregadores neopentecostais de oprimirem as pessoas ao dizerem “você não foi curado porque não teve fé suficiente” — foi Jesus quem disse isso.

Um pregador completo irá abordar esses textos sem preconceitos: quando Jesus curar um cego, ele dirá que Jesus cura a cegueira da nossa alma e também cura os cegos literais. Jesus é quem faz tudo. Todos aqueles que precisam de curas, em todos os sentidos, precisam buscá-las em Jesus.

— André de Mattos Duarte. O Senhor Que Te Sara: A exposição completa da doutrina da cura bíblica. Editora Bibliomundi, 2021, pp. 227–231.

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Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

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