A Vinda do Filho de Deus é a Última Revelação?

Os cessacionistas são implacáveis e ainda tentam encontrar pretextos para a sua teologia na ideia de que, uma vez que Jesus é a máxima e apoteótica revelação de Deus, então revelações adicionais seriam supérfluas. Um dos textos relevantes, e que aparece como texto-prova bem no primeiro parágrafo do primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster, é o início de Hebreus:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo (Hb 1.1–2).

Percebeu aí a prova do cessacionismo? Nem eu. Qual parte desse trecho fala sobre a cessação dos profetas e das muitas maneiras pelas quais Deus falou ao seu povo? O autor de Hebreus diz duas coisas distintas: que Deus falou aos nossos pais pelos profetas e de muitas maneiras, e que falou pelo Filho nestes últimos dias. Só isso. Uma coisa não substitui a outra. É impossível inferir cessação de qualquer coisa aí.

A intenção do autor de Hebreus ao concatenar essas duas frases não é mostrar que a revelação em Jesus substituiu as profecias e outras revelações, mas sim que a revelação em Jesus é superior às profecias e outras revelações. Assim como os cessacionistas passam do “desnecessário” para o “inexistente”, também passam do “inferior” ao “inexistente”. Eles gostam de aniquilar coisas, não é mesmo? Mas é claro que eles não podem ser consistentes com isso. Nesse mesmo capítulo de Hebreus, o autor prova que Jesus é superior aos anjos, mas isso não destrói a existência dos anjos. No capítulo 3, ele prova que Jesus é superior a Moisés, mas isso não destrói a alma de Moisés no céu e nem anula o que Moisés escreveu. Na verdade, Jesus é superior a tudo no universo; logo, pela lógica cessacionista, o universo inteiro cessou de existir após a entronização de Cristo, e nem eu estou aqui escrevendo e nem você está aqui lendo. O cessacionista então se suicida, ou então ele precisa se achar superior a Cristo, em cujo caso também comete suicídio. E eu aqui, fazendo papel de trouxa, tentando impedir o suicídio dos cessacionistas.

O uso que os cessacionistas fazem desse texto é insustentável por outras razões. Primeiro, porque, se a fala do Filho deu fim às novas revelações, então o ministério dos apóstolos e profetas em Atos nunca existiu. Também a inspiração do Novo Testamento, que é uma forma de revelação, também nunca existiu, de modo que nós nem sabemos o que foi que o Filho falou afinal. Mas os cessacionistas querem manter, de algum modo, a vinda de Jesus ainda deixou a que, vigência das novas revelações por algumas décadas, mas isso contradiz o que eles dizem que o texto diz. Se Deus nos falou pelo Filho e isso pôs fim aos outros modos de revelação, então pronto, não há nenhum período de carência previsto aqui. Os cessacionistas ainda poderiam insistir que o ministério apostólico e a escritura do Novo Testamento ainda eram o Filho falando por meio dos seus servos… e assim nós ganhamos de novo, porque nada impede que o Filho continue falando a nós por meio de visões, sonhos e profecias!

Mas a pá de cal no cessacionismo é a consideração do que foi que o Filho falou, afinal. Os cessacionistas já se perguntaram isso? Eles acham lindo o fato de que o Filho falou, mas… o que foi mesmo que ele falou? Ah, ele falou para pregarmos o evangelho, curarmos os enfermos e ressuscitarmos os mortos. Ele falou que aquele que crer nele irá expulsar demônios, pegar em serpentes, beber veneno impunemente, curar enfermos e falar em línguas. Ele falou que batizaria os cristãos no Espírito Santo, e que isso seria um revestimento do poder do alto, poder esse que foi manifestado em línguas, profecias, visões e sonhos. Ele falou que faríamos não apenas as mesmas obras que ele fez, mas obras ainda maiores. Ele falou que tudo o que pedíssemos em nome dele seria atendido. Ele falou que, se tivermos fé como um grão de mostarda, poderemos mover montanhas e plantar em alto mar. Os cessacionistas estão muito encrencados.

Entendeu agora? Jesus Cristo, que é a maior e suprema revelação de Deus, revelou que Deus outorgou o Espírito de revelações em sua plenitude sobre todo o povo de Deus. Ele é a revelação máxima, logo nunca mais aparecerá uma revelação de Deus que o contradiga ou que o suplante. Jesus não é a sombra de uma revelação ainda maior e mais substancial que faça cessar ou que torne obsoletas as palavras dele. Ele mesmo disse: céus e terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão. Se um cessacionista quiser alegar que certas coisas que Jesus disse não são mais aplicáveis, então ele precisa alegar que é maior do que Jesus. E ele obviamente não pode mais se apoiar no “falou a nós pelo Filho, falou a nós pelo Filho”, porque o Filho fala contra o cessacionismo.

— André de Mattos Duarte, excerto de O Espírito da Profecia: Uma defesa da continuação das novas revelações de Deus.