A Maioria Milagrosa
Vincent Cheung
A Bíblia diz que Jesus estava “cheio do Espírito Santo” (Lucas 4:1), e depois de vencer as tentações, ele voltou “no poder do Espírito” (4:14), anunciando que foi ungido para pregar e curar (4:18–21). Mais tarde, lemos que “todos procuravam tocar nele, porque dele saía poder que curava todos” (6:19; também Marcos 5:30). Como disse Pedro: “Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, e… ele andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo Diabo, porque Deus estava com ele” (Atos 10:38). Deus realizou “milagres, maravilhas e sinais” por intermédio dele (2:22).
Os Evangelhos testificam que Jesus batizaria seu povo com o Espírito Santo (Mateus 3:11, Marcos 1:8, Lucas 3:16, João 1:33). O que isto significa? Em Atos 1, Jesus chama esse batismo com o Espírito Santo de “a promessa de meu Pai” (v. 4). Ele disse: “Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo” (v. 5) e “receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês” (v. 8). Ele também se refere à “promessa de meu Pai” em outro lugar, e novamente ele diz que quando isso acontecesse, os discípulos seriam “revestidos do poder do alto” (Lucas 24:49).
O Espírito Santo veio sobre Jesus, e ele tinha o “poder” para pregar, curar e fazer milagres. Agora ele derramaria o Espírito Santo sobre os crentes, e eles receberiam o mesmo “poder” para pregar, curar e operar milagres. Não há outro significado para a plenitude ou batismo do Espírito Santo, e não há outro significado para este “poder” que dele resulta. O batismo do Espírito Santo não é para arrependimento, conversão ou justificação, mas para poder — poder para pregação, cura e milagres.
É assim que a Bíblia costuma falar sobre o poder de fazer milagres. Os cessacionistas muitas vezes afirmam que os dons de “sinais” cessaram, mas a Bíblia não distingue alguns dons como dons de “sinais”. A distinção foi inventada para separar algumas manifestações espirituais em sua própria categoria que são alvos.
De fato, a Bíblia raramente usa a linguagem de “dons” para falar sobre o poder miraculoso de Deus operando através dos homens. Paulo a usa em Romanos 12, 1 Coríntios 12 — 14 e Efésios 4. Em quase todas as outras instâncias — centenas delas — a Bíblia usa termos como “fé”, “graça”, “poder”, “o Espírito do Senhor”, “a mão do Senhor”, ou descreve o que aconteceu, como “Então o SENHOR disse a Abraão”, “A palavra do SENHOR veio a mim”, “O SENHOR ouviu o clamor de Elias, e a vida voltou ao menino, e ele viveu”, “A sua fé a curou”, “O Espírito do Senhor arrebatou Filipe repentinamente”, e assim por diante.
Falando comparativamente, a Bíblia quase nunca usa a linguagem de “dons” quando se refere ao poder miraculoso de Deus operando através dos homens. Impor a terminologia de “dons” em todo o debate, contrário ao padrão e proporção bíblicos, torna mais fácil empregar uma estratégia de “dividir para conquistar” contra o poder de Deus. Ele corta o que Deus nunca dividiu, de modo que o que é indesejável pode ser descartado sem parecer rejeitar a coisa toda. No entanto, a maneira como a Bíblia fala sobre o poder de Deus evita esse abuso. Quando isso é levado em conta, a questão não é se este ou aquele dom cessou, mas se Deus cessou, se o Espírito Santo cessou, se o poder cessou, se a graça cessou, se a oração cessou e se a fé cessou.
Jesus prometeu que o Espírito Santo viria sobre os discípulos, e eles receberiam um poder milagroso (Atos 1:4–8). Quando aconteceu no dia de Pentecostes (2:1–4), Pedro explicou que era o cumprimento da profecia de Joel: “Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão” (Atos 2:17–18). Assim, o Espírito Santo infunde poder aos crentes, não apenas para pregar e curar, mas também para receber visões e sonhos, e para profetizar.
Assim, isso também se torna o cumprimento do desejo de Moisés de que todo o povo de Deus se tornasse profeta: “Você está com ciúmes por mim? Quem dera todo o povo do SENHOR fosse profeta e que o SENHOR pusesse o seu Espírito sobre eles!” (Números 11:29). Isso não pode ser satisfeito por todo o povo de Deus ser salvo — eles sempre foram salvos pela fé na vinda de Cristo. Moisés desejou que eles se tornassem “profetas” — para ter os poderes de profecia, cura, milagres, como ele tinha.
Os cessacionistas têm ciúmes dos apóstolos? É por isso que eles querem tornar o poder de Deus exclusivo para eles? Mas eles estão trabalhando contra os apóstolos. Pedro disse: “Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (Atos 2:39). Ele se refere ao “dom do Espírito Santo” (v. 38), que, como demonstramos, envolve o poder de pregar, curar, receber visões, sonhos, profecias e realizar milagres.
A Bíblia diz que este batismo do Espírito Santo vem diretamente de Jesus — não dos apóstolos, e não através dos apóstolos. Jesus é o único batizador. Havia cerca de cento e vinte pessoas orando juntas no cenáculo (Atos 1:15). Eles receberam o Espírito Santo diretamente de Jesus e ao mesmo tempo. Cada pessoa recebeu independentemente dos outros e independentemente dos apóstolos. Os apóstolos não receberam primeiro o Espírito Santo e depois transmitiram a bênção ao restante do povo. Eles receberam ao mesmo tempo e da mesma forma que os outros.
Além disso, os apóstolos eram apenas dez por cento do grupo. Os noventa por cento não precisavam da ajuda ou permissão dos apóstolos para receber a promessa do Pai. Visto que Jesus é aquele que batiza diretamente com o Espírito Santo, e visto que o Espírito Santo concede poder para fazer milagres àqueles que o recebem, isso significa que, comparado ao número de apóstolos, havia nove vezes mais crentes que podiam exercer o poder de fazer milagres desde o primeiro dia em que Jesus derramou o Espírito Santo. Se os apóstolos nunca tivessem aparecido, eles ainda teriam recebido o poder, porque estavam recebendo de Jesus, não dos apóstolos.
A Bíblia nos liberta para olhar somente para Cristo, e não para os homens. Mas para muitas pessoas, a implicação é assustadora, até condenável. A doutrina cessacionista que exalta os apóstolos em supercrentes exclusivos a fim de fechar o poder de Deus para a primeira geração de fato os transforma em ídolos. Faz deles os mediadores que se colocaram entre Jesus e o seu povo, de modo que sem eles um não poderia alcançar o outro, ou pelo menos os crentes não poderiam receber Jesus em toda a sua plenitude. É uma realidade miserável que alguns daqueles que castigam com mais força a idolatria católica são também aqueles que a impõem com mais ciúme. Oh, que ironia da hipocrisia religiosa! “Embora a esta altura já devessem ser mestres, precisam de alguém que ensine a vocês novamente os princípios elementares da palavra de Deus” (Hebreus 5:12).
Assim, o que está em jogo não é apenas o lugar da cura e da profecia e coisas assim, mas o lugar de Jesus Cristo. Os homens batizam com água, mas Jesus batiza com o Espírito Santo. Os apóstolos estão mortos, mas os homens nunca precisaram deles para receber o Espírito Santo em primeiro lugar. Por outro lado, Jesus não está morto. Se os cessacionistas sugerirem que Jesus foi destituído como aquele que batiza com o Espírito Santo, então eles não podem ser cristãos, pois seriam o anticristo. No entanto, se Jesus ainda é quem sempre foi, então ele ainda batiza com o Espírito Santo, e o único batismo com o Espírito que a Bíblia conhece é aquele que resulta em poder para operar milagres.
— Vincent Cheung. The Miracle Majority. Disponível em Sermonettes — Volume 8 (2016), pp. 14–16. Tradução: Luan Tavares (01/04/2023).
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