A Cura e a Justificação pela Fé

O Senhor Que Te Sara
5 min readAug 9, 2023

--

Em Romanos 4 e em Gálatas 3 e 4, Paulo cita extensivamente Abraão para provar a doutrina da justificação pela fé. No argumento de Paulo, a circuncisão não poderia jamais ser a base para a nossa salvação, porque Abraão foi justificado pela fé antes que houvesse a circuncisão. Tiago complementa esse arrazoado lembrando que a fé de Abraão foi operante em obras, como ficou demonstrado quando ele se dispôs a oferecer Isaque em sacrifício.

Agora, essa fé foi em quê, exatamente? Foi fé em que a promessa sobrenatural de Deus se cumpriria:

Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí.), perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem. Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça. E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em conta, mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação (Rm 4.16–26).

Em outras palavras, foi necessário que Abraão cresse em algo totalmente sobrenatural, impossível pelos homens ou pela ciência. Desde que Deus prometeu a Adão e a Eva que um descendente viria para esmagar a cabeça de Satanás, qualquer família que ainda se lembrasse disso ficaria na expectativa de que seu filho poderia ser o Messias. Já Abraão e Sara não tinham qualquer esperança: Sara era estéril, e os dois já eram idosos. Mas Deus escolheu precisamente esse casal estéril para formar a partir deles todo um povo, incluindo especialmente o Messias prometido. Assim, conforme Paulo argumenta, todos aqueles que são da fé são filhos de Abraão, não apenas os descendentes naturais; assim como Isaque nasceu por milagre, e não por um processo naturalmente possível, todos os filhos verdadeiros de Abraão são “nascidos por milagre” nessa família, excluindo-se qualquer pretensão de direito natural que os judeus alardeavam. Pela fé, como disse Jesus, “Abraão viu o meu dia e alegrou-se”. Todo aquele que crer no Messias, como Abraão creu, torna-se filho de Abraão e recebe a salvação.

Agora, no trecho supracitado, Paulo enfatiza claramente não apenas a fé no Messias que nos salva, mas a fé no meio milagroso pelo qual o Messias viria. Certamente Abraão foi justificado pela obra de Cristo, que “ressuscitou por causa da nossa justificação”. Mas crer na ressurreição do Messias pressupunha crer que ele de fato viria, e viria por meio dele, Abraão, alguém cujo corpo estava “amortecido”. Para que o Messias viesse, era necessário que Abraão e Sara fossem curados da sua esterilidade e dos efeitos mortificantes da sua velhice. O objeto da fé arquetípica de Abraão envolvia necessariamente um milagre de cura física. Em outras palavras, Abraão foi justificado pela fé em um milagre de cura — sim, um milagre de cura que traria o Salvador Jesus Cristo, mas ainda assim um milagre de cura.

Foi justamente a recusa em crer nesse milagre de cura que levou Sara a insistir que Abraão gerasse um descendente natural com Hagar. Em nenhum momento nos é dito que Sara não creu no Messias, ou em que o Messias viria daquela família. Na verdade, o fato de que Sara, só após a promessa de Deus, resolveu ter essa ideia (por que não pensaram nisso antes?) demonstra que Sara acolheu totalmente a promessa da vinda do Messias, tanto que quis “forçar a barra” para que isso acontecesse por meios naturais. Sara recusou-se a crer especificamente no milagre da cura em seu próprio corpo. A consequência foi Ismael, um filho que não recebeu a continuidade da promessa (ainda que houvesse recebido muitas bênçãos), e que resultou em todas as brigas e problemas que a Bíblia relata com Isaque e com seus descendentes. Ismael, o descendente natural, serviu inclusive de imagem arquetípica dos judeus apóstatas no contraste alegórico que Paulo traça em Gálatas 4 entre os verdadeiros cristãos e os judeus perseguidores.

Agora, pare e pense que todo esse problema milenar com Ismael só aconteceu porque alguém creu na promessa de que Jesus seria o Salvador, mas não creu na promessa da cura física. Você acha que “separar o que Deus uniu”, isto é, a fé em Jesus como Salvador e a fé nas bênçãos físicas da redenção pode ser uma opção teológica sem consequências? Acha que você, sendo um cristão que conhece até mesmo a plena revelação do Novo Testamento, pode se dar ao luxo de crer em menos do que Abraão creu, tendo ele apenas algumas frases de Deus? Você diz “Mas é diferente! Deus fez de fato a promessa da cura física a Abraão, mas ele não prometeu isso a mim ou a todos os crentes!”. Errado. Se somos filhos de Abraão, somos herdeiros de todas as promessas que Deus fez a ele: o Messias Salvador, a herança da terra, a multiplicação de filhos e sim, a cura de doenças. Em Lucas 13.10–18, Jesus diz que uma “filha de Abraão” era intitulada a ser libertada da sua doença. Se você é filho de Abraão, você irá crer em tudo que ele creu e receber tudo que ele recebeu — e isso só para começar. Do contrário, você não é um verdadeiro filho de Abraão segundo a linhagem do milagre, e sim apenas segundo a linhagem carnal, como os judeus que mataram Jesus.

— Oliver Amorim

--

--

O Senhor Que Te Sara
O Senhor Que Te Sara

Written by O Senhor Que Te Sara

“Eu sou o SENHOR que te sara” (Êxodo 15:26). Despertando sua fé para o sobrenatural de Deus. Refutando o cessacionismo e outras doutrinas do incredulismo.

No responses yet